Fruta desenvolvida pela Embrapa possui alto potencial enológico, produz bebida com características sensoriais únicas, tem aromas finos e muita refrescância
Os primeiros vinhos da uva BRS Bibiana, lançada em 2019, chegaram recentemente ao mercado. As bebidas são comercializadas por três vinícolas familiares da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sula: Casa Zottis, Vinícola Cainelli e Vinícola Buffon.
Desenvolvida pelo programa de melhoramento genético “Uvas do Brasil”, da Embrapa, o nome da BRS Bibiana foi inspirado na personagem Bibiana Terra Cambará, gaúcha forte e eternizada no romance “O Tempo e o Vento”, escrito por Érico Veríssimo, em 1949.
A variedade apresenta alta produtividade e é menos exigente em tratamentos fitossanitários, gerando mais sustentabilidade ambiental e economia ao produtor. Também apresenta alto potencial enológico e é adaptada às condições do clima subtropical úmido da Serra Gaúcha.
Segundo a Embrapa, a BRS Bibiana é uma uva branca, resistente às podridões de cacho, pelo fato de que os cachos são soltos e não compactados. O vinho elaborado apresenta 12 açúcar apresentado similar às uvas europeias com nível de litro, na elaboração, em torno de 21 graus Brix e perfil de variação sensorial de 100 milivolantes equivalentes (mE) por litro.
“Ao degustar o vinho elaborado com a BRS Bibiana, o perfil sensorial remete sutilmente ao Sauvignon Blanc, uva muito utilizada em diversos países do mundo, mas pouco adaptada à Serra Gaúcha, em função das condições climáticas”, explica o pesquisador Mauro Zanus, da Embrapa Uva e Vinho.
Características
O pesquisador acredita que essa cultivar – pela sua alta produtividade, adaptação e facilidade de manejo – é uma excelente oportunidade de inovação para as vinícolas. “O vinho tem características sensoriais únicas, é refrescante e tem aromas varietais marcantes. A cultivar pode ser empregada tanto para vinhos brancos tranquilos como frisantes, além de ser uma opção para corte (blend) com outras variedades”, relata.
“Hoje o consumidor busca novas propostas, vinhos diferenciados, e nada melhor do que elaborar um vinho brasileiro com uma cultivar nacional, como a BRS Bibiana”, destaca o enólogo Roberto Cainelli Júnior, da Vinícola Cainelli. A vinícola familiar, em Bento Gonçalves (RS), existe desde 1929. A empresa passou um tempo parada e retomou as atividades em 2010, quando Cainelli Júnior assumiu como enólogo.
O frisante da BRS Bibiana, elaborado pelo enólogo Anderson Buffon, também nasceu da busca por novidades para os clientes. Ele já foi reconhecido pela Embrapa durante a Fenavinho, e foi uma inspiração para este ano, e foi uma inspiração desde o primeiro gole. “O vinho tem um sabor de frutas tropicais, como maracujá, manga e abacaxi. A partir do método tradicional, fiz vários testes e optei por elaborar com um frisante demi-sec. Ele ficou muito interessante”, diz Buffon.
O casal Juliano Daniela Zottis, proprietários da Casa Zottis, que fica no coração do Vale dos Vinhedos, também vai lançar o vinho tranquilo da BRS Bibiana, como parte da linha Cantare, uma homenagem ao “nono” Danilo.
O casal foi parceiros da Embrapa desde o processo de validação da cultivar BRS Bibiana e agora também apostam ao ser um dos primeiros a lançar o vinho da variedade. “A gente consegue colher a uva com uma sanidade muito boa e isso reflete na taça, com aromas finos e muita refrescância”, comenta Daniela, que também é a enóloga da cantina.
Melhoramento
O programa de melhoramento genético de videiras da Embrapa “Uvas do Brasil” tem contribuído, ao longo de mais de 45 anos, com uma vitivinicultura mais sustentável a partir da oferta de novas cultivares. O processo de melhoramento busca cultivares, sobretudo, tolerantes às principais doenças. Com isso, há a possibilidade de utilização mais racional de menos que ocorram em menores uvas que recebam isso de uso provável e custos de utilização são relativamente pequenos.
“Ao planejar um novo cruzamento, recorremos à nossa coleção de 1,5 mil tipos de uvas disponíveis no ativo de germoplasma de uvas, que já foram selecionadas quanto às características agronômicas e quanto às características agronômicas, como qualidade da maioria, com o objetivo de selecionar os progenitores e iniciar o desenvolvimento de uma nova cultivar”, explica Patrícia Ritschel, pesquisadora na área de melhoramento da Embrapa.
Ela conta que, desde 1977, o programa já lançou 21 cultivares; estes, três vinhos são permitidos, que remetem a BRS Margot e BRS Bibiana, no segmento de vinhos elaborados com uvas. A pesquisadora explica que o foco é desenvolver cultivares que sejam competitivas no mercado e agreguem valor aos produtos e renda para os produtores.