Em geral, a incidência de queimadas aumenta na maior parte do Brasil nos meses mais frios do ano
Depois de tantos dias usando agasalhos e cobertores para se proteger do frio, no Brasil, o inverno só começa no dia 21 de junho. As estações do ano têm início nos seus auges e vão se dissipando até atingir o pico da próxima estação. Porém, segundo o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Daniel Pereira Guimarães, que estuda os efeitos do clima na agricultura, este ano, o tempo está se comportando de modo diferente. “É como se começasse a festa de aniversário cantando os parabéns”, afirma Guimarães.
De acordo com o pesquisador, o eixo de rotação da Terra faz movimentos cíclicos durante sua trajetória em torno do sol, e a exposição em relação aos raios solares é que define a estação do ano. “Durante o inverno temos a menor incidência de raios solares em nossa região”, explica e acrescenta que, por outro lado, nos países da Europa e nos Estados Unidos, que ficam no Hemisfério Norte, está ocorrendo a estação do verão.
Guimarães informa que a chegada do inverno no Hemisfério Sul ocorrerá astronomicamente às 6h14 do dia 21 de junho, e a estação se estenderá até as 22h04 do dia 22 de setembro de 2022, com o início da primavera. De acordo com o pesquisador, o primeiro dia do inverno será o mais curto do ano em Sete Lagoas (onde fica a Embrapa Milho e Sorgo), com o nascer do sol às 6h30 e seu poente às 17h27.
“A duração do dia depende da localização geográfica considerada, sendo que, em Porto Alegre, também em Minas Gerais, que está mais ao sul do País, o dia só começará às 07h20. Enquanto isso, nos países do Hemisfério Norte, será o início do verão, com os dias muito longos, sendo que em Paris, na França, o sol brilhará no céu até as 22h00, ou seja, durante mais de 16 horas”, detalha.
Portanto, Guimarães garante que é verdadeira a história do sol da meia-noite, que ocorre nos países próximos às regiões polares, como Canadá, Rússia, Suécia, Finlândia e Noruega, onde por vários meses o sol está sempre presente no céu, durante as 24 horas do dia, no verão, e ocorre uma noite constante durante os meses de inverno.
O pesquisador esclarece que a determinação da data de mudança das estações está relacionada com os solstícios e os equinócios, que são fenômenos astronômicos relativos à posição do Sol em relação à Terra. “Durante os solstícios, a incidência dos raios solares em relação à linha do Equador está em inclinação máxima, sendo que o solstício de inverno ocorre quando temos as noites mais longas, e no solstício de verão ocorre a noite mais curta do ano”, comenta.
Já os equinócios, ocorrem quando os raios solares incidem sobre a linha do Equador e determinam o início da primavera e do outono. “Muitas construções pré-históricas demarcavam a posição do Sol para a elaboração dos calendários e definição das épocas de plantio no campo”, menciona.
E quanto ao frio?
Além da menor duração do brilho solar durante o inverno, os raios atingem a atmosfera em um ângulo oblíquo, reduzindo o aquecimento da superfície terrestre em relação às outras estações do ano. “Podemos então dizer que durante o inverno o sol é mais ‘fraco’ e que essas condições afetam o ciclo hidrológico, uma vez que a evaporação da água fica reduzida, resultando em uma menor formação de nuvens no céu”, ressalta e acrescenta que a ausência de nuvens reduz a proteção contra a perda de calor da Terra para o espaço, provocando as baixas temperaturas nas madrugadas.
O especialista afirma que a redução na evaporação das águas tem também o impacto na diminuição da umidade relativa do ar, o que aumenta a presença de poeira no solo e no ar e resseca as plantas. “A baixa umidade também contribui para as queimadas no campo e para o surgimento das doenças relacionadas ao aparelho respiratório. A condensação da água com partículas de poeira, fumaça das queimadas e com outros poluentes atmosféricos provoca o fenômeno da névoa seca que, apesar de contribuir para cenários maravilhosos durante o nascer e o pôr do sol, indica a tendência de perda da qualidade do ar que respiramos”, assinala.
Guimarães diz que essas condições prevalecem até a chegada da estação das chuvas, no início do mês de outubro e lembra que as estações do ano nos países de clima tropical não são bem definidas como ocorre nas regiões de clima temperado. “Durante o outono e nesse início de inverno muitas árvores estão floridas, como os ipês-rosas, a pata-de-vaca e as paineiras”, cita.
As previsões
Neste ano, as menores temperaturas registradas em Sete Lagoas ocorreram nos dias 19 e 20 de maio, sendo, respectivamente de 3,4 °C e 3,3 °C, e foram causadas pela formação de um ciclone subtropical, que ocasionou uma enorme massa de ar polar que atingiu grande parte do território brasileiro. No dia 13 de junho, foi registrada a menor umidade relativa do ar: 14%.
Segundo as previsões do modelo Global Forecast System (GFS do NOAA), os próximos 15 dias deverão ser de poucas variações nas temperaturas, que devem ir de 12 °C nas madrugadas até 27 °C no período da tarde. “O céu deve permanecer claro e sem nebulosidade e não há possibilidade de chuvas, com a umidade relativa do ar girando em torno de 25% no período da tarde, ou seja, condições de baixa umidade por um período prolongado”, comenta o pesquisador.
Guimarães acrescenta que essas condições atmosféricas são favoráveis ao incremento da incidência de raios ultravioleta (UV), à perda da qualidade do ar, em função do aumento de material particulado na atmosfera, e às maiores concentrações de monóxido e dióxido de carbono, metano, dióxido de nitrogênio, formaldeídos e metano. “Está na hora de começar a dispensar mais cuidados com a pele e evitar a exposição aos raios solares nos períodos mais críticos”, orienta.