Empresa promove revolução no mercado plant-based (Foto: Divulgação)
Fundada em 2022, a Bean Possible é uma startup de base tecnológica emergente da UFRJ, com o propósito de tornar os sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e democráticos. Especializada no desenvolvimento de ingredientes vegetais, a partir de subprodutos agroindustriais, a empresa se destaca por seu compromisso com inovação, segurança alimentar e sustentabilidade.
Os ingredientes em desenvolvimento consistem na proteína (concentrada ou isolada), na fibra e no amido de subprodutos de feijão (grãos quebrados, escuros, duros e irregulares), os quais possuem perfis nutricionais e desempenho compatíveis para aplicação em diferentes categorias de produtos à base de plantas (plant-based).
“Atualmente, a Bean Possible está expandindo suas parcerias estratégicas para aumentar a escala de sua tecnologia de produção e validar seus produtos em nível industrial e comercial. Esse movimento posiciona a empresa para atender com excelência às demandas de crescente do mercado de alimentos plant-based, projetado em US$ 95,5 bilhões globalmente até 2029, com um crescimento anual de 12,4%”, detalha o CEO da startup, Gabrielle Gautério.
Formada em Engenharia de Alimentos, com mestrado e doutorado em Engenharia e Ciência de Alimentos, Gabrielle prevê que, no Brasil, esse mercado deve alcançar US$ 425,3 milhões até 2026, destacando o país como líder em consumo de alimentos plant-based na América Latina.
Segundo ela, o desenvolvimento de ingredientes pela startup supre a carência do setor plant-based por proteínas vegetais produzidas com tecnologias e matérias-primas nacionais, já que cerca de 90% das utilizadas na formulação de análogos vegetais são importadas, implicando em fatores como inconsistência de fornecimento, preço elevado de compra, taxas de importação e longos prazos de entrega.
“Além disso, o mercado plant-based também demanda ingredientes sustentáveis e com performance sensorial e tecnológica que contribua positivamente na criação de novos produtos”, complementa a diretora executiva.
História
A Bean Possible integra a Incubadora de Empresas da COPPE/UFRJ e o hub de inovação da Sociedade Nacional de Agricultura (SNASH), possuindo contrato de parceria com o Laboratório de Engenharia de Sistemas Biológicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para uso compartilhado de infraestrutura laboratorial e equipamentos, contribuindo com o corpo docente do mesmo na concepção e execução de projetos paralelos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I) na área de Tecnologia e Bioprocessos em Alimentos.
A startup também é uma das empresas contempladas pelo Programa Doutor Empreendedor (FAPERJ), mentorada pelo programa AstELLAS (Astella) e acelerada pelos programas Academia-Industry Training (Swissnex), InovAtiva Brasil (CERTI), Conecta Startup Brasil (Softex), Shell Iniciativa Jovem (CIEDS) e Empreendedoras Tech (ENAP e Impact Hub).
Em termos de reconhecimento, a empresa foi finalista na competição Falling Walls Lab Brazil (2023), conquistou o 3º lugar na competição de pitchs da 8ª edição do Academia-Industry Training (2022) e o 1º lugar entre as startups do ciclo de ideação do programa Shell Iniciativa Jovem.
“A Bean Possible foi idealizada por dois doutores em Engenharia e Ciência de Alimentos, eu e o Ailton Lemes, ambos com vasta experiência em pesquisa científica nas áreas de Tecnologia e Bioprocessos em Alimentos e Valorização de Subprodutos Agroindustriais”, informa Gabrielle.
A ideia do negócio, segundo a CEO, nasceu quando ela participou da 8º edição do Academia-Industry Training, programa de aceleração com foco em empreendedorismo científico. idealizado pela Swissnex e apoiado pelo CNPq e a Universidade de St. Gallen (Suíça).
“Durante o programa, transformei um projeto de pesquisa, originalmente liderado por Ailton, que visava à obtenção de proteínas a partir de diferentes tipos de feijões, em uma ideia de negócios inovadora. A partir daí, ações como pesquisa de mercado aprofundada, estudo e validação do problema e oportunidade de mercado, conversas com diversos atores do setor plant-based e criação da marca ‘Bean Possible’ deram forma e segmento ao projeto”, recorda.
Propósitos da startup
A empresa, conforme explica Gabriele, tem como missão tornar os sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e democráticos. Para isso, tem como objetivo macro entregar setor de alimentos plant-based ingredientes vegetais inovadores e de alta performance, produzidos a partir de matéria-prima circular e tecnologia de produção nacional.
“Hoje, um dos principais objetivos internos da empresa é levar sua tecnologia de transformação de subprodutos em ingredientes para uma escala piloto de produção, o que permitirá a chegada mais rápida dos seus ingredientes no mercado”, complementa a diretora executiva.
Em relação a como as soluções da empresa impactam a cadeia produtiva do feijão e o segmento de ingredientes, ela cita que a cultura é de extrema importância no Brasil, tanto do ponto de vista econômico quanto social. Grande parte da produção de feijão no Brasil está nas mãos da agricultura familiar, que responde por cerca de 70% da produção nacional.
“O Brasil é um dos maiores produtores de feijão do mundo, com uma produção anual que gira em torno de 3 milhões de toneladas, principalmente das variedades carioca e preto. Essa produção gera quantidades significativas de subprodutos, como grãos quebrados, escuros, duros e irregulares, que muitas vezes são descartadas ou subutilizados”, comenta.
