Produzir legumes, verduras e frutas miniaturizados pode ser uma boa opção para agregar valor à propriedade, já que a previsão é de que o consumo cresça entre 15% e 20% ao ano
A produção de verduras, legumes e frutas miniaturizadas é um promissor nicho de mercado, que pode oferecer boa rentabilidade ao agricultor, mesmo que os investimentos iniciais sejam mais altos em comparação ao sistema de cultivo convencional.
O tamanho reduzido das frutas e hortaliças é resultado de sementes com genética miniaturizada, importadas ou oriundas do processamento do produto.
Valor agregado
As mini-hortaliças têm alto valor agregado e um sabor naturalmente doce. Suas sementes são importadas dos Estados Unidos e da Europa, até porque este segmento ainda é restrito no Brasil. A cenoura e a beterraba, por exemplo, são processadas do tamanho normal para a versão miniatura e vendidas em embalagens de 100 a 250 gramas. A tecnologia da produção inclui a escolha ideal das variedades de cenouras, com boa produtividade e mais tolerantes a doenças.
Para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Hortaliças (DF), os minilegumes (como a cenourinha baby e o tomatinho) têm caído no gosto do brasileiro, principalmente por causa da facilidade de uso no dia a dia, levando em conta que já vêm higienizados e embalados em pequenas porções e, principalmente, porque seu consumo tem atraído as crianças, por causa do tamanho.
Minitomate
No caso do minitomate ou sweet grape, o diferencial é seu sabor adocicado e menos ácido. Para alcançar esta característica, é necessário um manejo especial com recomendação para cultivo em estufas, pelo sistema de hidroponia, sem uso do solo e somente depois transportado para vasos.
O ciclo da semeadura até a colheita dura 120 dias e o principal custo é com a mão de obra, porque seu cultivo é todo manual. O produtor deve se preocupar com as aquisições de sementes importadas, adubos, defensivos agrícolas, irrigação, mão de obra e estufa. Tudo isto pode chegar a R$ 29 mil, podendo receber, como retorno, quatro reais por quilo do minitomate.
De acordo com o Sebrae Mercados (Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), entre as vantagens do cultivo das mini-hortaliças e minilegumes estão os preços diferenciados e as possibilidades de aumento da produção por área plantada. Para o consumidor, o benefício é obter um produto com maior apelo estético, redução de desperdício e a oportunidade de elaborar porções individuais.
Miniaturas
Luís Felipe Villani Purquerio, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), explica a diferença das mini-hortaliças e os babies leafs.
“As mini-hortaliças são produtos geneticamente miniaturizados ou têm o tamanho reduzido por meio de processamento. Já as hortaliças babies são obtidas pelas práticas culturais. No caso das folhosas babies ou babies leafs, como são conhecidas, é realizada a colheita antecipada das folhas em relação ao tempo que, tradicionalmente, costuma ser colhida para o consumo, de modo que a folhagem ainda é jovem e não está expandida completamente.”
Purquerio relata que os babies leafs são macios, saborosos e podem apresentar diferentes cores e formatos, dependendo da espécie utilizada, “despertando interesse de consumidores e chefs de restaurantes que buscam sempre novidades”.
“Pelo visual atrativo — cor e formato — bem como pelo sabor, e por já estarem difundidas entre a população nos seus tamanhos convencionais, a alface, o agrião, as folhas de beterraba e a rúcula, entre outras espécies de hortaliças, por exemplo, são interessantes para a produção de baby leaf no Brasil”, pontua o pesquisador do IAC.
Gerente comercial da Isla Sementes, Claudio Nunes Martins reforça que, em relação aos produtos cultivados pelo sistema convencional, as mini-hortaliças se diferenciam pelas características organolépticas (cor, sabor, perfume e crocância). “Com tamanhos reduzidos e mais delicadas, as mini-hortaliças devem ser acondicionadas em embalagens especiais para evitar perdas”, orienta.
