O enchimento de grãos é a fase do cultivo de soja com maior atividade fotossintética, considerando todo seu ciclo de desenvolvimento. Seu início ocorre no estádio R5, que se caracteriza pela presença de uma vagem com, pelo menos, um grão de três milímetros de comprimento, em um dos quatro nós superiores da haste principal da planta, com folha completamente desenvolvida – e perdura até o R6, estádio de granação plena.
É o que explica o engenheiro agrônomo Rafael Pieroni Catojo, supervisor de Desenvolvimento técnico de mercado na Fast Agro no Matopiba, região que abrange alguns municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
“No início de R5, o desenvolvimento reprodutivo apresenta alguns eventos ocorrendo simultaneamente, como flores se abrindo, vagens em formação e vagens contendo grãos”, informa o especialista da Fast Agro, empresa especializada no desenvolvimento de soluções para fisiologia das plantas.
Entre os estádios R5 e R6, segundo relata Catojo, a planta atinge sua máxima altura e crescimento vegetativo: “A taxa de FBN (Fixação Biológica de Nitrogênio) atinge o auge e depois declina rapidamente e os grãos iniciam um período de rápido acúmulo de matéria seca e nutrientes, que são translocados dos órgãos de reserva, como folhas, hastes e ramos”.
Definição de componentes
O especialista continua explicando que, nessa fase do ciclo da soja, portanto, “alguns componentes de produtividade estão sendo definidos como, por exemplo, o número de grãos por área, uma vez que ainda pode-se ocorrer abortamento de estruturas, e o PMG (Peso de Mil Grãos), que é uma característica determinada geneticamente, mas é constantemente influenciada pelas condições ambientais e de manejo”.
O estádio de enchimento de grãos é um dos mais sensíveis em relação ao déficit hídrico. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no período entre o florescimento (R1) e o completo enchimento de grãos (R6), que dura de 30 a 60 dias, dependendo da variedade, a necessidade de água diária das plantas de soja é de sete a oito milímetros por dia.
Déficits hídricos
“Déficits hídricos expressivos, nesse período, provocam alterações fisiológicas na planta, como o fechamento estomático e o enrolamento de folhas e, como consequência, causam a queda prematura de estruturas reprodutivas, resultando, por fim, em redução do rendimento de grãos”, conta o engenheiro agrônomo.
De acordo com ele, outro sintoma que pode ocorrer é o chochamento de grãos, quando eles até são formados nas vagens, mas devido à falta de água, não recebem suprimentos necessários para seu enchimento.
Falta ou excesso de luz
Além do estresse hídrico, diz Catojo, “problemas causados por falta ou excesso de luz, temperatura, deficiências nutricionais, doenças e acamamento, ocorrendo entre R4 a R6, são muito mais prejudiciais à produção do que a ocorrência deles em qualquer outro estádio de desenvolvimento”.
“Isso ocorre porque a planta não apresenta mais tempo hábil para compensar algum dano. Dessa forma, para garantir um bom período de enchimento de grãos, é preciso fazer um manejo sanitário adequado durante todo o desenvolvimento da lavoura, atentando-se ao controle de plantas daninhas, às DFCs (Doenças de Final de Ciclo) e demais doenças e pragas.”
Manejo nutricional equilibrado
Conforme o especialista, também é essencial que se tenha um manejo nutricional equilibrado, inclusive no período em questão, quando a disponibilização de alguns nutrientes contribui, significativamente, para melhorar o processo de produção e translocação dos fotoassimilados, além de apresentar grande importância no metabolismo de defesa das plantas em situações de estresse.
“O fornecimento de alguns aminoácidos e substâncias osmorreguladoras vão contribuir no aspecto fisiológico, aumentando a eficiência do enchimento de grãos.”
Dentre os nutrientes fundamentais nesse estádio de desenvolvimento estão o nitrogênio, potássio, boro e magnésio.
Ação dos nutrientes
Ainda cita o engenheiro agrônomo que “a FBN tem seu auge e começa a declinar rapidamente em R5 e R6, portanto, o fornecimento via foliar de nitrogênio vai contribuir com o suprimento necessário para a planta, uma vez que é um nutriente fundamental na composição de proteínas”.
“O potássio, além de participar do controle de abertura e fechamento estomático, influenciando, portanto, na fotossíntese, é responsável pelo fornecimento de ATP (Adenosina Trifosfato) para a translocação de fotoassimilados, uma vez que esse processo demanda energia.”
Conforme a Embrapa, ATP é um nucleotídeo que tem como responsabilidade armazenar energia em suas ligações químicas. É constituído por adenosina, um nucleosídeo, associado a três radicais fosfato conectados em cadeia. A Adenosina Trifosfato, portanto, é uma molécula indispensável no sentido de garantir a liberação de energia para as células dos seres vivos.
O boro, por sua vez, participa diretamente do transporte de açúcares, eliminando caloses que obstruem o floema, além de apresentar função estrutural (parede celular). “Portanto, é essencial no processo de enchimento de grãos. Esse nutriente também apresenta função de amenizar os estresses, pois seu fornecimento adequado reduz a produção de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs), que causam danos às plantas”, ressalta Catojo.
Já o magnésio compõe a molécula de clorofila, sendo indispensável para a fotossíntese. “Além disso, é essencial para minimizar os efeitos adversos dos estresses, causados por EROs formadas em situações adversas e, ainda, tem participação direta no carregamento do floema e translocação dos fotoassimilados.”