Camila Almeida conquista cinco medalhas no concurso mais importante do mundo, na França
Um dos melhores queijos artesanais do mundo, produzido em Caçapava, no interior de São Paulo, feito pelas mãos de uma baiana, de Vitória da Conquista, ganhou cinco medalhas na 5ª edição do Mondial du Fromage et des Produits Laitiers, principal evento do mundo dos queijos, ocorrido em setembro, em Tours, na França.
Camila Almeida, mestranda em Ciências e Técnicas de Leite e Derivados, que acumula medalhas em concursos nacionais, colocou o Brasil em posição de destaque internacional no quersito queijo de qualidade. Além de duas medalhas de ouro e uma de bronze com seus queijos, ela recebeu duas medalhas de prata com o trabalho de maturadora, com técnicas adquiridas na maior escola de afinação (maturação) francesa, onde se especializou.
O primeiro ouro foi conferido a Primavera Silvania, um queijo de massa prensada, não cozida, que leva óleo de lavanda no preparo e é envolto em flores comestíveis durante o processo de maturação. O outro ouro foi dado ao Serrinha Lavado na Cerveja Silvania, um queijo de massa prensada, também não cozido, com 40 dias de maturação, sendo que a partir do 15º inicia-se o processo de banhar o queijo na cerveja artesanal de macadâmia. Os critérios de julgamento foram sabor, textura e aparência.
Segundo Camila, são queijos para quem aprecia a produção artesanal, um segmento que está ganhando cada vez mais adeptos. “E não podemos dissociar essa produção do melhoramento genético. Nossa família trabalha com isso há 60 anos, mas há pouco tempo o mundo do queijo começou a atentar para essa necessidade”, diz Camila, que é criadora de Gir Leiteiro.
Leite A2
Ela conta que ao iniciar as pesquisas para produção de queijo buscou consultoria sobre genotipagem e DNA dos animais, para identificar as melhores probabilidades de produção. Em 2008, começou a produção de queijo 100% beta-caseína A2, o que mais tarde lhe renderia o convite para fazer palestras sobre o tema na maior feira láctea do mundo, realizada na França, onde também realizou estágio em uma fazenda queijeira e afinadora.
Com um rebanho de 280 cabeças de gado Gir, Camila e o esposo Eduardo Falcão produzem 600 litros de leite por dia, o que rende 60 quilos de queijo artesanal. São queijos livre de beta-caseína A1, ou seja, que podem ser consumidos por alérgicos a esta enzima.
“Inicialmente, vendíamos para uma cooperativa, mas achamos injusto trabalhar com qualidade e terceirizar o processo. Então, em 2008, iniciamos a fabricação própria, com a produção de queijo coalho. Em 2014, passamos a produzir queijos frescos e, em 2016, ao voltar da França, comecei a aplicar as técnicas de maturação aprendidas no país europeu”, relata.
Consumo
Os queijos são consumidos em vários estados brasileiros. São comercializados pela internet, em alguns empórios parceiros ou diretamente na Fazenda Estância Silvania, da família, que também é a primeira propriedade do Brasil certificada para Bem Estar Animal e Leite A2A2, critério em termos de boas práticas, melhoramento genético e produção de queijo.
Para Camila, os prêmios são o reconhecimento de um trabalho árduo, mas tão importante quanto eles são as certificações dos Estados. “O Brasil tem muito potencial, mas os governos não entendem que o pequeno produtor não tem condições de cumprir tantas exigências. É preciso flexibilizar e dar mais abertura”, argumenta. “O produtor precisa de mais apoio técnico e de política inclusiva para produzir artesanalmente de forma legal e sanitária.”
Desde 2008 morando em São Paulo, Camila não esquece as raízes. “Minha avó é produtora de leite e levava a gente para roça, para minha mãe poder trabalhar. Estudei zootecnia, na Uesb de Itapetinga (BA), e trabalhei na loja agropecuária da minha família”, conta. “Sempre tive vínculo com o setor agropecuário, que é um gerador de oportunidades e merece um olhar mais atencioso das autoridades, para viabilizar a atividade para os pequenos.”