Grupo de mulheres em Diamantina, região Central de Minas Gerais, montou uma agroindústria de polpa de frutas, fornecida para escolas e comércio local
A comercialização de frutas in natura e polpa de frutas foi a solução para um grupo de mulheres de Diamantina, região Central de Minas Gerais, superar as dificuldades financeiras. Os produtos são fornecidos para escolas e comércio local. A atividade é a principal fonte de renda de suas famílias. Mas para chegar até aqui, além de muita dedicação, elas tiveram de vencer as críticas até dos próprios maridos.
As produtoras vivem na comunidade Maria Nunes, onde o garimpo de ouro e diamante sempre foi importante. Por muito tempo, a atividade foi a principal fonte de renda do local. No entanto, há 20 anos, o garimpo deixou de ser uma boa opção para a comunidade.
“O garimpo estava acabando”, diz Patrícia de Jesus Santos, presidente da Associação Agroindústria Sabor do Vale. “Vieram pessoas de outras localidades, com melhores condições de explorar o garimpo, porque tinham máquinas melhores”, diz uma das integrantes da associação, Vanilda dos Santos Ribeiro Alcântara.
Havia, ainda, outro problema na comunidade: a baixa qualidade da alimentação das crianças. “Tinha um índice muito grande de desnutrição entre as crianças daqui”, diz Vanilda Alcântara.
Dias de Luta
As dificuldades começaram a ser superadas com a ajuda da ONG Programa Caminhando Juntos (Procaj). Em 2000, um projeto elaborado pela entidade foi aprovado pela Petrobras. Isso viabilizou a implantação de uma horta comunitária na comunidade. O espaço ficou na responsabilidade de um grupo de 33 mulheres.
Elas contaram com toda assistência técnica da Emater-MG, empresa vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Porém, o resultado não foi o esperado. “O solo aqui não é muito bom e tivemos de mudar”, explica Vanilda.
O grupo ainda tinha de conviver com as críticas dos próprios maridos. “Eles achavam que lugar de mulher é dentro de casa”, lembra Vanilda Alcântara. A produtora também conta que outras pessoas da comunidade não acreditavam no sucesso da iniciativa. “Foi muito difícil”.
Mudança de planos
A nova atividade escolhida foi a fruticultura. No lugar da horta foi implantado um pomar com maracujá, abacaxi, goiaba e manga entre outras. Desta vez deu tudo certo. O grupo criou a Associação da Agroindústria Sabor Vale e passou a comercializar frutas in natura na comunidade, sendo parte da produção para o consumo das próprias famílias. “Vendíamos de porta em porta”, diz Vanilda.
“E quando sobrava, a gente doava”, completa Patrícia Santos. Com isso, elas conseguiram melhorar a qualidade da alimentação dos filhos e obter renda para sustentar suas famílias.
Mais uma vez, o grupo contou com a trabalho da Emater-MG. A empresa, além de prestar assistência técnica para o manejo adequado das frutas, orientou e auxiliou as produtoras em todo o processo de inclusão de seus produtos no mercado institucional.
Novo Desafio
Algum tempo depois, as produtoras decidiram pela a produção de polpa de frutas. Mais uma vez, elas contaram com o Procaj para a elaboração de um projeto, que foi selecionado por meio de edital pela Petrobras. Com os recursos obtidos, a associação adquiriu equipamentos e construiu o prédio da agroindústria.
Como o dinheiro não foi suficiente para contratar mão de obra necessária, as mulheres literalmente colocaram a mão na massa. “O ajudante de pedreiro tinha de ser a gente mesmo”, conta Patrícia Santos. “A gente fazia massa, valetas, amarrava ferragem. Nós levantamos a fábrica com os nossos braços”, completa Vanilda.
O espaço ficou pronto em 2014 e, logo, as polpas de frutas Sabor do Vale passaram a ser vendidas para as escolas do município por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). “Sempre pensei positivo, nunca desanimei. O sentimento, sabe, é que a gente lutou e que chegamos até aqui com garra e força de vontade”, afirma a presidente da associação.
Os produtos da associação são fornecidos para escolas e no mercado local. O grupo mantém um ponto de venda em Diamantina para a comercialização das polpas de frutas e na sede do Procaj.
Agora, as produtoras trabalham para ampliar mercado, buscando comercializar parte da sua produção em supermercados. O grupo também faz parte da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Diamantina, que tem ajudado a viabilizar a comercialização dos produtos nesse período de isolamento social.
Conquistas e reconhecimento
Se alguém duvida que toda essa dedicação valeu a pena, basta perguntar para Vanilda Alcântara, hoje com 47 anos. Quando essa história começou, em 2000, as suas filhas, trigêmeas, tinham só dois anos de idade. Foi com a ajuda da renda obtida na venda de frutas in natura e das polpas, que Vanilda e o marido conseguiram sustentar a família.
Hoje, duas filhas do casal cursam o ensino superior na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. “Valeu muito a pena. O nosso trabalho foi muito criticado. Mas nós vencemos. Hoje, até os maridos que reclamavam dão o maior apoio para a gente. Eles reconheceram a nossa luta”, diz Vanilda.