Mercado
O tamanho das mini-hortaliças, segundo a Embrapa Hortaliças, pode ser fruto de uma semente com genética miniaturizada, importadas e/ou oriundas do processamento delas. Alguns ajustes no sistema de cultivo também interferem em seus tamanhos, tais como a colheita antecipada ou o plantio adensado.
Com elevação estimada entre 15% e 20% ao ano, o mercado de mini-hortaliças no Brasil tem ainda muito espaço para crescer, destaca a estatal. Embora os minitomates, por exemplo, sejam os grandes destaques deste nicho de mercado, pequenas abóboras (minimoranga) e berinjelas ou minifolhas de alface e rúcula também despontam como produtos do tipo “gourmet”, por causa do grande potencial para culinária. Minipimentões de cores variadas, pepinos, milho e cebolas em tamanhos reduzidos também têm seu espaço neste seleto setor.
Ainda de acordo com a Embrapa Hortaliças, para aprimorar o sistema produtivo dos minivegetais, pesquisadores e agricultores têm procurado trabalhar em parceria, para definir os melhores ajustes no manejo no campo, de forma que as plantas produzam bem nas condições tropicais do País.
Consideradas um nicho interessante para o mercado brasileiro, as hortaliças e frutas miniaturizadas podem contribuir para o aumento do consumo de alimentos saudáveis, ao combinar nutrição com o aspecto visual atrativo.
Porque produzir
As frutas e hortaliças miniaturizadas são divididas em minis e babies. As vantagens na produção destes alimentos diferenciados, segundo o Sebrae Mercados, estão relacionadas aos seguintes fatores:
- Diminuição do tamanho das famílias;
- Redução de desperdício pela compra de volume alto, em única unidade;
- Aumento da procura pela alta gastronomia, porque facilita na decoração dos pratos e na produção de porções individuais;
- E o consumo infantil, pois são mais atrativos para as crianças.
Custos
O gerente da Isla, Claudio Martins, destaca que as sementes dos legumes, verduras e frutas miniaturizados estão disponíveis no mercado nacional, por meio de empresas produtoras deste setor. “Os agricultores também podem ter acesso às compras feitas diretamente ou por intermédio de revendas e viveiristas.”
Ele explica que é preciso considerar que há um custo extra (na hora de optar pelo cultivo das miniaturas), em alguns casos, por causa da necessidade de sementes especiais, assistência técnica e mão de obra qualificada. “Mas sempre há um bom retorno”, pondera.
O custo das sementes varia conforme a cultivar a ser plantada. “Se considerarmos os minitomates, o desembolso pode variar de R$ 1,2 mil a R$ 8 mil para cada mil sementes. Mas o importante para o cultivo de mini-hortaliças é sempre considerar que o produtor deve apresentar um produto diferenciado, que atenta às preferências do consumidor brasileiro, principalmente por causa da sensorialidade e do prazer de consumo.”
Portfólio
A Isla Sementes disponibiliza um portfólio amplo de produtos para este mercado de miniaturas, como minitomates, miniabóbora, minialfaces e minipepinos.
“No mercado de folhas jovens, a empresa dispõe de várias espécies — como rúcula, agrião e alface — de diversos formatos, cores, texturas e sabores. Tais combinações possibilitam melhor forma de comercialização, agregando maior valor nutricional”, informa o gerente comercial.
Crescimento da produção
Apesar de já estarem no mercado há algum tempo, somente nos últimos anos é que as miniaturas de hortaliças vêm registrando um crescimento significativo em termos de produção. “Apesar de ser um nicho considerado pequeno, vem gradativamente conquistando o consumidor. Infelizmente, o fato é que o brasileiro ainda consome poucas hortaliças e frutas, mesmo as convencionais, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura)”, alerta Cláudio Martins.
