Com montanhas onde a temperatura pode chegar a 10°C, a Serra de Baturité, no interior do Ceará, guarda riquezas culturais ao longo de plantações de café cultivado à sombra de árvores da Mata Atlântica
Nem tão distante das praias cearenses, uma serra sinuosa se abre formando um verdadeiro cinturão verde com uma fauna e flora exuberantes.
É o Maciço de Baturité, localizado no sertão do Ceará, coberto pela Mata Atlântica, onde, acredite, o turista pode curtir até mesmo um friozinho e aproveitar o clima ameno para tomar um café especial.
Nos cafezais plantados embaixo da sombra das árvores, intituladas ingazeiras, os grãos são colhidos a mão e pó produzido artesanalmente pelos trabalhadores locais.
É nesse cenário interiorano que se desenham os caminhos da Rota Verde do Café, em uma área de proteção ambiental de mais de 32 mil hectares.
A área geográfica da Rota localiza-se dentro de uma Área de Preservação Ambiental (APA) da Serra de Baturité no estado do Ceará, contemplando os Municípios de Mulungu, Guaramiranga, Pacoti e Baturité e mantendo-se à uma distância média de 100km da Capital Fortaleza.
Com altitude de 865m acima do nível do mar, proporciona um clima sempre ameno, com temperatura média anual entre 14° à 25º.
A Serra, também chamada de Suíça Cearense, é de fato um lugar de muitos encantos que atrai com o verde de suas matas, a hospitalidade local, e os casarões seculares.
Cultura e café
Além do café, a economia local está assentada no setor de serviços, por meio do turismo e na produção de gêneros agrícolas tradicionais, como algodão, banana, arroz, cana-de-açúcar, além da pecuária em menor escala: bovinos, suínos e avícolas.
O destaque é Guaramiranga, um dos mais disputados destinos do carnaval cearense, pois oferece opção para aqueles que preferem ficar longe do forró e do axé, que normalmente são dominantes no litoral do estado.
Nesse período, a cidade abriga o Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga – evento que conta com a participação de grandes nomes da música nacional e internacional.
Nas noites frias da cidade, a música tranquila aquece uma multidão de admiradores, que lotam as ruas e hospedagens, muitas vezes improvisando barracas de acampamento e casas alugadas por moradores.
No mês de setembro, há o famoso Festival Nordestino de Teatro, com grandes atrações nacionais do cenário artístico.
Os prédios históricos e seu valor histórico são outra característica do município. A Pousada dos Capuchinhos, antes um mosteiro, é um dos principais pontos turísticos da cidade, mesmo para aqueles que não estejam lá hospedados. A beleza do antigo mosteiro se estende, ainda, por seus jardins repletos de roseiras e plantas nativas e pela capela.
As trilhas ecológicas são uma forte atração da região. Há, ainda, a Cachoeira do Perigo, localizada em Baturité.
Nas rotas turísticas de Guaramiranga há também o Pico Alto, local de maior altitude no Maciço de Baturité, com 1115 metros, e, consequentemente, de menores temperaturas, que podem chegar a 10°C em julho. Lá existe, ainda, um mirante onde os visitantes podem ver o pôr do sol.
A Rota Verde do Café
Na produção do café de sombra, os pés da planta são cultivados embaixo de outras árvores frondosas, como as ingazeiras, que protegem o café e fazem com que o sabor da bebida fique ainda mais gostoso.
A técnica mantém o cafezal protegido dos raios intensos do Sol, fazendo com que o solo permaneça rico em nutrientes, adubado com a própria palha do café e umedecido pelas folhas das árvores, principalmente das ingazeiras. Além disso, é uma maneira agroecológica de produção, consorciada à preservação da Mata Atlântica.
O café de sombra da região é intitulado “café arábica típica” e tem a tendência de ser mais suave e adocicado, sendo considerado um café especial e amplamente procurado por especialistas da área.
Para o turista, além do café centenário, a visitação acontece levando em conta uma imersão na história, na cultura e na gastronomia.
O turista vai adentrar o mundo do café de sombra, conhecendo as plantações, os casarões coloniais, degustando a delícia junto com outros sabores típicos da culinária das cidades, e vivenciar toda a riqueza que a serra do Ceará pode oferecer.
A Rota Verde do Café ainda poderá proporcionar ao turista uma trilha do café no Parque das Trilhas, onde é realizada uma caminhada em meio às belezas das árvores frondosas da Mata Atlântica.
Também é possível experimentar o Néctar dos Deuses (uma mistura de café de sombra com licores e hidromel com o mel da produção de abelhas nativas sem ferrão) no Sítio Areias, e finalizar o dia com um piquenique digno de uma imagem de cinema no terreiro da Estância Monte Horebe.
