Diretor-Geral da FAO, QU Dongyu (na imagem) discursa em reunião dos Ministros das Relações Exteriores do G20 na África do Sul ( Foto: FAO/Michael Tewelde)
A segurança alimentar está diretamente ligada à paz, estabilidade e dignidade humana, afirmou o Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), QU Dongyu, durante um encontro dos Ministros das Relações Exteriores do G20 em Joanesburgo, África do Sul, onde discutiram a situação geopolítica global. O país sediará o encontro de líderes mundiais do G20 neste ano.
Segundo os dados mais recentes da ONU, 733 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam fome crônica, 2,3 bilhões estão em situação de insegurança alimentar e 2,8 bilhões não têm acesso a dietas saudáveis.
Conflitos, falhas políticas e eventos climáticos extremos representam sérias ameaças à segurança alimentar, podendo aprofundar ainda mais as desigualdades globais.
Conflitos e insegurança alimentar
Os conflitos continuam sendo uma das maiores ameaças à segurança alimentar, do Sahel e Haiti até a Ucrânia e Gaza. A negligência contínua dos sistemas agroalimentares em regiões vulneráveis à instabilidade acelera o colapso econômico e intensifica os conflitos.
Nos casos do Chade, República Democrática do Congo, Mali, Níger, Nigéria e Sudão, por exemplo, a degradação dos sistemas agroalimentares – agravada por falhas políticas – tem aumentado as tensões entre agricultores e pastores que disputam recursos escassos.
Crise climática e impacto na agricultura
Além dos conflitos e das falhas políticas, eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos agravam os desafios. O aumento das temperaturas e os eventos climáticos severos afetam a produção de alimentos, ampliam os riscos para os agricultores, influenciam padrões de doenças e aceleram a migração – fatores que prejudicam os esforços para erradicar a fome até 2030.
“Esses desafios ameaçam nossa capacidade de garantir sistemas agroalimentares estáveis e podem aprofundar as desigualdades globais”, alertou Qu.
O Diretor-Geral destacou que enfrentar essas desigualdades é essencial, pois muitas fragilidades nos sistemas agroalimentares decorrem da desigualdade no acesso à inovação, tecnologia, recursos naturais e dietas saudáveis.
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O papel do comércio internacional na segurança alimentar
Diante de tantos riscos e incertezas, o comércio internacional desempenha um papel fundamental na segurança alimentar global, garantindo que os alimentos circulem de regiões com excedentes para aquelas com déficits.
Por isso, o Sistema de Informação sobre Mercados Agrícolas (AMIS) – uma iniciativa do G20 hospedada pela FAO desde 2011 – tem um papel crucial na transparência de mercado e coordenação de políticas, afirmou Qu.
Segurança alimentar: uma questão de dignidade humana
Os sistemas agroalimentares sustentam recursos naturais, meios de subsistência e desenvolvimento econômico, empregando mais de 1,2 bilhão de pessoas e beneficiando 3,8 bilhões de pessoas globalmente.
“A segurança alimentar não é apenas uma questão de política – é uma questão de paz, estabilidade e dignidade humana”, enfatizou Qu.
Por isso, ele fez um apelo: “Precisamos agir agora para garantir compromisso político e os investimentos necessários para proporcionar alimentos nutritivos e saudáveis para todos.”