Fruta é utilizada principalmente na produção de marmelada
Importante atividade agrícola em Minas Gerais, nas décadas de 1960 e 1970, o cultivo de marmelo pode voltar a ser promissor. Isso porque a Emater-MG e a Universidade Federal de Lavras (Ufla) estão desenvolvendo um projeto para incentivar novamente a produção da fruta que é utilizada na produção de marmelada.
Outro objetivo da iniciativa é resgatar a cultura tradicional que está em decadência. Minas Gerais foi o maior produtor de marmelos do País, destaque para os municípios de Virginia, Marmelópolis, Delfim Moreira, Maria da Fé e Cristina, localizados na região da Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas.
Variedades
Para resgatar a cultura, o projeto está distribuindo seis a sete cultivares de marmeleiro a produtores de 10 municípios mineiros, sendo 23 mudas de cada cultivar, totalizando 161 mudas para cada agricultor plantar em sua propriedade. As sete variedades de marmelo que estão sendo testadas são: Portugal, Bereckey, Alongado, Fuller, Smyrna, Alaranjado e Reas Mamouth.
O coordenador técnico estadual de Fruticultura da Emater-MG, Deny Sanábio, informa que o desenvolvimento das variedades será monitorado nos municípios de Coimbra, Conceição do Mato Dentro, Soledade de Minas, Coqueiral, Delfim Moreira, Marmelópolis, Lagoa Dourada, Rezende Costa, Machado e São João do Paraíso.
As frutíferas de marmelo serão monitoradas por técnicos da Emater-MG e estudantes da Ufla. Em contrapartida, os produtores devem disponibilizar as áreas de cultivo para servirem de unidades demonstrativas e unidades de observação dessas espécies.
“A expectativa é determinar quais são as variedades de melhor comportamento, desenvolvimento, produção, tamanho e peso do fruto”, explica Sanábio. “No futuro, vamos poder estabelecer quais delas são recomendadas para as diferentes regiões do Estado.”
Pesquisa
O professor de Fruticultura de Clima Temperado do Departamento de Agricultura da Escola de Ciências Agrárias (Esal), pertencente a Ufla, Rafael Pio, informa que as mudas são resultantes de um trabalho realizado na instituição há 20 anos. O resultado foi a formação de um banco de germoplasma, atualmente com 31 cultivares de marmeleiro, considerado o maior da América Latina.
Segundo Rafael Pio, as pesquisas com marmeleiro resultaram em vários trabalhos científicos, visando o aprimoramento e o incentivo do cultivo da frutífera. “O trabalho começou a partir da competição de cultivares para definir as mais produtivas. Em 2016, desenvolvemos ações no município de Jundiaí, no leste paulista, e em Lavras. As pesquisas geraram várias dissertações em mestrado e teses de doutorado”, relata o professor.
“Queremos incentivar novos produtores e validar essas cultivares de potencial para a diversificação da marmelocultura mineira que, até então, se baseia em uma única cultivar, o marmeleiro Portugal”, esclarece Pio.
“Queremos incentivar a atividade, entrando com cultivares mais produtivas e mais resistentes às principais doenças do marmeleiro”, justifica o professor, acrescentando que o objetivo é fazer uma avaliação científica dessas mudas e, junto com a Emater, a divulgação técnica.
Famosas
Muitas famílias já viveram do cultivo do marmeleiro. Para se ter uma ideia, o Estado já teve ter 27 agroindústrias processadoras da fruta, entre elas grandes produtoras de marmelada como Cica, Peixe e Colombo, famosas na época. Com o passar dos anos, por problemas fitossanitários das plantas e pela introdução de outros doces no mercado, como a goiabada e o doce de batata, a produção e o consumo de marmelada entrou em declínio.
A década de 1970 marcou o apogeu e, também, o começo do fim da atividade em Minas Gerais, que até então exportava marmelada. Os municípios de Delfim Moreira, Maria da Fé e Marmelópolis contavam com a maioria das fábricas do doce no Estado, entre grandes e pequenas agroindústrias familiares.
Conforme Deny Sanábio, em 1967, Minas Gerais tinha 7.582 hectares cultivados com marmelo, respondendo por uma produção de 11.500 toneladas da fruta. Em 1994, as lavouras ocupavam 1.097 hectares e produção de 1.632 toneladas. Já em 2002, o plantio era de 170 hectares e produção de 677 toneladas, chegando, em 2021, com 55 hectares de plantio e produção de 360 toneladas de marmelo. “Esses números caíram rapidamente, em função de doença como a entomosporiose, provocada pelo fungo Entomospoium sp e pela entrada de novos doces no mercado”, afirma.
A fruta
O marmeleiro é uma fruta de clima temperado, originário do Oriente Médio, sendo bastante exigente em tratos culturais. O plantio é feito por estacas enraizadas das cultivares escolhidas para exploração ou por enxertia de variedades de copa em porta-enxertos da cultura.
Os frutos raramente são consumidos in natura, sendo industrializados para a produção de marmelada, mas podem ser usados em geleias, sopas, licores, xaropes e em pratos salgados finos. Um dos componentes do marmelo, a pectina, pode ser empregada em produtos farmacêuticos e perfumaria.