O “bom dia” para o turista também poderá contar com um delicioso café da manhã ao lado de dona Lindalva para apreciar a agro-arte Coió no Sítio Chapada do Coió.
A Rota abriga ainda um Café com História na cafeteria Empório Serrano, um passeio na Feira Agroecológica de Mulungu, e uma visita ao Sítio São Roque para adentrar um casarão colonial que narra a história do café e finaliza o passeio com uma mesa posta de café colonial.
O Sítio São Luis é outro destaque, e impressiona pela a arquitetura da casa principal. Em meio ao intenso verde da exuberante vegetação que cobre a Serra de Baturité, em Pacoti, encontra-se uma majestosa construção de imensas colunas brancas que se fecham em arcos simétricos, como uma fortaleza.
História do café na região
O café foi introduzido na Serra de Baturité a partir de 1822, por Antônio Pereira de Queiroz Sobrinho. Ele plantou umas sementes trazidas do Cariri no sítio Munguaípe, colhidas em cafeeiros de Pernambuco.
Dois anos depois, em 1824, Manoel Felippe Pereira Castello Branco (pai do coronel João Pereira Castello Branco, dono do Sítio São Luis, em Pacoti) trouxe umas sementes adquiridas no Pará, e plantou-as no “sítio Bagaço”, em Mulungu.
Durante mais de cem anos o café ocupou importante papel na história da economia cearense, mas a borracha, produzida pela maniçobeira (Manihot glaziovii, Mull.), também movimentou durante um curto e significativo período, não só a economia da Serra de Baturité, mas de todo o estado do Ceará.
As plantações de café na Serra, ao contrário do que acontecia nas regiões centro e sul do Brasil, não estavam só nas mãos dos ricos fazendeiros. Boa parte dos roçados pertencia a pequenos proprietários, parceiros ou agregados.
A maioria dos sítios foi assim formada a partir desses pequenos “roçados de café”, e muitos proprietários de terra adquiriram plantações extras de café numa escritura à parte.
Para escoar a produção cafeeira, foi construída a primeira estrada de ferro do Ceará. Inaugurada em 1882, ela saía de Fortaleza e seguia até Baturité.
Até então, todo o transporte de legumes, hortaliças, frutas, algodão e café da região, era feito em lombos de animais que seguiam em comboios para o Porto de Fortaleza.
Boa parte do café produzido na Serra era exportado principalmente para Portugal, França e Alemanha. Por esse motivo, Baturité chegou a sediar dois consulados, um da França e outro de Portugal.
Decadência e retomada
Depois de decorridos cinqüenta anos, a produção cafeeira da Serra começou a declinar. A terra cansada, o solo desnudo e íngreme, já não retinha os nutrientes necessários para manter os cafezais que foram aos poucos definhando enquanto toda a economia serrana perecia.
Nos roçados abandonados nascia em profusão uma nova planta, a maniçoba (Manihot glaziovii, Muell.Arg), uma euphorbiaceae, parente silvestre da mandioca, produtora de látex, também chamada maniçobeira, nativa das serras cearenses.
Os cafeicultores falidos buscavam alento na alvissareira ideia de produzir borracha natural a partir da nova planta que surgia abundantemente nas falhas dos roçados.
No entanto, desde 1876 milhares de mudas de seringueiras eram levadas da Amazônia para o sudeste da Ásia, onde se adaptaram muito bem e logo começaram a produzir um látex de excelente qualidade, muito superior ao que era produzido ali.
Desse modo, ainda no início do século XX, começou a decadência do breve “ciclo da borracha” na região. A concorrência era desigual com a borracha dos asiáticos, muito superior e mais barata.
E assim, quando já se julgava decretada a extinção da cultura cafeeira na Serra de Baturité, surgiu o remédio salvador da lavoura: a arborização dos cafezais pelas ingazeiras e pelo camunzé.
A sombra dessas árvores não só minimizava as intempéries do sol como cobria o solo com humosa camada de folhas decompostas, fertilizando e restituindo à terra desgastada e estéril a seiva necessária para reviver os velhos cafeeiros que renovaram e floriram.
Antigos roçados plantados no Sítio Guaramiranga em torno de 1849 foram replantados e arborizados em 1904, pelo Coronel Chichio, conforme explica uma de suas descendentes, Claudia Maria Mattos Brito de Goes, que disponibiliza essa e outras histórias da região no blog do Sítio São Luis, uma das atrações da Rota do Café Verde.
Sítio São Luis
Construída para romper os séculos e atravessar gerações, com sua arquitetura suave e imponente, a Casa do Sítio São Luís é herança visível dos tempos áureos do Café na Serra de Baturité.
Pela narrativa dos proprietários, histórias contextualizadas na tradição do cultivo do café, no Ceará e no Brasil, são reveladas aos visitantes enquanto percorrem os ambientes da Casa.
