O peixe barrigudinho se alimenta das larvas do Aedes aegypti, e pode substituir, em alguns casos, o uso do inseticida (Foto: Aqua Guide)
O verão chegou e também as chuvas da estação que causam todo o ano aumento de doenças, como dengue, zika e chikungunya, causadas pelo mosquito transmissor Aedes aegypti.
Somente este ano, o Brasil já registrou mais de 360 mil casos de dengue, com 40 mortes confirmadas até o dia 8 de fevereiro.
Para evitar que aquários e tanques se tornassem possíveis criadouros do mosquito, o pesquisador Luiz Carlos Guilherme, da Embrapa Cocais, encontrou uma solução simples e com resultados positivos na diminuição ou eliminação do Aedes aegypti: o peixe barrigudinho.
Também conhecido como lebistes ou guppy, ele é um peixe larvófago predador de larvas dos mosquitos. O peixe, além de evitar a proliferação do transmissor da dengue, garante uma alimentação de alta qualidade, que são as larvas.
Impactos econômicos e ambientais
A descoberta do pesquisador permitiu a diminuição do uso de larvicida com a introdução do peixe em locais onde o larvicida não era eficaz ou havia alta incidência do mosquito.
“A medida também tem impactos socioeconômicos e ambientais, uma vez que o controle químico é mais oneroso e tem efeito cumulativo e mutagênico nos organismos vivos, pessoas e biodiversidade”, diz o pesquisador.
O uso de peixes é eficiente no controle dos mosquitos, principalmente nas fases de vida aquática do inseto, substituindo, em alguns casos, o uso do inseticida.
“É uma abordagem inovadora e sustentável no controle de larvas de mosquitos”, diz Luiz Carlos.
Segundo ele, o uso de barrigudinhos como método biológico tem se mostrado eficaz no controle de larvas de mosquitos “em locais propensos a alagamentos, onde a ação do larvicida pode apresentar limitações e na significativa redução na incidência do Aedes aegypti e de outros mosquitos”.
O uso do peixe em cidades do Brasil
O sucesso o uso do barrigudinho se comprova com a utilização dele no Projeto Dengoso, uma ação de saúde pública em parceria com Centros de Controle de Zoonoses – CCZ em municípios do Piauí, Minas Gerais e Sergipe, para realizar o controle biológico das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti e outros mosquitos patógenos.
O Projeto Dengoso consiste no controle biológico de larvas de mosquitos em diferentes reservatórios de água. O controle biológico com o uso de predadores naturais é uma alternativa que pode ser utilizada sem grandes custos e pouca mão de obra.
Após o povoamento com o peixe, os agentes de endemias observam, especialmente num raio de aproximadamente 100 metros, menor incidência de mosquitos e notadamente a diminuição nos casos das doenças.
No Piauí, é desenvolvido na Universidade Estadual do Piauí (UESPI) – Campus Alexandre Alves de Oliveira, onde os peixes são reproduzidos e mantidos em tanques.
Após isso, estes peixes são distribuídos em locais onde o veneno não é eficaz, a exemplo das lagoas de tratamento e estabilização de efluentes de algumas indústrias, em recipientes de grande porte – como bebedouros de animais – piscinas desativadas, cascatas e outros ambientes semelhantes.
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Peixes resistentes
Em Uberlândia, Minas Gerais, o Projeto Dengoso é uma prática constante no programa de controle do Aedes.
Por lá, a iniciativa introduz o barrigudinho em reservatórios de água, como piscinas abandonadas ou não cloradas, tanques, caixas d’água, tanques de decantação e áreas com água de baixa oxigenação.
“A resistência desses peixes é notável. Em Uberlândia, aproximadamente 592 locais são constantemente monitorados, onde os lebistes são implantados. Além disso, quando necessário, retiramos esses peixes desses locais bem-adaptados e altamente reprodutivos para colocá-los em uma plataforma na Unidade de Vigilância em Zoonoses do município, detalha Ana Paula Quirino, chefe da CCZ do município.
Dicas para combater o mosquito da dengue
Além do barrigudinho, existem outras maneiras eficazes para combater o mosquito transmissor da dengue. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) faz algumas recomendações.
Verificação e eliminação uma vez por semana dos criadouros do mosquito. Só assim é possível interromper o ciclo de vida do Aedes aegypti, que do ovo até a fase adulta leva de 7 a 10 dias.
Qualquer objeto capaz de acumular água parada merece atenção: vaso sanitário, ralo, balde, galão de água, ar condicionado, pneus, garrafas, caixa d’água, piscina, vaso de planta, entre outros.
Ações governamentais também são importantes, como a coleta regular de lixo e o abastecimento adequado de água.
Fonte: Embrapa Cocais/ Flávia Bessa e informações da Fiocruz