A startup Bioca desenvolveu uma tecnologoia capaz de dar transparência e valorizar os atributos sustentáveis da produção agrícola (Foto: Divulgação/Bioca)
A Bioca, startup cofundada por Thomaz Falcão, alia blockchain e sustentabilidade. A empresa desenvolveu uma plataforma de rastreabilidade que conecta pequenos e médios produtores com mercados e consumidores exigentes, garantindo transparência e valorização dos produtos agrícolas.
Antes de fundar a startup – que integra o SNASH – , Falcão já acumulava experiência no mundo do empreendedorismo. Ele esteve à frente da Brownie do Luiz, uma empresa carioca especializada em brownies, que cresceu rapidamente e ganhou o gosto dos consumidores.
Mas foi aí que Thomaz começou a questionar a cadeia de valor dos produtos que comercializava, especialmente a dependência de matérias-primas importadas de grandes empresas do setor de chocolates.
“Eu estava vendendo bolinhos de chocolate com achocolatado que a gente comprava de uma multinacional europeia que pegava cacau na África. Comecei a me questionar sobre isso e estudar mais o assunto. E vi que o Brasil já tinha sido um dos maiores produtores de cacau do mundo, principalmente na Bahia”, disse em entrevista à Revista A Lavoura.
Movido por essa inquietação, Thomaz se mudou para o sul da Bahia, onde começou a trabalhar diretamente com a produção de cacau orgânico.
A experiência foi transformadora e o fez refletir sobre a importância de garantir a transparência e rastreabilidade dos produtos ao longo da cadeia produtiva.
A partir dessa visão, nasceu a Bioca. A startup oferece uma solução tecnológica, utilizando o blockchain para garantir que todos os dados relacionados à produção agrícola sejam transparentes e imutáveis.
Isso permite que produtores registrem cada etapa de seus processos — desde a colheita até a industrialização — e que essas informações sejam acessíveis ao consumidor final por meio de um QR code na embalagem de uma barra de chocolate, por exemplo.
Mercado europeu
Segundo Falcão, o sistema é projetado para garantir a máxima transparência e segurança de dados, o que pode ajudar tanto os pequenos produtores quanto às empresas a se alinharem às novas exigências de mercados regulados, como a União Europeia.
“Nossa plataforma atende à crescente demanda por rastreabilidade, especialmente em setores como cacau e café, onde as regulamentações europeias exigem total transparência da origem do produto”, explica Thomaz.
Aprovada no ano passado pelo Parlamento Europeu, a nova regulamentação europeia exige que alguns produtos importados pelos países do bloco comprovem que sua produção não está relacionada ao desmatamento.
Entre os produtos que terão que cumprir as novas exigências estão gado, madeira, cacau, café, borracha, óleo de palma, soja, além de produtos feitos a partir dessas matérias-primas, como chocolate, móveis e papel.
Foco em pequenos e médios produtores
Diferente de outras soluções voltadas para grandes corporações e produtores, a Bioca está focada em pequenos e médios agricultores.
“Nosso diferencial é atender aqueles que possuem menor escala. Não atendemos essa grande indústria, a gente atende médios e pequenos produtores, que tenham uma produção com práticas sustentáveis e que queiram valorizar e divulgar isso”, explica Thomaz.
A startup visa humanizar o processo de produção, valorizando o trabalho desses agricultores e destacando suas histórias através da plataforma.
Essa abordagem tem atraído produtores que buscam práticas mais sustentáveis e desejam valorizar seus produtos no mercado.
Além disso, a utilização do WhatsApp para registro das atividades no campo facilita o uso da plataforma, permitindo que agricultores integrem seus dados de forma simples e rápida, o que aumenta a adesão ao sistema.
Conectando produtores e consumidores
Um dos grandes objetivos da Bioca é mostrar tanto aos produtores quanto aos consumidores a importância da rastreabilidade. A empresa já possui seis projetos em andamento, incluindo cadeias de cacau, café, mel e cúrcuma.
“Queremos que o consumidor final saiba quem plantou, onde e como foi produzido o que ele consome. É um movimento de transparência que já está mais avançado na Europa e nos Estados Unidos, mas que está começando a ganhar força no Brasil”, afirma o fundador.
Thomaz acredita que, com o tempo, as indústrias estarão dispostas a pagar um prêmio por produtos que seguem práticas sustentáveis e possuem uma cadeia produtiva totalmente rastreável, valorizando ainda mais o trabalho dos pequenos agricultores.
“É uma nova cultura de consumo, onde saber a origem do produto é tão importante quanto sua qualidade”.