Com o menor estoque de arábica certificado dos últimos 22 anos, contrato maio do arábica operava por volta de 2,54 dólares por libra-peso
Dia 9 de fevereiro, os contratos futuros do café arábica alcançaram o maior nível de preços em uma década na Bolsa de Nova York (ICE Future US), operando a cerca 3,7%, ou 9 centavos, a US$ 2,585 por libra-peso, para maio. Os fundamentos do cenário são creditados à redução de estoques e aos problemas climáticos do Brasil, que resultaram em menor disponibilidade do produto, por conta de um ano de baixa no ciclo e dos efeitos da seca e das geadas em 2021 sobre os cafezais.
No dia anterior, os estoques de arábica certificados da ICE chegaram a 1,06 milhão de sacas, o menor nível em da ICE nos últimos 22 anos, registrando uma queda acentuada comparada a 1,54 milhão de sacas no fim de 2021.
Segundo o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, os atuais níveis de preço refletem a entressafra de um ciclo produtivo menor no Brasil.
“Os impactos das adversidades climáticas, como as estiagens e elevadas temperaturas, comprometeram a capacidade de 2021/2022 e das temporadas cafeeiras futuras”, analisou o executivo. “As geadas no ano passado também afetaram o rendimento da safra 2022/2023.”
O diretor-geral do Cecafé disse que o cenário, aliado aos problemas logísticos, “limita a capacidade dos operadores locais e internacionais para recompor os estoques globais, o que tem gerado impulso nas cotações”.
Estoques
Em fevereiro, o recuo dos estoques de café foi de 450 mil sacas. Essa é a segunda vez, durante a pandemia, que os estoques caem para níveis históricos. Em setembro de 2020, o volume de café certificado alcançou 1.234 milhões de sacas.
Mesmo com as restrições impostas pela Covid-19, a demanda por café continuou aquecida nos Estados Unidos, principal comprador de café proveniente do Brasil. Vale lembrar que o país americano está no pico do Inverno, o que aquece ainda mais a demanda pelo produto.
Na opinião de Haroldo Bonfá, analista de mercado da Pharos Consultoria, o cenário é mais complexo, isso porque problemas logísticos continuam impactando todo o setor exportador do País.
“Além da logística que atrasa os embarques do Brasil, com o preço em alta contínua, é muito mais barato para o importador consumir o café que já está em território americano, pois os estoques têm preços inferiores aos preços atuais”, disse Bonfá. “O mercado se preparou para essa alta, e é muito mais barato forçar o consumo do café que já está por lá” reforçou.
Mercado interno
De acordo com operadores do mercado, há pouco comércio acontecendo no Brasil, maior produtor e exportador global de café. No País, as torrefadores de arábica estão comprando somente o necessário em meio à alta dos preços.
Segundo Bonfá, o mercado segue travado com o produtor esperando por novos preços, principalmente porque o custo de produção também subiu expressivamente no último ano. “Um dos desafios para o produtor é justamente fazer essa equalização entre custo e o preço de venda”, avaliou o especialista.
No mercado interno, Haroldo aposta em mais uma escalada para os preços puxada pela alta em Nova York. “O produtor tem mantido os contratos, mas vende na medida em que precisa fazer caixa.”
Os volumes de chuvas ocorridos entre o fim de janeiro e o começo de fevereiro trouxeram alívio para o estresse hídrico, mas não recuperam o potencial produtivo dos cafezais. Porém, elas são positivas para recuperação das plantas e trazem a esperança de uma safra maior em 2023.
Exportações
Segundo relatório mensal divulgado dia 9 de fevereiro pelo Conselho Nacional dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o País exportou 3,226 milhões de sacas de 60 quilos em janeiro de 2022, registrando uma queda de 11,8% comparadas às 3,659 milhões de sacas registradas no mesmo período do ano passado.
Em receita cambial, porém, o primeiro mês deste obteve crescimento de 47,5% em relação ao mesmo mês de 2021, alcançando US$ 700,1 milhões, o maior valor histórico para janeiro.
O presidente da Cecafé, Nicolas Rueda, acredita que o problema logístico deve continuar, pelo menos durante o primeiro semestre do ano. Para ele, a queda no volume embarcado reflete a continuidade dos gargalos logísticos no comércio marítimo global, cenário sem previsão para correção no curto prazo, e o menor volume de café disponível no atual período.
“Observamos uma leve melhora na oferta de contêineres em janeiro, além do registro de embarque via break bulk, em big bags, contribuindo para melhorar o fluxo, mas os espaços nos navios continuam sendo um grande desafio”, comentou Rueda. “Mas entramos na entressafra de uma colheita baixa, com redução dos estoques e menor disponibilidade de café, o que é compreensível até que cheguem os grãos da nova safra, entre maio e junho”, completou.