Encontro com representantes da agricultura de países da América Latina resulta em acordo para resiliência das comunidades rurais, e destaca preocupação com medidas restritivas de comércio impostas pela União Europeia. Na foto, o diretor geral do IICA, Manuel Otero, junto ao Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Carlos Fávaro. (Foto: IICA)
Em uma iniciativa que promete impactar diretamente a vida de milhões de agricultores familiares na América Latina e no Caribe, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) formalizaram um novo acordo de cooperação durante a Reunião de Ministros da Agricultura do G20, realizada este mês no Brasil.
O memorando de entendimento entre as duas instituições busca intensificar esforços para combater a pobreza rural e fortalecer a segurança alimentar na região e faz parte dos esforços de diferentes países para avançar em agendas importantes da agricultura durante o G20, que reúne líderes mundiais no Rio de Janeiro, em novembro.
A parceria, firmada por Álvaro Lario, presidente do FIDA, e Manuel Otero, diretor-geral do IICA, tem como foco a promoção de investimentos, a digitalização da agricultura e o fortalecimento das cadeias de valor.
O acordo é visto como um passo decisivo para garantir a resiliência das comunidades rurais, principalmente em um cenário de crescente insegurança alimentar e mudanças climáticas.
Segurança alimentar como prioridade
Em sua declaração, Lario pontuou o impacto do acordo para o desenvolvimento rural sustentável.
“Temos orgulho de levar a parceria entre o FIDA e o IICA para um novo patamar, com a assinatura deste memorando de entendimento. Só é possível construir comunidades rurais resilientes investindo em práticas agrícolas sustentáveis e em mercados que sejam justos para todos os agricultores, especialmente para os pequenos produtores que abastecem de alimentos a maior parte do mundo” afirmou o presidente do FIDA.
Manuel Otero complementou a fala de Lario, ressaltando a importância estratégica dos agricultores familiares para a segurança alimentar na América Latina.
“Na América Latina e no Caribe temos 17 milhões de agricultores familiares, os quais são a coluna vertebral da nossa segurança alimentar, pois fornecem 60% do que comemos diariamente. Precisamos concentrar os esforços em ajudá-los, ” disse o diretor-geral do IICA.
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Importância da biotecnologia e o comércio internacional
Além do memorando entre o FIDA e o IICA, os Ministros de Agricultura dos países membros do Conselho Agropecuário do Sul (CAS) também se reuniram durante o evento.
A principal pauta discutida foi a necessidade de que decisões sobre o comércio internacional estejam baseadas na ciência. Em particular, foi destacada a relevância da biotecnologia para enfrentar os desafios da segurança alimentar global.
“Biofortificação e nutrição, biologia sintética, agricultura digital, biocombustíveis, biotecnologia, edição genética e saúde dos solos marcam o caminho para a eficiência, a sustentabilidade, a restauração, a descarbonização e o aproveitamento da biodiversidade”, disse o Diretor Geral do IICA, indicando que “o futuro não é aleatório e depende de nós”.
Outro ponto central da discussão foi a preocupação com as medidas restritivas de comércio impostas pela União Europeia, como o Regulamento 1115/2023, que estabelece novos requisitos para a entrada de produtos agropecuários. Carlos Fávaro, ministro da Agricultura do Brasil, criticou a possibilidade de uma implementação unilateral do regulamento.
“A mudança climática é uma preocupação de todos. E queremos que a discussão de medidas ambientais que impactem o comércio sejam tomadas com a participação de todos os países; rejeitamos as medidas unilaterais que desconhecem as legislações regionais,” afirmou Fávaro.
Durante a reunião, Fernando Mattos, ministro da Agricultura do Uruguai e presidente pro tempore do CAS, também ressaltou os riscos da legislação europeia aplicada à realidade dos países da América do Sul.
“Esta legislação da União Europeia é um desafio para nossa região. E estabelecer o antecedente da introdução do fator ambiental no comércio agrícola é complexo. Não só devemos questionar a forma em que esta decisão é tomada, mas também devemos questionar o fundo. Se esta legislação prospera, teremos enormes dificuldades no comércio porque o protecionismo avança no mundo todo”, disse o Ministro Mattos.