“O ideal seria comer, no mínimo, em torno de 400 gramas ao dia, mas, a média brasileira gira em torno de 132 gramas. Um dos meios para aumentar o consumo é com a utilização de vegetais e frutas diferenciados, que proporcionam novos e atraentes sabores, cores e tamanhos, como é o caso das mini-hortaliças”, afirma o gerente comercial da Isla Sementes.
Ele ainda reforça que “as mini-hortaliças são obtidas pelo melhoramento genético de sementes, como é o caso de minipimentões e minitomates; já os babies são obtidos pela colheita antecipada, a exemplo das alfaces do tipo baby leaf”.
Dificuldades
Embora haja um considerável aumento no consumo dos produtos minis e babies, o Sebrae Mercados aponta que um dos fatores que dificulta na hora de vendê-los é o preço elevado, que é afetado pelo maior custo de produção. As sementes de um produto do gênero são relativamente caras e, de forma mais ampla, leva o mesmo tempo para ficar no ponto que um convencional.
Outro entrave é que seu cultivo exige defensivos agrícolas com menor tempo de carência e um manuseio mais delicado na hora da colheita, embalagem e transporte, por ser um produto com forte apelo estético.
Também há certa desconfiança, por parte de alguns consumidores, sobre a eficácia e os reais valores nutricionais das hortaliças em miniatura. Talvez por isto a maioria do consumo destes alimentos ainda seja feita por restaurantes gourmets, para elaboração de pratos requintados.
Berinjelas, pimentões e morangas miniaturizados têm sabor adocicado e forte apelo estético
Consumo médio
Uma pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) aponta que o consumo médio de vegetais e frutas em miniaturas cresce a taxas médias de 15% a 20% por ano.
De acordo com a Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (Abcsem), a representatividade destes produtos miniaturizados ainda é muito pequena em relação à totalidade das hortícolas, não chegando a 1%, conforme dados mais recentes (de 2013). “No entanto, é um segmento que traz, para as redes de supermercados, um produto diferenciado e atrativo, de fácil consumo”, defende a entidade.
Dados da Associação mostram que os preços mais elevados de venda dos produtos mini e a alternativa para diversificar a produção, sobretudo nas pequenas propriedades rurais, têm sido as vantagens de produzir estes minilegumes.
“É um mercado novo e ainda pequeno no Brasil, mas está em relativa expansão, e é uma aposta do setor. Até agora, não é um produto para as classes D e E, mas cresce a cada dia e já não é exclusivo apenas da A. Por exemplo, os minitomates são uma febre que se populariza”, comenta Carlos Formoso, coordenador técnico de vendas da empresa Agristar do Brasil.
Para o gerente da Isla Sementes Claudio Martins, o grande desafio no segmento de hortaliças miniaturizadas é a integração do produtor e o consumidor final. “Precisamos colocar para o consumidor brasileiro produtos saudáveis no mercado, porque eles, cada vez mais, têm buscado algo que vai muito além do produto. Buscam adquirir hortaliças que ofereçam praticidade, saudabilidade e conveniência. Assim, as mini-hortaliças oferecem uma grande oportunidade de aumentarmos o consumo de frutas e verduras.”
Mercado
Segundo o pesquisador Luís Felipe Villani Purquerio, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), no Brasil as mini-hortaliças já estão presentes no mercado nacional há algumas décadas, como é o caso das minicenouras e dos minitomates.
“Atualmente, os minitomates estão em evidência, principalmente o tipo grape que, devido ao alto teor de sólidos solúveis (até 11o Brix — escala numérica de índice de refração), conquistou os consumidores. Já o produto baby leaf é mais novo, costumeiramente encontrado no Estado de São Paulo, e geralmente comercializado por grandes redes de supermercados nacionais e multinacionais.”
Em sua opinião, o mercado das hortaliças e frutas miniaturizadas, que ainda é visto como um nicho, tende a crescer muito em função da qualidade e praticidade de seus produtos. “Na Itália, por exemplo, aproximadamente 26% da produção de hortaliças folhosas são destinadas ao mercado de baby leaf”, informa Purquerio.
