Empresa usa tecnologia para encurtar o caminho das frutas, verduras e legumes do campo à mesa
A Arado, empresa que participa do SNASH, ecossistema de inovação apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), nasceu da experiência pessoal dos fundadores – que tem na história familiar avôs e avós que proviam o sustento para as famílias através do trabalho no campo – e permitiram aos filhos escolherem outros caminhos.
“Quando nos juntamos ao redor da ideia de olhar para o campo como fonte de oportunidades, vimos que a cadeia de suprimentos de frutas, legumes e verduras (FLV) do Brasil mudou muito pouco desde a década de 1950 para cá, com boa parte da distribuição ainda passando pelos CEASAs”, detalha o engenheiro, COO e co-fundador da Arado, Bruno Bichiato Mengatti
“Indo a fundo, vimos que havia uma grande oportunidade de trazer mais valor para essa cadeia, nos conectando diretamente aos produtores e também aos clientes – restaurantes e varejistas –, encurtando o caminho do campo à mesa”, acrescenta o engenheiro..
Segundo ele, ao usar a tecnologia para encontrar melhores oportunidades para comprar e vender os produtos, conectando as diferentes cidades onde atuam, e otimizar a cadeia para diminuir o desperdício, percebeu-se que era possível remunerar melhor os pequenos produtores, minimizar o desperdício de comida e ser competitivo para os negócios que consomem FLV, levando frescor e conveniência.
O engenheiro, COO e co-fundador da Arado, Bruno Bichiato Mengatti. (Foto: Divulgação)
Objetivos da startup
O propósito, segundo o CCO, é ser o melhor parceiro de negócios para pequenos e médios produtores rurais do Brasil, trazendo as melhores oportunidades de remuneração e conveniência.
“Além disso, queremos oferecer acesso a mercados antes opacos, garantindo maior aproveitamento das suas produções. Isso só é possível levando frescor, bons preços e vantagem também para os estabelecimentos das cidades que compram esses produtos – e é esse o caminho que escolhemos para destravar valor para toda a cadeia de frescos”, completa
Impactos na logística da cadeia de alimentos
O executivo conta que, ao desenvolver soluções tecnológicas que otimizam a cadeia de alimentos frescos de ponta a ponta, da captura de preços praticados em mercados vendedores e compradores, a empresa facilita a comunicação entre produtores e estabelecimentos, gestão de calendários de colheita, otimização do trabalho nos galpões e da rede de transportes, da coleta no campo à entrega ao cliente.
“Nossa tecnologia também ajuda a prever a demanda com precisão, minimizando sobrecompra e, por consequência, desperdício de alimentos. Assim, conseguimos níveis de desperdício até 10x menores do que a cadeia tradicional, enquanto levamos os produtos para os nossos clientes em menos de 24h depois da colheita, em muitos casos”, detalha Mengatti.
A importância de ser um canal de venda
Conforme explica o executivo, os pequenos e médios produtores de alimentos costumam estar associados a uma cadeia de distribuição criada na década de 1950, através dos CEASAs.
“Essa cadeia funciona até hoje de forma muito similar desde que foi criada, e é composta por diversos intermediários (o parceiro atravessador, o distribuidor do CEASA, o lojista, o pequeno distribuidor) entre o campo e o consumidor. Essa estrutura pode ser hostil para o produtor, que muitas vezes não tem outros meios de escoar sua produção”, relata.
O executivo destaca que com o uso da tecnologia é possível atingir níveis de desperdício até 10x menores do que a cadeia tradicional, além de levar os produtos para os nossos clientes em menos de 24h depois da colheita. (Foto: Divulgação)
Na avaliação do COO, há muita falta de transparência nos valores, fazendo com que os produtores capturem menos de 10% do que geram. Os produtores participam do risco de desperdício com outros atores da cadeia, e, em geral, só recebe pelo que vendeu, e muitas das vezes, só 45 dias após a entrega da colheita.
“Em nossas entrevistas, frequentemente conversamos com produtores que pareciam passar mais tempo fazendo a gestão do fluxo de caixa de suas produções (e, portanto, da renda familiar) do que trabalhando para produzir mais e melhor”, exemplifica.
Conforme Mengatti, a abordagem da empresa vai na direção da transparência e parceria. “Sempre que compramos dos produtores, informamos o preço que pagaremos naquele momento, e tudo que eles nos entregam dentro do padrão de qualidade que pedimos, se torna de nossa responsabilidade. Ou seja, se houver desperdício, não repassamos ao produtor”, reforça.
Além disso, ele acrescenta que o pagamento é realizado da maneira mais rápida possível, e de forma previsível (semanalmente), permitindo que o produtor se organize com mais tranquilidade em relação aos seus ganhos e gastos.
“Isso só é possível porque buscamos clientes diretamente e servimos a uma ampla gama de clientes – restaurantes, varejistas, bares, hospitais, etc. Tornando nossa demanda previsível e com baixo nível de risco, permitindo estabelecer parcerias sólidas com os produtores da nossa base”, acrescenta.
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Principais desafios
Na visão do executivo, o maior desafio da cadeia de frescos é torná-la mais curta – garantir que, do campo à mesa, os produtos passem por menos intermédios, menos caminhões, menos galpões, e cheguem mais rápido e frescos aos consumidores finais. “Isso demanda a criação de uma malha mais conectada entre produtores e consumidores, para que as oportunidades de escoamento da produção sejam maximizadas”, avalia.
Atualmente, segundo ele, o segmento trabalha numa lógica de empurrar a produção – independente da demanda, e sem clareza da demanda dos mercados que recebem as cargas.
“Nós, em contrapartida, estamos transformando a cadeia numa cadeia puxada. Partindo da demanda, conseguimos trabalhar junto aos produtores para planejarem suas plantações e colheitas, garantindo menos risco para a cadeia. Como atuamos da ponta produtora à consumidora, conseguimos garantir que os produtos tenham o mínimo de manipulação possível” , comenta.
Mengatti acrescenta ainda que existem desafios externos grandes, como a imprevisibilidade do clima, que acaba acelerando ou atrasando safras, e que desafia os pequenos produtores, que costumam ter menos infraestrutura para lidar com chuvas inesperadas, calores fora de época, secas estendidas. “Esse é um desafio a ser solucionado, seja por políticas públicas ou por uma solução de mercado, mas que afeta todo o setpr de distribuição de alimentos no Brasil”, alerta.
Panorama do setor
O engenheiro lembra ainda que o Brasil é um país com cultura alimentar rica que valoriza a diversidade produtiva que sua terra oferece. Assim, o segmento de distribuição de alimentos frescos é abundante e com boas perspectivas para seguir uma fortaleza no país.
No entanto, ele ressalta que o futuro do segmento precisa ser construído, solucionando as necessidades de ganho de eficiência da cadeia, com diminuição do desperdício, transparência e pagamento justo aos produtores. Além de disso ele diz que é preciso solucionar as oportunidades de ganho de resiliência em face às mudanças climáticas que afetam desproporcionalmente os pequenos produtores.
“O futuro é brilhante, mas demanda empreendedores que passem a construí-lo desde já, partindo dos desafios de hoje”, arremata Mengatti.
