O camu-camu é rico em vitamina C, dá mais sabor e agrega valor à farinha (Foto: Ronaldo Rosa)
Pesquisadores brasileiros descobriram uma nova forma de enriquecer a farinha de mandioca amarela utilizando o camu-camu, um fruto típico da Amazônia, conhecido por seu alto teor de vitamina C e propriedades antioxidantes.
A adição do camu-camu não só melhora o valor nutricional da farinha, mas também adiciona sabor e cor, aumentando seu valor de mercado.
“Com base na validação estatística, a farinha de mandioca enriquecida com diferentes doses de farinha de camu-camu foi afetada de forma positiva e significativa”, explica o pesquisador Pedro Vitor Pereira Guimarães, um dos responsáveis pelo estudo.
“Com destaque para incremento na coloração dos produtos finais, assim como nos teores de sólidos solúveis e totais, e nos conteúdos de antioxidantes, entre eles, os ácidos ascórbicos e cítricos,” completa.
O estudo, intitulado “Desenvolvimento de produtos à base de frutos e resíduos beneficiados do processamento de camu-camu”, foi conduzido por Guimarães durante seu doutorado no Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede Bionorte, em colaboração com a Universidade Federal de Roraima (UFRR), Embrapa Roraima, Embrapa Instrumentação, e a Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas.
O objetivo era formular e caracterizar farinhas de mandioca enriquecidas com resíduos de camu-camu utilizando diferentes métodos de secagem, incluindo liofilização e secagem ao sol.
Os resultados obtidos são encorajadores, mas ainda há necessidade de testes adicionais para otimizar as formulações e expandir o uso do camu-camu em outros alimentos.
Os pesquisadores esperam que suas descobertas contribuam para o desenvolvimento sustentável e a valorização dos produtos amazônicos.
“Os próximos passos envolvem aprimorar a elaboração das farinhas oriundas de camu-camu e verificar a aceitabilidade desses novos produtos,” concluiu Guimarães.
Resultados promissores
Os pesquisadores descobriram que a farinha de mandioca enriquecida com camu-camu apresentava melhorias significativas na coloração, teor de sólidos solúveis, conteúdo de antioxidantes, e concentração de macro e microelementos.
As formulações testadas incluíram proporções de 0% (controle), 5%, 25%, 50%, e 100% de farinha de camu-camu.
Além de suas qualidades nutricionais, o estudo sugere que a farinha de camu-camu pode fortalecer a economia local, especialmente para a agricultura familiar e programas destinados às mulheres rurais da região amazônica.
A produção e comercialização desta farinha podem gerar emprego e renda, contribuindo para a segurança alimentar e nutricional da população.
Processamento e sustentabilidade
Os frutos de camu-camu foram coletados às margens do Lago da Morena, em Roraima, e processados na Embrapa Roraima.
O estudo utilizou diversos métodos de secagem para avaliar a viabilidade de produção em diferentes escalas tecnológicas, desde técnicas de baixo custo, como a secagem ao sol, até métodos mais avançados, como a liofilização.
“O uso de métodos simples e de baixo custo, como a secagem ao sol, amplia as possibilidades para a agroindústria familiar. A secagem solar permitiu notável redução no teor de água, tanto dos frutos de camu-camu como nos resíduos orgânicos gerados durante o processamento, resultando em uma consistência semelhante à farinha,” destacou Edvan Alves Chagas, pesquisador da Embrapa e orientador da pesquisa.
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Potencial de industrialização
A pesquisa também aponta para o potencial de industrialização do camu-camu, tanto em sua forma inteira quanto utilizando resíduos agroindustriais.
Maria Fernanda Berlingieri Durigan, coorientadora do estudo, enfatiza que os produtos derivados do camu-camu possuem atributos interessantes para as indústrias agrícola e alimentícia, oferecendo uma oportunidade econômica significativa para a região amazônica.
“Acreditamos que os produtos secos obtidos e avaliados nessa pesquisa possuem atributos interessantes e podem ser uma importante oportunidade econômica para aplicação nas indústrias agrícola e alimentícia roraimenses e amazônicas, principalmente para as agroindústrias familiares e projetos relacionados às mulheres rurais,” afirmou Durigan.