A erosão provocada pelo manejo incorreto dos solos é responsável por perdas na produtividade da superfície terrestre em todo o planeta que giram em torno de 23%, uma taxa elevada que impacta diretamente na economia, considerando que a degradação por meio das ações humanas representa uma queda de cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global por ano.
É o que mostra o relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistema (IPBES, sigla em inglês), vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no início de maio, durante a sétima sessão do plenário deste grupo internacional, realizada em Paris (França).
Resumidamente, o documento alerta: lugares com solo fértil em condições de plantio devem se tornar cada vez mais escassos em todo o planeta, se ações emergentes não forem tomadas. Ainda conforme a IPBES, nos dias atuais, aproximadamente 33% do solo e 75% da água doce do planeta são destinados à produção agrícola ou à pecuária. E a tendência é de que essa área seja ainda maior nos próximos anos, levando em conta o aumento da produção de alimentos em 300% desde 1970.
Para reduzir a erosão dos solos e assegurar o fornecimento de comida para os próximos anos, o relatório da ONU aponta como principal solução as estratégias de manejo sustentável da terra. O documento ainda mostra que, em média, os benefícios financeiros da conservação do solo são dez vezes superiores aos custos para a restauração da área.
“Os ganhos em curto prazo decorrentes do manejo insustentável da terra muitas vezes se transformam em perdas a longo prazo, fazendo com que o manejo para evitar a degradação do solo seja uma estratégia benéfica e econômica”, relata o engenheiro florestal André Ferretti, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Para auxiliar o produtor rural, o especialista dá dicas de técnicas agrícolas que são viáveis e baratas para quem precisa solucionar ou, pelo menos, amenizar as condições de solos degradados pela erosão ou evitar futuras erosões da terra pelo manejo incorreto dos solos.
Plantio Direto
Conforme o especialista, um exemplo de alternativa para o manejo sustentável do solo é o plantio direto, técnica realizada sem o preparo convencional da aração e da gradagem, que deixa o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais.
Ferretti explica que sua finalidade é proteger a terra do impacto direto das gotas de chuva, do escorrimento superficial e das erosões hídricas e eólica. “Na modalidade, o semeio e a adubação devem ocorrer em uma única operação.”
Manejo Integrado de Pragas
Outra opção, orienta o engenheiro florestal, é o Manejo Integrado de Pragas (MIP), técnica que tem como objetivo reduzir a população de pragas, com a mínima interferência possível no meio ambiente. “O procedimento é feito preferencialmente sem o uso de pesticidas químicos, permitindo que predadores naturais permaneçam na plantação, agindo no combate das pragas de forma natural e favorecendo o equilíbrio do ecossistema.”
Outra alternativa é introduzir “barreiras físicas, que dificultem a locomoção de insetos na plantação”.
Calagem
A acidificação do solo é um processo que pode ocorrer devido ao excesso de irrigação, uso contínuo de fertilizantes ou ainda pela erosão superficial, afetando a produtividade do solo.
“A aplicação de calcário (calagem) nas terras agricultáveis é uma forma de viabilizar seu uso, por corrigir a acidez, fertilizar o solo, além de aumentar o estoque de matéria orgânica”, informa Ferretri.
De acordo com ele, essa técnica é aliada à sustentabilidade por promover a reutilização de terras, tornando desnecessário o desmatamento de novas áreas para atender a demanda crescente de alimentos.
Para mais informações sobre os estudos do IBPES da ONU, acesse www.ipbes.net/news/Media-Release-Global-Assessment.