Com tecnologia moderna, a agropecuária brasileira alimenta, hoje, mais de 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo, o que equivale a um Brasil e uma China juntos. Em pouco mais de dez anos, a população mundial chegará a 8,5 bilhões de pessoas. É o que destaca o pesquisador Celso Moretti, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro.
“O processo de urbanização se acelerará. A melhoria de renda, associada ao aumento da longevidade e mudanças nos padrões de consumo, produzirá crescimento na demanda por alimentos (35%), energia (40%) e água (50%)”, diz o executivo.
Em sua opinião, nem todos os países conseguirão enfrentar os desafios sociais, ambientais e geopolíticos impostos por essas mudanças.
“Disputas localizadas e migrações crônicas e em massa ocorrerão em busca de segurança alimentar. Ainda hoje, o flagelo da fome atinge mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo”, diz o pesquisador e engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Produção Vegetal e especialista em Engenharia de Produção com ênfase em Gestão Empresarial.
Mais do que produzir em quantidade e com qualidade, na visão de Moretti, “o grande desafio está na distribuição e na redução do desperdício, que pode chegar a 20% na produção de grãos e a estratosféricos 50% na produção de frutas e hortaliças”.
Tecnologias de produção
“Apenas alguns países, nas últimas décadas, desenvolveram tecnologia de produção agropecuária e estão preparados para enfrentar tais desafios. Eles podem alimentar sua população e a de outros países. É o caso do Brasil, exemplo único no cinturão tropical do globo”, salienta o presidente da Embrapa, em artigo enviado à imprensa.
Em pouco menos de cinco décadas, ressalta o pesquisador, o Brasil deixou de ser um importador líquido para se tornar um dos maiores produtores de alimentos, fibras e bioenergia do mundo.
“A agropecuária brasileira produz excedentes e exporta para mais de 180 países. O agronegócio responde por quase 25% do PIB nacional, emprega um terço da população ativa e é responsável por quase metade de tudo que é exportado. E faz isso de forma sustentável.”
Moretti defende o Brasil afirmando que o País protege, preserva e conserva 66,3% de sua vegetação e florestas nativas. “Mais de um quarto do território brasileiro está dedicado à preservação da vegetação nativa dentro das propriedades rurais.”
“Na semana em que celebramos o Dia Mundial da Alimentação é importante reafirmar, com base em dados robustos, que o Brasil produz alimentos e preserva o meio ambiente como poucos países ao redor do globo.”
Conforme o presidente da Embrapa, o Brasil só chegou a essa situação porque investiu, de forma consistente e contínua, em ciência, tecnologia e inovação agropecuária nas últimas décadas.
“Graças à tecnologia, incorporou à matriz produtiva brasileira 45% dos 200 milhões de hectares de cerrados, área inóspita e desacreditada até a década de 70. Em 2019, os cerrados produziram mais de 50% dos grãos e da cana-de-açúcar do Brasil.”
Papel da Embrapa
Com tecnologia, a tropicalização do gado europeu e indiano fez do Brasil um grande produtor de leite e o maior exportador de carne bovina.
“Com tecnologia, soja, pastagens e, mais recentemente, o trigo foram tropicalizados e colocaram o País na posição de um dos maiores produtores de commodities do mundo”, diz Moretti.
De acordo com o presidente da estatal, a Embrapa e seus parceiros do setor público e privado tiveram responsabilidade decisiva nesse processo.
“Tecnologias foram e são geradas, transferidas e adotadas pelo setor produtivo. Em 2018, quase 50% da área agrícola e pecuária do País adotava pelo menos uma tecnologia da Embrapa e seus parceiros. Não é pouco. Esses números demonstram, de forma inequívoca, a conexão da pesquisa com o mundo rural.”
Segundo Morreti, a pesquisa pública contribui para que o agro seja uma potência, um dos setores mais competitivos da economia, colocando alimentos baratos na mesa do brasileiro.
Bancos genéticos
“É estratégica para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Nos bancos genéticos da Embrapa, por exemplo, estão armazenados o futuro da segurança alimentar das novas gerações de brasileiros.”
Ela acrescenta que “é lá que estão conservados genes ou microrganismos para enfrentar as mais de 400 pragas e doenças que batem à porta do País, querendo entrar pelos portos, aeroportos e fronteira seca”.
“Manter esse banco genético e a expertise em utilizá-lo sob controle do Estado brasileiro é questão de segurança nacional.”
Acordos comerciais
Moretti também afirma que a demanda por alimentos crescerá nas próximas décadas. “Acordos comerciais, como o que está em negociação entre o Mercosul e a União Europeia, e que contou com grande protagonismo da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, possibilitarão que os alimentos produzidos no Brasil contribuam para a segurança alimentar de um número crescente de pessoas em todo o mundo.”
Para o presidente da Embrapa, a pesquisa agropecuária continuará a ter um papel central para liderança e competividade do País na produção de alimentos.
“Seguir investindo em pesquisa e desenvolvimento agropecuário garantirá, não somente ao Brasil, mas também a vários outros povos ao redor do globo, a manutenção da segurança alimentar e da paz.”
Fome no mundo
Após décadas de declínio constante, a tendência da fome no mundo, que é medida pela prevalência da desnutrição, foi revertida em 2015. Nos últimos três anos, as taxas permaneceram praticamente inalteradas em um nível ligeiramente abaixo de 11%.
O número de pessoas atingidas pela fome, no entanto, aumentou lentamente. De acordo com a Organização das Nações Unidas, como resultado, mais de 820 milhões de pessoas no mundo ainda passavam fome em 2018, ressaltando o imenso desafio de atingir a meta do Fome Zero até 2030.
Os dados constam no relatório o Estado da Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo em 2019, lançado em julho deste ano, por cinco agências da organização internacional.
Falando à ONU News de Roma (Itália), Anne Kepple, especialista em segurança alimentar e nutrição da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), explicou que, em 2019, o relatório também introduziu um segundo indicador para fazer o monitoramento da fome e o acesso aos alimentos no contexto da agência 2030.
“Esse indicador analisa a prevalência da insegurança alimentar moderada ou grave, baseada na escala de experiência de insegurança alimentar.”
Esse indicador, segundo Anne, “vai além da fome, e fornece uma estimativa do número de pessoas sem acesso estável a alimentos nutritivos e suficientes durante todo o ano”.
“Quando consideramos o número de pessoas com insegurança alimentar severa, ou seja, as pessoas que passam fome, junto com as pessoas com insegurança alimentar moderada, a FAO estima que o número chegue a 2 bilhões de pessoas no mundo.”
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A data
Celebrado em 16 de outubro, o Dia Mundial da Alimentação Saudável foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1981. A data também remete à criação da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Um dos braços da ONU foi implantando com o objetivo de liderar os esforços internacionais para acabar com a fome no planeta e ainda garantir a segurança alimentar, uma alimentação saudável e de qualidade para todos os povos.