Especiaria tem sido utilizada na produção de cachaça e cerveja
A família Campos, de Barra do Riacho, zona industrial de Aracruz (ES), sempre foi ligada ao ramo alimentício. O restaurante da família existe há 54 anos na localidade. O patriarca Otacílio Campos, falecido há dez, era um chef conhecido e cozinhou até para o príncipe Charles e a princesa Daiana, quando estiveram no Espírito Santo, em visita à Suzano, na década de 1990.
Mas a pandemia trouxe um novo cenário para os negócios da família. Além de terem que fechar o tradicional estabelecimento, o filho Anderson do Rosário Campos, dono de uma empresa de inspeção de solda, ficou impossibilitado de prestar o serviço para indústrias de alimentos em todo o Brasil.
A volta por cima veio da cultura em ascensão na região. De olho no movimento em torno da pimenta rosa, Anderson passou a se informar sobre a especiaria, testou as plantas do próprio quintal e reaproveitou toda a estrutura do restaurante para desidratar o fruto da aroeira para o mercado de exportação e ainda transformar o condimento em cachaça.
Início
A ideia surgiu das viagens constantes a Salvador, onde se tornou apreciador da cachaça Gabriela, com várias versões saborizadas. “Descobri um valor agregado da pimenta rosa e me envolvi por esporte. Catando a mão, separando os grãos e fazendo um trabalho completamente diferente das indústrias”, conta o empresário.
Atualmente, Anderson produz, em média, 70 litros da bebida por batelada a cada 15 dias. O processo é bem artesanal e utiliza os equipamentos em inox da cozinha inativa do restaurante.“É um produto que, se eu fizer cem litros, vendo tudo. Caiu no gosto, não sobra”, diz o empresário, que vende a cachaça entre amigos e pela internet.
O destilado artesanal é só uma parte dos novos negócios dos Campos nos últimos dois anos. Segundo Anderson, as primeiras edições da bebida foram feitas com pimenta nativa, adquirida junto aos indígenas de Aracruz. A partir de 2022, a expectativa é de a matéria-prima vir da produção própria de 25 mil pés plantados há um ano. “A planta começa a produzir normalmente em dois anos, mas de dezembro a janeiro costuma ocorrer uma safra ‘temporona’ e devo colher umas cinco toneladas”, diz.
Suporte
Além da expansão da produção, Anderson conta que a rede de apoio contribui para o sucesso da família com pimenta rosa. O empresário teve suporte do exportador de pimenta e outras especiarias, José Tarcísio Malacarne. “Foi ele quem começou a me inserir no mercado, dando toda instrução e ajudando a montar a base”, lembra.
De acordo com Anderson, no interior do restaurante ele adaptou os congeladores e self-services como estufas infravermelhas para obter produto de qualidade superior, mantendo todas as propriedades da aroeira valorizadas pelos compradores.
Além da cachaça, em Regência (Linhares) já existe cerveja à base de pimenta rosa. “A pimenta rosa é um produto que pode agregar valor sem interferir no mercado do condimento. Trata-se de um mercado que, muitas vezes, absorve os resíduos da produção, usando para adubar, embora seja um material riquíssimo. Ao produzirem cerveja, cachaça e hidrolatos, esses produtores estão dando uma destinação muito mais nobre à especiaria”, avalia a bióloga do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Fabiana Ruas.