Cascas, talos, folhas, entrecascas e sementes fazem bem à saúde e devem ser aproveitados por todos, independentemente da classe Socioeconômica
Comer casca de banana, semente de abóbora, a parte branca da melancia ou as folhas das verduras e legumes parecia inimaginável até pouco tempo. Tudo ia parar no lixo.
Mas o que poucos sabem é que naquilo considerado como descartável encontram-se muitos nutrientes, como vitaminas e sais minerais, importantes para nosso corpo.
A nutróloga Tamara Mazaracki, membro da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), comenta que na hora de preparar uma sopa, um suco ou uma salada, grande parte de folhas, cascas e talos é rejeitada e com eles vão embora um imenso potencial nutritivo, como vitaminas, sais minerais, clorofila e fibras. “As cascas, talos e folhas externas de frutas, legumes e verduras contêm maior teor de nutrientes que as polpas e folhas internas.”
Nutricionista do Oba Hortifruti, Daísa Pinhal explica que a casca da banana, por exemplo, é rica em fibras que garantem o bom funcionamento do intestino e reduzem os níveis de colesterol do organismo. Esta parte da fruta também traz em sua composição o triptofano, nutriente que ajuda na produção da serotonina, substância capaz de promover a atividade cerebral, o bom sono e o bom humor.
O maracujá é outro alimento que pode ter sua casca aproveitada, principalmente na produção de farinha, que é excelente para as pessoas diabéticas por ser rica em pectina, uma fibra que tira a fome, controla os níveis de açúcar no sangue, facilitando o controle da doença e ainda ajuda a emagrecer. “A polpa é utilizada para a produção de sucos e a farinha produzida pode ser dissolvida em suco, adicionada ao iogurte, salada ou sopa”, ensina Daísa.
Folhas e talos
Das folhas da beterraba, por exemplo, é possível preparar saladas, refogados, entre outros pratos. São ricas em sais mineiras, como o ferro e o cálcio, além de vitaminas A, C e do complexo B. Nestas folhas, informa Daísa, há um composto chamado carotenoide, pigmento natural que ajuda na proteção dos olhos contra o envelhecimento. “Ao consumir as folhas de beterraba, o organismo pode se defender da anemia, além de favorecer contra oxidação e funcionar como laxante e diurético. Também, estimula as funções do fígado e do baço”, ressalta a nutricionista do Oba Hortifruti.
Ela destaca ainda que as folhas e talos de brócolis são ótimas fontes de ferro, fibra, cálcio e magnésio. “Podem ser utilizadas na hora de fazer arroz, sopa e até mesmo em molhos brancos, que vão muito bem com uma saborosa massa”.
Para quem não sabia até agora, a parte branca da melancia (a entrecasca) também pode ser consumida, além da polpa vermelha. “Com ela, é possível produzir um saboroso doce, ralando e cozinhando com (pouco) açúcar. Esta parte da fruta é rica em fibras insolúveis, capazes de auxiliar o intestino a trabalhar melhor”, explica a nutricionista.
Sementes
Outra curiosidade envolve as sementes da abóbora, que podem ser torradas e acrescentadas a pães, sopas, saladas e também servidas como aperitivo. Há diversas opções, como abóbora seca, italiana, brasileira, moranga, cabotiã e mini-abóbora. A sugestão de Daísa é moer estas sementes torradas para substituir o sal no tempero de comidas. “Seus benefícios são inúmeros. Com alto teor de fibras, sais minerais e vitaminas, a semente auxilia na saúde do coração, dos olhos e contribui para o sistema imunológico”, destaca a nutricionista.
Não desperdice nada
Membro da Abran, a nutróloga Tamara Mazaracki dá outras dicas para se evitar o desperdício: “Uma forma muito eficiente de aproveitar ao máximo a capacidade nutritiva das cascas, talos e folhas das frutas e hortaliças, é o uso de uma centrífuga, que extrai os nutrientes vitais na forma crua, ou seja, sem perda de vitaminas e enzimas termossensíveis (que se degradam com a ação do aquecimento). O único problema é que a fibra fica retida, mas isto pode ser resolvido acrescentando um pouco da fibra no próprio suco e, depois, aproveitando-a no cozimento e preparo de outros pratos (sopas, massas, feijão, bolos, biscoitos etc).