Para o gerente comercial da Isla Sementes, os preços das mini-hortaliças tendem a diminuir a longo prazo, à medida que haja mais produção e maior consumo. “O valor agregado destas hortaliças está relacionado ao sistema de produção, normalmente em cultivo protegido, mas os custos são mais elevados se comparados ao sistema convencional”, avalia Claudio Martins.
Apesar disto, ele acredita que “não devemos considerar somente o custo, pois é um nicho de mercado interessante, que está contribuindo para o aumento do consumo de alimentos saudáveis ao combiná-los com o aspecto visual atrativo. Por outro lado, as características — como sabor, perfume e crocância — está tornando o consumidor mais fiel ao consumo, como é o caso dos minitomates.”
Novidades
No mercado brasileiro ganham destaques, em termos de novidades, as miniabóboras, minitomates, minipepinos e alfaces babies. “O que mais se destacou nos últimos anos foram os minitomates, principalmente por causa de seu sabor adocicado”, salienta Martins.
“Acredito que, com a introdução de produtos diferenciados, o consumo de hortaliças passa a ganhar mais estímulo por parte da população, principalmente das crianças. O mercado de hortaliças está sempre se reinventando e o mini é um exemplo real. Acredito que este segmento deverá, sim, atingir a um contingente maior de consumidores no futuro”, destaca o gerente.
Substrato de fibra de coco é opção na produção de miniaturas
Com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), por meio de um estudo de mestrado intitulado “Produção de baby leaf de alface em bandejas com reaproveitamento de substrato”, foi verificada a possibilidade de até três reusos do substrato de fibra de coco no cultivo da alface baby, bem como a eficiência da solarização na eliminação dos patógenos Pythium aphanidermatum e Rhizoctonia solani.
Este trabalho foi executado por Lívia Aguiar Sumam de Moraes, agora Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical, na área de Concentração em Tecnologia da Produção Agrícola, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Em seu estudo, ela explica que o termo substrato é usado para apontar todo material sólido natural, sintético ou residual, mineral ou orgânico, distinto do solo que, se for colocado em recipiente de forma pura ou em mistura, permite dar o suporte à planta para desenvolvimento do sistema radicular, por intermédio de sua fase sólida.
Durante a pesquisa, Lívia verificou que “pela fase líquida, o substrato permite o suprimento de água e nutrientes; e pela fase gasosa, o oxigênio e transporte de dióxido de carbono entre as raízes e o ar externo”.
Materiais
Conforme a pesquisadora do IAC, vários são os materiais usados como substratos de plantas, tais como: turfa, areia, polipropileno expandido, espuma fenólica, argila expandida, perlita, vermiculita, bagaço de cana-de-açúcar, casca de amendoim, casca de arroz, casca de pínus, fibra da casca de coco, entre outros.
“Pelas suas vantagens, a fibra de coco tem conquistado parte significativa do mercado de substratos na Europa, competindo principalmente com a turfa.
No Brasil, é largamente utilizada para produção de mudas de hortaliças em geral. Também é interessante seu uso para a produção de baby leaf de diferentes espécies no sistema de produção de bandejas”, destaca Lívia.
Vantagens
A fibra de coco é um substrato de material vegetal natural, renovável e muito leve. Apresenta vantagens como ausência de patógenos, longa durabilidade sem alteração de suas características físicas, possibilidade de esterilização e baixo custo para o produtor se comparado a outros substratos.
“O cultivo em substrato exige investimento econômico e, por isso, sua reutilização é ótima possibilidade de reduzir o custo de produção, uma vez que dispensa nova aquisição. Como demonstrado anteriormente, cerca de 30 a 50% das despesas no sistema produtivo em bandejas são provenientes do custo com substratos”, explica.
