Pesquisadores tentam encontrar uma maneira de aproveitar o maquinário ocioso para azeite de oliva no período de entressafra das azeitonas (Foto: Epamig)
A tradicional produção de azeite de oliva na Serra da Mantiqueira pode ganhar um reforço inusitado: o abacate. Pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) estão avaliando formas de aproveitar o maquinário das agroindústrias de azeite de oliva durante o período de entressafra das oliveiras para extrair óleo fino da fruta.
“A safra da oliveira é curta, vai do final de janeiro ao início de abril e no restante do ano não temos azeitonas. Com poucas adaptações, as pesquisas têm demonstrado que é possível utilizar do mesmo maquinário para se extrair o óleo do abacate e dar uma utilidade maior para esse conjunto de máquinas”, explica o pesquisador da Epamig Luiz Fernando de Oliveira.
Dois projetos conduzidos no Campo Experimental da Epamig em Maria da Fé, no sul de Minas, buscam consolidar essa alternativa: o “Produção de abacate e qualidade do óleo em cultivos da Serra da Mantiqueira”, financiado pela Fapemig, e o “Processos inovadores nas agroindústrias de azeite de oliva e abacate”, apoiado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais. Este último também modernizou a agroindústria da unidade.
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Cultivares promissoras
A pesquisa tem como objetivo identificar cultivares mais promissoras de abacate para extração de óleo, além de analisar ajustes necessários para adaptar os equipamentos, originalmente desenhados para a oliva, ao novo insumo.
“Pouco se conhece sobre as características agroindustriais do abacate, tanto na parte física, que leva em consideração o teor de óleo, quanto em relação às características químicas que envolvem a qualidade, seja por padrões como acidez, peróxidos, estabilidade oxidativa, perfil de ácidos graxos e polifenóis, seja pela parte sensorial, dos óleos extraídos de diferentes cultivares da fruta”, detalha Luiz Fernando.
Na Região Sudeste, estima-se que existam cerca de 40 lagares dedicados à extração de azeite de oliva. Infraestrutura que poderia ser aproveitada, com pequenos ajustes, para processar o abacate.
“Uma dessas adequações é despolpar o abacate, pois se utiliza apenas a polpa para extração do óleo. Outra adaptação é na regulagem da máquina, pois a depender da quantidade de óleo presente no fruto do abacate é necessário mexer no ajuste de saída do azeite na centrífuga horizontal (decanter)”, informa, acrescentando que:
“Novos estudos estão analisando a viabilidade de extrair do fruto inteiro. Para isso precisaremos de um moinho maior, visto que o fruto de abacate é, significativamente, maior que uma azeitona”.
Além da vantagem logística e de aproveitamento industrial, o óleo de abacate se destaca pelas propriedades nutricionais. Seu perfil de ácidos graxos é muito próximo ao do azeite de oliva, com alto teor de ácido oleico — uma gordura monoinsaturada considerada benéfica à saúde — e presença de compostos fenólicos com ação antioxidante.
“O objetivo inicial é produzir um óleo para consumo humano e num segundo momento também destinar este óleo para elaboração de outros produtos como cosméticos”, complementa Luiz Fernando de Oliveira.