A cozinha do Sítio São Luís é uma atração à parte: o fogão à lenha, o tacho de cobre, as panelas de barro, a chaleira fumegante e o aroma de deliciosas e antigas receitas, do bolo de café, do pão, da ricota e das geleias, que são apreciadas no salão próximo aos arcos da varanda, ao som de boa música.
Ao café arábica colhido nas matas do próprio sítio foi dado o nome de Café Carmen, uma referência amorosa à matriarca e personagem mais longeva da Família.
Horário de Funcionamento: Sábados e domingos – 10h às 17h
Contato: sitiosaoluis@gmail.com / ww.facebook.com/sitiosaoluis
Site: http://sitiosaoluiseaserradebaturite.blogspot.com.br/
Endereço: Sítio São Luís, s/n – Zona Rural, Distrito Santana – Pacoti
Contatos para agendamento de visitas: 85 987290099 / 85 986169837 / 85 986810410
Museu Ferroviário de Baturité
Inaugurada em 1882, no Reinado de D. Pedro II, a Estação Ferroviária de Baturité representa a importância econômica da região por onde a produção agrícola, principalmente café, tinha seu destino garantido à capital Fortaleza.
O visitante terá a oportunidade de admirar a arquitetura do Prédio, conhecer imagens e relíquias das primeiras décadas do século XIX.
No pátio, vestígios de uma época áurea expressa nos trilhos centenários, na maria-fumaça e nas histórias de vida que em suas idas e vindas construíram às cidades do Maciço de Baturité.
Horário de Funcionamento: Segunda a sexta – 9h às 17h; Sábados, domingos e feriados – 9h às 14h
Endereço: Travessa Linha José Antônio – Baturité.
Mosteiro dos Jesuítas
O imponente complexo arquitetônico originado em 1927, conhecido como Mosteiro, abriga o antigo Seminário Menor do Coração de Jesus e a fazenda Caridade.
Visitar suas dependências circundadas pelo jardim interno se torna uma experiência única com paisagens da Serra de Baturité. Na Fazenda encontramos o Café de Sombra – colhido, torrado e moído, originando a marca Café do Mosteiro.
O Mosteiro dos Jesuítas combina história, religiosidade e preservação ambiental acompanhado de café local.
Horário de Funcionamento: Segunda a domingo e feriados – 8h às 12h/ 13h às 17h
Contato: (85) 33470362
Site: www.mosteirodosjesuitas.com.br
Endereço: Sítio Olho d’Água, s/n – Zona Rural –Baturité.
Sítio São Roque
Referência no cultivo do café arábica sombreado, propicia a seus visitantes o contato direto com todo o processo de beneficiamento do grão, desde o plantio até a torragem e degustação.
O ponto alto da visita é a prosa com Senhor Gerardo Farias, proprietário, que reside no Sítio há mais de 90 anos.
O visitante é recebido num ambiente familiar e convidado a ouvir histórias sobre as memórias de vidas e vasto conhecimento sobre o café sombreado cultivado no Maciço de Baturité.
No Sítio, é possível realizar trilhas ecológicas, conhecer a fábrica de café, o casarão, cujo cenário arquitetônico do século passado é plenamente mantido, cercado de jardins e pela singela Capela onde a família e a comunidade local costumam se reunir para comemorar os festejos religiosos.
Horário de Funcionamento: Sábados e feriados – 09h às 12h / 13h às 16h, Domingos – 09h às 12h/ 13h às 15h
Contatos para agendamento de visitas: (85)9.9414.0652, (85) 9.9658.0010, (85) 9.9671.8083 e (85) 9.9994.44.71 / sitiosaoroquece@gmail.com
Facebook: sitiosaoroqueoficial
Fazenda Floresta
Situada em Pernambuquinho, distrito de Guaramiranga, tem suas origens no Século XIX. Nela, seus atuais proprietários João e Eunice Carracas cultivam o Café de Sombra e abrem suas portas, num circuito guiado, aos processos de produção: banco de mudas, cafezal, beneficiamento do café – pilar, torrar e moer o café – que depois pode ser adquirido na lojinha de fábrica com a marca Ejóia.
A marca, ainda, abriga outros produtos processados artesanalmente na Fazenda como açúcar mascavo, rapadura, farinha de banana, banana-passa, cachaça de banana e licores. Fazenda Floresta prima pela sustentabilidade como a prática de aproveitamento de resíduos e confecção de embalagens ecológicas.
Horário de Funcionamento: Sábados – 8h às 17h, Domingos e feriados – 9h às 14h
Contato: (85) 3325.1337/ 98547.3856
Endereço: Sítio Floresta s/n, Pernambuquinho – Guaramiranga.