“Além disto, reduz-se o impacto ambiental, uma vez que a reutilização atenua o volume de substrato descartado após o cultivo”, salienta Lívia, em seu estudo de Mestrado no IAC.
Para mais informações sobre o estudo “Produção de baby leaf de alface em bandejas com reaproveitamento de substrato”, acesse http://ow.ly/YD pmk (link encurtado).
Histórias que fazem a diferença
Casado e pai de dois filhos, Cyro Cury Abumussi, de 48 anos, é produtor rural há duas décadas e meia. Em 1991, por causa da doença do pai, mudou-se para a fazenda que já era de sua família desde 1972, em Salto (SP). A partir daí, iniciou um projeto de plantio em estufas, quando foi conhecer as particularidades comerciais dos produtos hortícolas (oferta versus procura).
“Percebemos a fragilidade do sistema Ceagesp (Centro de Abastecimento do Estado de São Paulo) para produtos consignados, que não garantia um preço justo ao produtor rural. Passamos a visitar restaurantes, bufês, supermercados e hotéis, buscando um preço mais digno quando, então, tivemos conhecimento do interesse dos chefs de cozinha pelos mini legumes”, lembra Abumussi.
“Neste tempo todo, plantamos cenoura, rabanete, beterraba, oito cores de pimentão, mais de 12 variedades de tomates, seis tipos de berinjela, milho, chuchu, alfaces verdes e roxas e morangas de cores amarela, verde e branca”, enumera o produtor.
Apesar do mercado promissor, ele continua plantando hortaliças convencionais, até porque existe uma dificuldade para conseguir sementes de qualidade para os minis. “Como empresário, preciso me preocupar com a logística, com os custos de produção, transporte e ainda ter um mix de produtos que seja ‘inteligente’ para a sustentação do projeto.”
Para entrar neste mercado, diferentemente dos dias atuais, Abumussi não contou com assistência técnica. “Procurei instrução em livros técnicos e na alta gastronomia, muitos deles de outros países. Adaptamos o manejo, de acordo com a nossa experiência, devido à escassez de informações no País na época do início do negócio, na década de 1990.”
Mercado seleto
Na opinião de Abumussi, o mercado de minilegumes é bastante rentável, apesar de seleto. “O produtor precisa vender direto para o varejo, com uma boa seleção e embalagem, para ter lucro. Além disto, deve-se diversificar e trabalhar também com produtos convencionais”, ensina. Para o mercado crescer ainda mais, ele acredita ser preciso elevar o “estímulo à degustação dos produtos e maior valorização pelo consumidor”.
Antes de pensar nas vendas, o produtor destaca a necessidade de saber lidar com este tipo de produção. “Algumas variedades de minilegumes exigem maior cuidado no manejo e devem ser produzidas apenas em estufas, para garantir a qualidade exigida pelo mercado. No caso da minimoranga, por exemplo, a polinização é feita anualmente, todos os dias, para garantir boa produtividade.”
Desde a infância
Também produtor de mini-hortaliças, Jorge Morikawa, 48, pai de uma menina de 15 anos, traz no currículo a experiência que adquiriu na infância, quando ajudava o pai, Hiroyuki Morikawa no campo. “Foi ele quem iniciou as atividades da nossa empresa, a Saladas Finas, no início dos anos 60, sempre produzindo hortaliças convencionais pelo sistema também convencional, com baixa tecnologia (produção em campo aberto, com irrigação por aspersão, quando possível)”, conta o filho.
Depois do falecimento do pai, em 1985, e o término do curso de graduação em Química na Universidade de São Paulo (USP), três anos mais tarde, Jorge Morikawa decidiu assumir os negócios da família com a ajuda da mãe, Reiko Morikawa.