Como cozinhar para mais aproveitar
Tamara adverte que os alimentos jamais devem ser cozidos em excesso, porque o calor destrói importantes nutrientes, como a vitamina C, as vitaminas do complexo B e enzimas preciosas (com ação anti-inflamatória, digestiva ou reparadora). Os vegetais precisam ser consumidos “al dente”, ou seja, ainda firmes e crocantes. “Isto permite um maior aproveitamento de seus benefícios, e o sabor também é muito melhor”.
O ideal é cozinhar sempre no vapor, mantendo a casca dos legumes (descascar qualquer alimento já faz com que ele perca boa parte da sua riqueza nutricional). Desta forma, a casca forma uma barreira durante o cozimento e evita que os nutrientes se percam ou sejam inativados. Se for preparar uma sopa, use sempre o fogo baixo. Evite frituras, porque as temperaturas são mais altas — no caso das batatas, experimente cortar em palitos, sem descascar, e ao invés da frigideira, coloque-as no forno. Ficam sequinhas, crocantes, menos calóricas e mais saudáveis.
Higienização
Para retirar resíduos de defensivos agrícolas nas frutas, legumes e verduras, lave muito bem em água corrente e deixe de molho em uma solução de água com vinagre branco (uma colher de sopa por litro de água), durante 15 a 20 minutos.
A coordenadora de Nutrição da ONG Banco de Alimentos (SP), Camila Mendes Kneip, que trabalha com o Aproveitamento Integral dos Alimentos (AIA), explica a diferença entre o aproveitamento e o reaproveitamento de alimentos. O primeiro conceito usa tudo que eles fornecem (folhas, cascas, talos etc.) e, no segundo, utiliza-se as sobras de refeições anteriores para preparar novas, como pudim de pão ou bolinho de arroz, por exemplo. Trata-se da utilização do alimento em sua totalidade, ou seja, usar tudo que ele oferece sem desperdiçar. “Nas receitas preparadas com o conceito de AIA são utilizadas folhas, cascas, entrecascas, talos e sementes de diversos alimentos — as partes não convencionais, que normalmente são desprezadas por falta de conhecimento ou preconceito da população”, explica a nutricionista.
Tudo pode ser aproveitado, garante Camila. “O conceito do não desperdício e do AIA pode — e deve — ser realizado no dia a dia por qualquer pessoa, independentemente da classe socioeconômica. Isto significa eliminar alguns preconceitos alimentares — como o de que este tipo de alimentação é somente para população de baixa renda.
A nutricionista da ONG Banco de Alimentos salienta que este é um hábito tradicional da população brasileira que, normalmente, não utiliza partes não convencionais dos alimentos, que podem ser aproveitadas para preparar pratos saudáveis e sustentáveis. Além disto, ela comenta que tal prática também ajuda a reduzir o lixo e a combater o problema da má alimentação no Brasil.
“A solução para este sério problema pode partir da modificação de atitudes e costumes que cultivamos em nosso lar. Aproveitar integralmente um alimento é importante e está associado a ganhos para toda a sociedade,” aconselha.
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Consultoria: Daísa Pinhal – Nutricionista / Tamara Mazaracki – Nutróloga / Camila Mendes Kneip – Nutricionista
Campeões de aproveitamento
Tamara Mazaracki enumera as principais frutas e legumes cujas cascas, talos, folhas e sementes são muito nutritivos e devem ser usados integralmente:
Abóbora
É a campeã, porque sua casca é rica em fibras, potássio, betacaroteno, luteína e zeaxantina (importantes para a visão), vitaminas A e C (potentes antioxidantes), e pode ser aproveitada no preparo de sopas, massas de panqueca ou bolos. Por sua riqueza em enzimas, ela é utilizada na indústria cosmética. As sementes, geralmente descartadas, são fontes de betacaroteno, Ômega-3 e minerais como o zinco, manganês, magnésio, fósforo, ferro e cobre. Além disso, as sementes fornecem proteína, aminoácidos como triptofano (precursor de serotonina, o neurotransmissor do bem-estar) e arginina (crescimento muscular), e mais fitosterois (ação reguladora do colesterol e protetora da próstata). Também atua como vermífugo. A semente de abóbora deve ser seca no forno baixo, tostada e ingerida como petisco, ou moída como uma farinha e usada em sucos ou no preparo de pratos diversos.
