Desvio do produto no Paraná coloca em alerta as indústrias para que adotem medidas de segurança para evitar eventuais fraudes
Informações recentes sobre o desvio de malte de cervejarias na região dos Campos Gerais, no Paraná, colocaram em alerta indústrias do setor que trabalham com produtos de boa qualidade.
De acordo com a notícia, maltes das grandes cervejarias estavam sendo desviados e misturados com produtos de baixa qualidade, principalmente a palha, e revendidos por uma quadrilha de fraudadores, com o objetivo de aumentar o rendimento da produção e trazer mais lucros, já que pelo menos 30% de uma carga de malte bom era substituída por palha.
Puxada pelo crescimento do mercado cervejeiro brasileiro, a procura por cevada tem sido cada vez maior. Prova disso é que, somente em 2019, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) registrou cerca de 320 novas unidades no país, o equivalente a uma taxa de crescimento de 36% em relação à 2018.
Diante desse crescimento, é importante que a indústria e as cervejarias artesanais incorporem medidas de segurança para assegurar a qualidade do produto, acompanhando todo o processo de classificação dos grãos para evitar eventuais fraudes.
Segurança
De acordo com o engenheiro agrônomo da Loc Solution, Roney Smoraleck, a indústria cervejeira precisa estar atenta à origem do grão de cevada, utilizando as tecnologias disponíveis no mercado para monitorar a qualidade do produto.
“Ao classificar o produto em um equipamento de classificação de grãos, é emitido um comprovante com todas as informações de resultados de umidade, temperatura, pH (produtos de inverno) e densidade (demais produtos)”, explica.
Smoraleck afirma que, ao fazer uso dessa tecnologia, o comprador do malte consegue monitorar e ver pela densidade se é o mesmo produto adquirido na origem. “Além disso, é importante lembrar que a cevada é considerada forrageira quando o pH for inferior a 56”, comenta.
O especialista lembra que o valor do pH tem influência sobre a atividade enzimática durante a mosturação e determina a solubilidade das proteínas, das substâncias amargas do lúpulo e a coloração do mosto durante a fervura.
“Dessa forma, há toda uma segurança envolvendo a procedência do grão para que o comprador verifique se o produto recebido é o mesmo que foi adquirido”, destaca, acrescentando que os aparelhos de classificação de grãos fornecem relatórios gerenciais por medição, por produto ou por períodos de leitura, além de dois campos no ticket (placa e lote).
Processos
Smoraleck informa que outro fator importante relacionado à classificação da cevada é o tamanho dos grãos, que devem ser homogêneos, grandes e com baixa porcentagem de quebrados. Segundo ele, a tolerância máxima é de 3% de impurezas e/ou matérias estranhas, 1% de grãos avariados e 13,5% de umidade.
“Essas características são muito importantes para uma germinação rápida e igual das sementes no processo da fabricação de malte”, afirma. “Assim como o trigo, se colher a cevada com muita umidade, o grão germina e perde a qualidade”, complementa.
O engenheiro agrônomo lembra que a Portaria 691/96 e IN 11/2013 do Mapa estabelece os seguintes requisitos de qualidade do grão para a indústria da cerveja: umidade máxima de 13,0%, proteína máxima 12,0%, poder germinativo mínimo de 95,0%, matérias estranhas e impurezas, o máximo de 3,0% e grãos avariado, até 5,0%.
O mercado de cevada cervejeira segue os padrões de qualidade estabelecidos na portaria. “É considerada fraude, toda alteração dolosa, de qualquer ordem ou natureza, praticada na classificação, na marcação, no transporte e na armazenagem, bem como nos documentos de qualidade do produto, conforme norma em vigor”, arremata o especialista.