Plataforma da Fishcode espera aproximar o consumidor brasileiro de informações importantes sobre peixes. Apesar do enrme litoral e biodiversidade, consumo de pescado no país ainda está muito abaixo da média mundial
O Brasil, com seu extenso litoral e rica biodiversidade aquática, ainda enfrenta um desafio paradoxal: o baixo consumo de pescado pela população.
Segundo Marcelo Monteiro, sócio-fundador da startup Fishcode, o brasileiro consome, em média, apenas 9 quilos de peixe por ano, muito abaixo da média mundial de 20 quilos e bem distante de países como Portugal, onde o consumo chega a 56 quilos per capita.
Essa discrepância motivou a criação da Fishcode – startup que integra o SNASH, hub de startups apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura.
“Quando a gente vai a fundo, nos dados, vemos realmente que o brasileiro come muito pouco peixe”, explica Monteiro, em entrevista à Revista A Lavoura.
Um dos gargalos diagnosticados por ele foi a falta de acessso à informação por parte dos consumidores.
“Pra você achar informações de peixe é muito difícil. Hoje, você não consegue achar”.
Para isso, a Fishcode começou com a criação de uma plataforma digital que cataloga diversas espécies de peixes, não do ponto de vista técnico, mas com foco no consumidor.
“Se você digitar hoje no Google ‘peixes sem espinha para criança’, a gente vai aparecer nas primeiras páginas”, explica Marcelo.
A plataforma oferece informações detalhadas sobre os melhores peixes para cada tipo de preparo, além de dicas práticas de culinária, tornando o consumo de peixe mais acessível e atraente para os brasileiros.
Além disso, a Fishcode lançou a vitrine digital “A Peixaria Perto de Mim“, onde peixarias podem se cadastrar e pagar uma mensalidade para exibir seus produtos e serviços.
Esse serviço, segundo Marcelo, vem ajudando a digitalizar um setor que ainda opera de forma muito tradicional.
“As peixarias não são nada digitalizadas e não agregam valor em termos de facilitar o consumo”, afirma.
Expansão de conteúdo
Com a plataforma estabelecida, o próximo passo da Fishcode é expandir a criação de conteúdo.
A startup tem parcerias com chefs especializados em frutos do mar, que fornecem dicas básicas sobre como preparar diferentes tipos de peixes.
“A gente não quer apenas receitas elaboradas, mas sim ensinar o básico, como grelhar um peixe ou preparar uma lula empanada”, conta Marcelo.
Além das parcerias com chefs, a Fishcode também está de olho em colaborações com grandes varejistas. Já existem projetos apresentados para dois dos maiores varejistas do país, com o objetivo de tornar o pescado mais acessível e atrativo dentro dos supermercados.
Segundo Marcelo, o Brasil pode olhar como inspiração supermercados no exterior, como o Whole Foods, por exemplo.
“Lá, o peixe é apresentado de forma que dá vontade de comprar…você encontra hambúrguer de peixe, almôndega, filé empanado”, sugere.
Desafios e oportunidades no mercado de pescado
Apesar das iniciativas inovadoras, Monteiro reconhece que o mercado de pescado no Brasil ainda enfrenta muitos desafios, como a qualidade do pescado e o desperdício na cadeia de produção.
“Não falta matéria-prima, o que falta é uma cadeia bem estruturada”, explica.
Estima-se que 30% a 40% das espécies pescadas são desperdiçadas, e fraudes na venda de espécies também são comuns.
A Fishcode, porém, está determinada a superar essas barreiras, ajudando as peixarias a melhorar a qualidade do pescado e a apresentar opções mais variadas e atraentes para os consumidores.
A empresa também busca envolver o consumidor na experiência, com avaliações e sugestões de preços que possam ajudar a nivelar o mercado e torná-lo mais competitivo.
Com um crescimento totalmente orgânico, sem investimento externo, a plataforma já atinge de 20 a 30 mil acessos mensais de forma orgânica, com picos que chegam a superar os 50 mil acessos.
“A gente quer um crescimento muito pé no chão, muito orgânico, para realmente a coisa funcionar”, finaliza Marcelo.