Nesse viés, ao propor o uso desses subprodutos como matéria-prima para a obtenção de ingredientes vegetais, a Bean Possible não só valoriza essa biomassa agroindustrial, mas também contribui diretamente para a sustentabilidade da cadeia produtiva do feijão.
Outro ponto de destaque citado pela CEO é o impacto socioeconômico positivo para os produtores familiares de feijão, que poderiam se beneficiar da criação de novos mercados para os subprodutos gerados em suas lavouras.
“Ao agregar valor a esses resíduos, podemos contribuir para ao umento da renda dos pequenos e médios agricultores, promovendo a inclusão desses produtores na cadeia de valor da bioeconomia e na indústria de alimentos inovadores”, enfatiza a executiva.
Não menos importante, ela observa que o desenvolvimento de ingredientes vegetais, adequados para o consumo humano, especialmente em alimentos plant-based, pode contribuir para o aumento da oferta de alternativas sustentáveis e mais acessíveis à população, alinhadas às demandas de uma população crescente e que busca alimentos mais saudáveis e com menor impacto ambiental.
“Um dos fatores que influenciam na aderência da população ao consumo de alimentos plant-based está associado ao custo elevado destes no mercado brasileiro, ocasionado em parte pelo uso de proteínas vegetais importadas na sua formulação. Logo, a Bean Possible também contribui para maior acesso destes produtos à população, ao desenvolver ingredientes produzidos com tecnologia nacional e matéria-prima local e sustentável”, pontua.
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Mercado
Sobre as ações da empresa para o desenvolvimento das atividades do setor, a CEO destaca a importância dos serviços disponibilizados, agregando inovação, sustentabilidade e acessibilidade no setor plant-based nacional, ao transformar subprodutos do feijão em novos ingredientes alimentares.
“Nossos produtos incluem ingredientes vegetais em pó, como proteína concentrada, fibra e amido, que podem ser incorporados em formulações alimentícias para aumentar o valor nutricional e melhorar sabor, textura e aparência dos alimentos plant-based”, lista.
Ela acrescenta ainda que, ao utilizar matéria-prima circular, a empresa reduz os custos de produção, tornando os alimentos plant-based mais acessíveis, já que o alto preço desses produtos muitas vezes está relacionado ao uso de ingredientes importados. Além disso, os ingredientes produzidos agregam sustentabilidade e brasilidade aos produtos, oferecendo vantagens competitivas no mercado.
Desafios do segmento
Gabrielle ressalta que um dos principais desafios do setor, e no qual a empresa direciona suas ações para mitigá-lo, está atrelado ao custo dos ingredientes e produtos, já que muitos dos ingredientes utilizados nas formulações plant-based, como proteínas vegetais ainda são importados. “Isso dificulta a popularização desses produtos em comparação com alimentos convencionais de origem animal”, avalia.
Ainda segundo ela, outro desafio está atrelado à sustentabilidade da cadeia de suprimentos, pois apesar de serem considerados mais sustentáveis, alguns produtos plant-based ainda dependem de monoculturas ou processos que têm impacto ambiental considerável. “Desenvolver cadeias de fornecimento mais sustentáveis e locais é um desafio contínuo”, reforça.
Outro desafio mencionado pela diretora executiva é a escalabilidade da produção, uma vez que a indústria plant-based no Brasil ainda está em fase de crescimento e enfrenta desafios nesse sentido, especialmente em relação ao desenvolvimento de cadeias de fornecimento locais e infraestrutura industrial adequada para atender a uma demanda crescente.
Segundo ela, existem também desafios ligados à tecnologia e à inovação, pois, para criar produtos plant-based que realmente mimetizem as características sensoriais e nutricionais dos produtos de origem animal, é necessário investir em tecnologias avançadas de processamento e pesquisa em ingredientes.
“Maior investimento governamental em P&D e em infraestrutura tecnológica, parcerias entre academia e indústria e programas que apoiem à inovação no setor, especialmente às startups, são ações que mitigam este desafio”, sugere a CEO.
Por fim, ela acredita que o segmento de alimentos plant-based no Brasil está em expansão, impulsionado pela crescente demanda por alternativas sustentáveis e saudáveis. O consumo desses produtos tem aumentado, especialmente entre flexitarianos e consumidores preocupados com questões ambientais.
Na avaliação da sócia fundadora da startup, as perspectivas para o futuro são promissoras e a expectativa é que, com o aumento da escala de produção e o desenvolvimento de ingredientes locais, os custos de produção diminuam, tornando os alimentos plant-based mais acessíveis.
Além disso, ela prevê que, com a inovação tecnológica, impulsionada por biotecnologia e novas técnicas de processamento, deve melhorar a qualidade e a competitividade desses produtos. “O Brasil tem o potencial de se tornar um polo de inovação no setor, especialmente se houver maior integração entre academia e indústria e o apoio governamental com políticas de incentivo à produção sustentável”, comenta.
Para ela, a entrada de grandes players no mercado plant-based e a crescente aceitação desses produtos pelos consumidores também devem incentivar o crescimento do setor.
“Com a melhoria da regulamentação e campanhas educativas, a percepção de que esses alimentos são destinados apenas a veganos e vegetarianos tende a mudar, ampliando o público e fortalecendo o segmento no mercado nacional”, arremata a CEO da Bean Possible.