“Após uma visita técnica a Israel, em 1996, começamos a investir em tecnologias de produção com a implantação de irrigação por gotejamento, mulching, cultivo protegido, entre outros. Depois do ano 2000, iniciamos o trabalho no segmento de mini-hortaliças, com muita dificuldade, principalmente por causa da pouca disponibilidade de sementes e ao mercado ainda muito conservador”, lembra.
Antes de aderir ao cultivo de mini-hortaliças, as principais culturas da sua família eram brócolis, nabo, jiló, berinjela, chuchu, abobrinha, vagem e couve-flor. Hoje, ele se dedica, exclusivamente, à produção de minilegumes “ou produtos que permitem agregar valor de alguma maneira”.
Rentabilidade
Morikawa relata que o principal motivo, que levou sua mãe e ele a desenvolverem este segmento, foi a baixa rentabilidade das culturas convencionais na maior parte do ano. “É um mercado muito instável, que depende, principalmente, das adversidades climáticas para que tenha algum valor no mercado. Esta situação não permite um planejamento em relação, por exemplo, aos investimentos na produção.”
Para ele, não procede a afirmação de que, por ser mais seleto, o setor de mini-hortaliças tenha baixa rentabilidade e um mercado restrito. “Nas gôndolas dos supermercados, hortifrutis, nas feiras livres e nos varejões, as mini-hortaliças estão cada vez mais presentes, sempre com valor agregado. O interesse no setor de food service também cresce a todo o momento. Este cenário é reflexo do interesse, cada vez maior, dos consumidores e também dos produtores neste setor”, destaca o produtor rural.
Falta de foco
Em sua opinião, o maior problema para a falta de rentabilidade na produção de minilegumes é a falta de foco. “Muitos produtores tentam explorar este segmento paralelamente às culturas convencionais, no mesmo mercado. Não faz sentido oferecer ao mesmo consumidor um produto com valor agregado e, ao mesmo tempo, outro, cujo apelo de venda é o preço”, diz Morikawa.
“As grandes vantagens de atuar neste setor são a estabilidade dos preços e a fidelização dos consumidores. No entanto, esta situação deve ser construída com trabalhos de divulgação, mostrando os benefícios aos consumidores. Investimentos em marca e apresentação dos produtos também são fundamentais”, orienta.
Para que a área de cultivo e venda de mini-hortaliças cresça e se consolide, é necessário foco em toda a cadeia, desde a empresa de sementes, passando pelos produtores e, por último, pelos distribuidores e varejistas, reforça o produtor. “O mercado deixou de ser conservador há algum tempo e os consumidores estão buscando cada vez mais produtos com mais praticidade, de melhor apresentação e muito mais saborosos.”
A produção
Ele ensina que as mini-hortaliças podem ser produzidas basicamente de três maneiras:
- Por meio de variedades geneticamente miniaturizadas: as versões mini de tomate, pepino, berinjela, moranga, pimentão (várias cores) etc.
- Por intermédio da utilização de variedades convencionais e do adensamento na produção: minirrepolho, miniamericana, entre outros.
- Por meio do uso de variedades convencionais, adensamento na produção e colheita precoce: minirrúcula, miniagrião, miniespinafre etc.
“O manejo cultural é similar ao das culturas convencionais. É recomendável o cultivo protegido para garantir o fornecimento, sem rupturas ao mercado, o que é fundamental para fidelizar os clientes. Em alguns casos, os custos das sementes são muito mais altos e a perda de produção em função de chuvas ou granizos causaria um prejuízo ainda maior”, explica Morikawa.
Voltando ao passado, ele lembra que, quando iniciou a atividade, não era possível buscar uma assistência especializada, porque se tratava de um segmento novo. “Para se ter uma ideia, a grande dificuldade era conseguir uma variedade adequada e, depois, sua continuidade de fornecimento. Hoje, a situação está bem diferente. Muitas empresas, principalmente de sementes, estão de olho neste segmento. E já estão sendo desenvolvidos sistemas e produtos direcionados ao cultivo de mini-hortaliças”, pontua o produtor.