Epagri recomenda estratégias para período de estiagem e calor
As altas temperaturas e as baixas precipitações ocorridas em dezembro e em janeiro nas principais regiões produtoras de maçã começam a afetar a produção e a qualidade dos frutos nos pomares catarinenses, principalmente no que se refere ao tamanho e à ocorrência de queimaduras nos frutos. Isso impacta também o preço de venda e a quantidade potencial de frutos para a exportação.
A pesquisadora Mariuccia Schlichting de Martin, da Estação Experimental da Epagri em São Joaquim, SC, afirma que outro efeito é a maturação bastante antecipada em Santa Catarina: os frutos serão colhidos em torno de uma a duas semanas em comparação à safra passada, principalmente a cultivar Gala.
“Observamos que pomares recém-implantados sentiram mais o efeito da estiagem porque o sistema radicular é mais frágil e menos profundo, portanto, essas plantas têm menos reserva hídrica e sentem mais a falta de água no solo”, diz ela. Outro fato observado foi o amarelamento e a queda precoce de folhas, processo que, segundo a pesquisadora, deveria ocorrer no fim do outono e que pode comprometer inclusive a próxima safra.
De acordo com o pesquisador da Epagri/Ciram Gabriel Berenhauser Leite, nessa safra a região de Fraiburgo e a cultivar Gala serão as mais afetados, ao contrário do que ocorreu na safra 2019/2020, em que as perdas se deram em maior intensidade na região de São Joaquim e afetou mais a cultivar Fuji, devido à estiagem severa ter ocorrido em fevereiro e março. “Isso se deve ao fato de que, nesta safra, a estiagem está ocorrendo em dezembro e janeiro, com mais intensidade na região de Fraiburgo em comparação à São Joaquim”, diz.
Produção enxuta
Em Fraiburgo, o mês de dezembro apresentou uma precipitação de apenas 52,6mm e, em janeiro (até o dia 25), somente 46,4mm, praticamente 30% do esperado para esses dois meses. Esse fato e as altas temperaturas observadas na região, e que aumentam a evapotranspiração das plantas, afetaram o índice de satisfação das necessidades de água (ISNA), que ficou abaixo de 75% por um longo período nos dois últimos meses, alcançando índices inferiores a 50%.
“A situação de baixa disponibilidade de água e as altas temperaturas interferem no tamanho final do fruto e, como resultado, a expectativa é de queda de até 30% na produção da Gala, devido à redução do tamanho das maçãs”, afirma o extensionista rural em Fraiburgo, Marcus Henrique Pritsch. Ele acrescenta que as perdas não se limitam apenas à tonelagem. “Frutos pequenos têm o preço reduzido e influenciam negativamente na quantidade potencial de frutos para a exportação.”
Recuperação
Em São Joaquim, a precipitação em janeiro foi um pouco melhor do que em dezembro, 148 mm e 57 mm, respectivamente. A chuva ocorrida em janeiro, o equivalente a dois terços da média do mês, amenizou um pouco a situação de déficit hídrico. “Nessa região estima-se uma perda entre 10% a 20 % na cultivar Gala, devido principalmente à redução do tamanho dos frutos.
“Na cultivar Fuji ainda é cedo para avaliar o nível de dano que poderá ocorrer. Se as chuvas se normalizarem é possível que haja uma recuperação no desenvolvimento dos frutos, pois ainda estamos há mais de 45 dias do início de colheita dessa cultivar”, explica o extensionista rural em São Joaquim, Marcelo Cruz de Liz. Ele ressalta que, no entanto, já se observam danos por queimadura de sol devido à exposição dos frutos à insolação, o que deprecia a qualidade e o valor comercial.
Minimizar danos
Para minimizar os danos causados pela estiagem e pelas altas temperaturas na cultura da maçã em Santa Catarina, a Epagri recomenda algumas estratégias que vão desde o manejo até a adoção de novas tecnologias.
De acordo com a entidade, onde não existe sistema de irrigação, recomenda-se adaptar o tanque pulverizador para irrigar de maneira localizada a projeção da copa das árvores, especialmente os pomares recém-implantados e os de solos mais rasos.
Além disso, no caso de folhas estão em processo de amarelamento, a indicação é retirar o fruto para não comprometer de forma significativa a próxima safra. Outro cuidado fundamental diz respeito à maturação. A pesquisadora Mariuccia afirma que o produtor deve acertar bem o ponto de colheita, principalmente dos frutos que serão destinados a maior tempo de armazenagem.
Recomenda-se ainda a utilização de reguladores de crescimento para atrasar a maturação dos frutos para que eles ganhem mais calibre até a colheita, principalmente no caso da cultivar Gala e, nos dias de muito calor, deve-se evitar a pulverização, tanto de reguladores como de produtos fitossanitários, em horários em que a temperatura esteja muito alta. A recomendação é que isso seja feito no fim da tarde.