Novo relatório Porcos em Foco conclui que JBS, BRF e Pamplona lideram ranking entre 16 maiores empresas do setor, Frimesa se destaca com o maior número de compromissos assumidos no ano e Aurora retrocede dois pontos
A terceira edição do relatório “Porcos em Foco: Monitor da Indústria Suína Brasileira” divulgada pela ONG internacional Sinergia Animal traz uma análise das 16 maiores produtoras e processadoras de carne suína do Brasil e as suas políticas de bem-estar animal, avaliando o progresso do setor para acabar com práticas que causam sofrimento animal.
Ao todo, as empresas avaliadas representam cerca de 70% da produção nacional de carne suína. Oito empresas foram avaliadas pela primeira vez nesta edição, incluindo Marfrig, Minerva, Nutribras e Ecofrigo, ampliando a abrangência do monitoramento e reforçando o compromisso com a transparência na cadeia produtiva.

Países como Reino Unido e Noruega já proibiram completamente o uso de gaiolas de gestação Foto Sinergia Animal no Brasil
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Avanços
Cristina Diniz, diretora da Sinergia Animal no Brasil, destaca que entre os principais avanços, o relatório destaca a Frimesa como a que apresentou mais políticas de bem-estar animal neste ano, subindo da categoria F para C no ranking após comprometer-se a banir procedimentos dolorosos em leitões — corte e desbaste de dentes, corte de orelhas e castração cirúrgica.
A profissional salienta que o relatório revelou que a BRF, a Pamplona e a JBS seguem liderando o ranking com 15 pontos cada, mantendo-se na categoria B.
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Retrocesso
Já a Aurora, de acordo com o relatório Porcos em Foco, retrocedeu dois pontos e caiu da categoria D para a E. Na contramão de seus concorrentes, a empresa ainda não sinalizou a intenção de banir corte de orelhas e nem de adotar o sistema “cobre e solta” para novas unidades, ambas práticas já adotadas pela BRF e JBS.
“Apesar de ser a terceira maior produtora de carne suína do Brasil, a Aurora vem apresentando um desempenho muito abaixo das expectativas. É preocupante que uma empresa deste porte siga perpetuando práticas que causam sofrimento intenso e prolongado a milhares de animais, como o uso contínuo das gaiolas de gestação. A indústria suína brasileira tem a oportunidade de liderar pelo exemplo, adotando práticas alinhadas às expectativas globais de bem-estar animal”, aponta Cristina.

Políticas de bem-estar animal como o banimento procedimentos dolorosos em leitões são avanços apontados no relatório Porcos em Foco Foto Sinergia Animal no Brasil
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Sofrimento animal e riscos à saúde pública
A especialista ressalta ainda que a avaliação mostra que o corte de caudas e o uso indiscriminado de antimicrobianos também permanecem práticas comuns. “Ambos são exemplos de soluções paliativas que ignoram problemas estruturais, como o estresse causado pelo confinamento em alta densidade. Até 75% dos antibióticos vendidos globalmente são utilizados na pecuária, e no Brasil, o consumo é alarmante: a média de 358 mg/kg de suíno produzido é o dobro da média mundial”, sublinha.
Segundo a diretora da Sinergia Animal no Brasil, o uso de antibióticos em animais saudáveis está diretamente ligado ao aumento da resistência antimicrobiana — uma ameaça que pode causar até 10 milhões de mortes por ano no mundo até 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde.
“O setor precisa reconhecer que a resistência antimicrobiana não é apenas uma questão técnica, mas uma crise ética e de saúde pública. Políticas que restrinjam o uso de antibióticos a casos de real necessidade são um passo imprescindível para proteger não apenas os animais, mas também a sociedade”, afirma Cristina.
Para a diretora da Sinergia Animal Brasil, o relatório demonstra que a suinocultura brasileira ainda está atrasada em relação a padrões internacionais. Países como Reino Unido e Noruega, por exemplo, já proibiram completamente o uso de gaiolas de gestação. “Esperamos que os resultados desta edição do ‘Porcos em Foco’ inspirem o Brasil a implementar mudanças estruturais que alinhem o setor aos padrões internacionais de bem-estar animal e à demanda crescente por responsabilidade ética e sustentabilidade”, conclui.
O relatório completo está disponível em www.sinergiaanimalbrasil.org/porcos-em-foco
Fonte: Sinergia Animal no Brasil
Foto abertura: Divulgação – Sinergia Animal no Brasil