Como cobrir as plantas com agrotóxicos sem aumentar o volume de calda: a tecnologia que reduz de 300 para 100 litros de agrotóxicos por hectares de cana
Ao pulverizar as lavouras, o agricultor espera cobrir toda a extensão das plantas para garantir a proteção almejada. Mas como alcançar de fato essa cobertura, já que, quando a planta cresce, amplia-se a área a ser coberta? Aumentar o volume de agrotóxicos pode ser a primeira resposta a ser adotada, mas só isso não resolve.
De acordo com o pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Hamilton Humberto Ramos, “quando o produtor apenas aumenta o volume de aplicação, não leva em consideração outros aspectos importantes, como fator de espalhamento e diâmetro da gota”, explica. O objetivo final, a cobertura total do alvo é atingido, mas com custo maior para o produtor e o ambiente. “O rendimento operacional dos pulverizadores é bastante baixo, resultando em um investimento maior em número de equipamentos por área ou em sistemas de transporte de água para abastecimento dos pulverizadores, elevando o custo da operação”, observa Ramos.
Uso correto
O pesquisador aponta que o uso correto do adjuvante do tipo tensoativo, o popular espalhante, pode reduzir em até 70% o volume de agrotóxico usado. “O termo adjuvante vem da palavra ajudante. Esta substância age diretamente na molécula de água, diminuindo a força de atração existente.
Como resultado, as gotas do caldo de pulverização têm seu tamanho aumentado, mas mantêm o volume tanto de água como de agrotóxico”, explica o pesquisador. A economia na cobertura do “alvo” – a planta em si – é garantida.
Falta de informação = equívocos
A falta de informação é a grande responsável pelos equívocos praticados. A alternativa de ampliar o volume para atingir a cobertura desejada é a mais antieconômica, porém, a que requer menor conhecimento técnico – e justamente por isso é a mais utilizada. Ao invés de adotar essa prática, Ramos sugere a utilização do espalhante, mas adverte sobre a importância de conhecer suas características principais. “Todos eles têm uma dose mínima, a partir da qual são efetivos, e uma dose máxima. A partir desta, a tensão superficial e, consequentemente, o espalhamento não são mais alterados”, esclarece.
Muitas vezes, o uso do espalhante deve ser acompanhado de redução no volume de calda para uma pulverização efetiva. O pesquisador ressalta que qualquer pulverização feita de forma inadequada pode causar danos para o ambiente e para a saúde dos trabalhadores, além dos prejuízos econômicos.
Aplicação eficiente e econômica
A aplicação eficiente e econômica é aquela que considera a interação entre alvo, características do agrotóxico usado, pulverizador, momento da aplicação e condições ambientais. Além disso, o produto sempre deve vir acompanhado de informações técnicas e devidamente registrado como adjuvante do tipo tensoativo. Neste contexto, o uso de adjuvantes pode ser um grande aliado do produtor, já que é uma substância capaz de aumentar a eficácia do agrotóxico escolhido. “Qualquer que seja o alvo selecionado, o sistema de pulverização deverá ser capaz de produzir uma cobertura adequada.”
Carla Gomes – Assessoria de Imprensa do IAC
Cana-de-açúcar: economia de até 200% de herbicidas por hectare
Ao invés dos 250 a 300 litros de herbicidas por hectare de cana, usa-se de 70 a 100 l/ha
De acordo com o engenheiro agrônomo, Marcelo da Silva Scapin, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o sucesso na aplicação de agrotóxicos depende da interação entre doença, produto, máquina, momento de aplicação e meio ambiente. Segundo Scapin, quando a aplicação é adequada, a economia é evidente.
Na aplicação de herbicidas na cultura da cana-de-açúcar, o procedimento correto resulta no uso de 70 a 100 litros de agrotóxico por hectare, em comparação aos 250 a 300 litros normalmente usados. “Conhecer o ‘alvo biológico’, ou seja, os aspectos básicos da praga, é fundamental para a escolha certa do produto e do pulverizador”, explicando também que o controle da praga depende da capacidade de redistribuição do agrotóxico na planta. A partir disso nasce o “alvo químico”, local em que o produto deve ser aplicado para otimizar sua ação. O próprio pulverizador, quando mal regulado, pode se tornar um inimigo no combate às doenças. Regulagem e calibragem próprias ao invasor que se busca combater são essenciais. Segundo Scapin, o excesso de agrotóxicos que fica em suspensão atinge outras plantações ou retorna para o solo por meio das chuvas.
Na avaliação de pesquisadores, a falta de informação é a grande responsável pelo problema. Trabalhos realizados pelo IAC mostram que, ao ter acesso ao conhecimento, agricultores e trabalhadores rurais mudam o comportamento e adotam posturas adequadas que levam à proteção da saúde humana e do ambiente agrícola como um todo. O IAC oferece treinamento realizado diretamente nas propriedades rurais por meio do projeto “Aplique Bem”, desenvolvido em parceria com a empresa Arysta LifeScience.
Scapin ressalta também a relevância das condições climáticas. Por exemplo, temperatura e umidade relativa do ar, principalmente em países tropicais, afetam diretamente a eficácia do agrotóxico, uma vez que influenciam na evaporação das gotas nas superfícies a serem protegidas. “O produto que controla qualquer praga é aquele que chega ao alvo e não o aplicado”, afirma o agrônomo, lembrando que a grande maioria dos produtores aplica altos volumes de agrotóxicos, porém seu volume é facilmente perdido. “Como não se enxergam as gotas que evaporam ou o produto que fica em suspensão, tal perda, apesar de significativa, não é percebida pela grande maioria dos produtores”, lamenta Scapin.
O agrônomo ressalta que situações com temperaturas acima de 30º e umidade relativa inferior a 55% são impróprias para a pulverização. Neste caso, são recomendados os períodos logo no começo do dia, fim da tarde ou início da noite. “O volume ideal de agrotóxico é sempre o menor necessário para eliminar o problema”, acrescenta.