Cenoura
A casca, que é muito mais rica em betacaroteno e vitamina A do que a polpa, pode ser aproveitada no preparo de sucos e sopas. Suas folhas são riquíssimas em vitamina C, carotenoides, luteína e zeaxantina (que previne a degeneração macular senil, a maior causa de cegueira na idade avançada), cálcio (essencial para dentes e ossos fortes, prevenção da osteoporose), e ácido fólico. Ainda podem ser usadas em refogados, sopas, omeletes e suflês.
Beterraba
Suas folhas e talos são excelentes fontes de vitaminas A e K, betacaroteno, luteína, clorofila, cálcio, magnésio, potássio, ácido fólico. Podem ser refogadas ou acrescentadas em sopas, caldos e no feijão, e ainda ficam ótimas no suco verde.
Kiwi
A casca pode ser consumida junto com a fruta ou no preparo de sucos. É rica em compostos fenólicos, bioflavanoides e vitamina C. Fonte de fibra insolúvel, tem propriedade laxativa e melhora a função intestinal.
Batata
Rica em minerais, vitamina C e fibras, a casca fica bem macia e dá um crocante interessante na batata frita, assada ou cozida.
Couve-flor
As folhas são fonte de vitamina C, K e A, folato e minerais como cálcio, potássio, magnésio e fósforo. Podem ser refogadas, usadas em recheios de panquecas e acrescentadas ao suco verde.
Mamão
Sua casca é muito rica em betacaroteno e na enzima papaína, com ação digestiva e anti-inflamatória. Pode ser utilizada no preparo de bolos, ensopados e sucos. A semente do mamão favorece o bom funcionamento do intestino e pode ser misturada ao iogurte ou acrescentada em saladas.
Banana
A casca contém o dobro do potássio presente na fruta, além de vitaminas C, A e complexo B. Pode ser usada no preparo de diversas receitas, como bolos, pudins, compotas e outros doces.
Maracujá
A casca possui grande quantidade de fibras solúveis (pectina), que ajudam na função intestinal e no controle da glicemia; além da antocianina, um bioflavonoide que protege os vasos sanguíneos e o coração. Esta parte da fruta deve ser secada ao forno, depois moída e acrescentada como uma farinha no preparo de bolos, biscoitos, pães e sucos.
Laranja e limão
A casca de cítricos é riquíssima em vitamina C, bioflavonoides e pectina, e ainda agrega valor nutricional no preparo de bolos, geleias, doces e compotas.
Melancia
A casca da melancia (parte branca) é pura pectina, tem potássio e magnésio, vitaminas C, B6 e A, e citrulina – um aminoácido que ajuda a relaxar os vasos sanguíneos e melhora a irrigação dos tecidos. Pode ser usada no preparo de doces e compotas. As sementes de melancia são um verdadeiro arsenal de nutrientes, uma excelente fonte de zinco, cálcio, magnésio, potássio, fósforo, ferro e manganês, vitaminas do complexo B, proteína e ácidos graxos essenciais. Elas podem ser torradas levemente e comidas ao natural, ou moídas e depois acrescentadas aos sucos ou no preparo de pães, biscoitos ou bolos.
Abacaxi
A casca é rica em vitamina C, bromelina (uma enzima com ação anti-inflamatória) e muita fibra. Pode ser usada no preparo de bebidas fermentadas, bolos e doces.
Manga
A casca de manga é rica em vitamina A, betacaroteno, vitamina C e fibras. Pode ir no preparo de bolos, geleias e compotas.
Frutas com casca fina
As cascas da maçã, pera, pêssego, nectarina e ameixa contêm carotenoides, muita fibra, vitamina C e compostos fenólicos antioxidantes. Vai bem a qualquer tipo de preparação e nos sucos.