Embora o país tenha a maior biodiversidade vegetal do planeta, os produtos desse segmento representam só 1,5% das vendas de medicamentos
Em 8.500 a.C., as plantas já eram utilizadas como uma alternativa no tratamento de diversas doenças, graças aos seus princípios ativos capazes de curar diferentes comorbidades. Com o tempo, os fitoterápicos foram se consolidando no mercado farmacêutico e novas propriedades medicinais são descobertas ao redor do mundo todos os dias.
Apesar de ser utilizado em conjunto com outros medicamentos convencionais ou até mesmo como única medicação do tratamento, os fitoterápicos passa pelos mesmos trâmites que um medicamento convencional, ou seja, ele também precisa de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sendo submetido a rigorosos testes para atestar sua eficácia e possíveis efeitos colaterais.
O Ministério da Saúde instituiu e normatizou no Brasil o registro de fitoterápicos em 1995. A produção de medicamentos no Brasil é regulamentada e segue legislação da Anvisa desde 2014.
Apesar de ter a maior biodiversidade vegetal do planeta, o Brasil fica muito atrás no ranking de países que mais consomem medicamentos fitoterápicos. De acordo uma pesquisa feita pelo bioquímico alemão e professor do Instituto de Bioquímica da Universidade de Colônia, Lothar Jaenicke, o maior mercado de fitoterápicos é a Europa, com destaque para a Alemanha, com 50% do total.
Por outro lado, a América Latina, mesmo com sete países considerados ricos em biodiversidade, representam apenas 5% desse mercado. No Brasil, apenas 1,5% das vendas representam os medicamentos fitoterápicos.
“Atualmente o Brasil importa os princípios ativos dos fitoterápicos, o que pressiona o preço e impossibilita que grande parte dos brasileiros tenham condições de utilizar esses medicamentos”, explica Norberto Prestes, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi).
Cenário
Dos 1.700 fitoterápicos vendidos no país nos dias de hoje, apenas 300 são brasileiros registrados na Anvisa. Os outros 1.400 são importados. Na tentativa de tornar os tratamentos com fitoterápicos mais acessíveis, em 2007, o Sistema único de Saúde (SUS) disponibilizou dois medicamentos através das secretarias estaduais e municipais de saúde: um para o tratamento da gastrite e outro para combater os sintomas da gripe.
“O SUS oferece hoje apenas algumas opções de tratamentos fitoterápicos. O ideal seria ampliar as opções terapêuticas ofertadas pelo sistema, para garantir às pessoas novas opções de tratamentos complementares, além de promover o uso sustentável da biodiversidade brasileira e o desenvolvimento industrial da saúde”, pontua Prestes.
Para conseguir democratizar os preços dos fitoterápicos no Brasil e ampliar os tratamentos ofertados pelo SUS, a retomada da produção interna de insumos farmacêuticos pode acabar a dependência do país em relação à importação dos princípios ativos desses medicamentos, e, consequentemente, os preços desses remédios tendem a diminuir.
“O foco inicial deve ser as cadeias completas, com destaque os insumos de origem animal e vegetal. Aliás, os insumos vegetais são uma opção viável para o desenvolvimento de cadeias produtivas com impactos econômicos e sociais”, argumenta.