Em meio à expectativa de mais um ano de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – o Banco Central estima em 2,2% para 2020 -, o agronegócio brasileiro pode outra vez dar uma prova do seu vigor. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) prevê para este ano uma alta do Valor Bruto da Produção (VBP) de 9,8%, e do PIB do agronegócio de 3%, com o faturamento que pode chegar a R$ 669,7 bilhões.
As estimativas foram apresentadas durante o encontro anual com jornalistas, em Brasília, na primeira semana de janeiro, para divulgar o balanço de 2019 e as perspectivas para 2020 do setor agropecuário. Concederam entrevista o presidente da CNA, João Martins, o superintendente técnico, Bruno Lucchi, e a superintendente de Relações Internacionais, Lígia Dutra.
O resultado será puxado pela pecuária, que deve crescer 14,1% e alcançar o valor de R$ 265,8 bilhões, o que indica que 2020 será o ano do setor, com perspectivas de aumento da produção. Para a carne bovina, a estimativa é de expansão de 22,2% no VBP do próximo ano na comparação com 2019, atingindo uma receita de R$ 129,1 bilhões.
Também há previsão de alta para o VBP de outras proteínas animais, como os suínos (9,8%), pecuária de leite (7,5%) e frangos (7,1%). Já a agricultura, que teve queda em 2019, terá recuperação em 2020 e o VBP deve subir 7,2%, alcançando R$ 403 bilhões. O principal destaque do VBP agrícola será a soja, com alta de 14,1%. A oleaginosa deve encerrar 2020 com faturamento de R$ 165,2 bilhões, impulsionada pelo aumento dos preços e da produção. O milho também terá crescimento (3,3%), por causa da valorização dos preços, assim como a cana-de-açúcar (7,1%).
Para 2019, a expectativa é de estabilidade no VBP em relação a 2018, encerrando o ano em R$ 609,7 bilhões, com a pecuária em crescimento (7%) e a agricultura com previsão de queda de 4%.
Análises e projeções
O presidente da CNA, João Martins, falou da urgência da criação de uma nova classe média rural. Citou que dentre os quase 4 milhões e meio de produtores rurais no Brasil, menos de 10% detêm 84% da riqueza agropecuária.
“Não podemos conviver com essa discrepância social”, afirmou Martins, ressaltando a incorporação de tecnologia como maneira de vencer a desigualdade. Segundo ele, os esforços da CNA nos próximos anos serão voltados para levar assistência técnica a 400 mil novos produtores.
No cenário internacional, o superintendente técnico Bruno Lucchi destacou a forte onda protecionista que impactou muito o mercado mundial. Além disso, enumerou as principais variáveis que podem influenciar as questões macroeconômicas, entre elas, as eleições nos Estados Unidos (EUA), as tensões no Oriente Médio, o desfecho da guerra comercial entre China e EUA, “além da grande incógnita que é a Argentina, um dos principais parceiros econômicos do Brasil”.
Quanto à economia interna, Lucchi falou sobre alguns avanços em 2019, como a taxa Selic em 4,5% sendo “um importante fator para melhorar o consumo das famílias, o controle da inflação e impulsionar o crescimento econômico”. Além disso, lembrou da relevância da reforma da previdência e da maior confiança no mercado brasileiro, devido ao Risco Brasil, que chegou a atingir no final de 2019 o menor patamar desde 2010. Entre as expectativas para o próximo ano, citou a necessidade das reformas tributária e administrativa.
A superintendente de Relações Internacionais, Lígia Dutra, apontou uma queda no valor das exportações (-4,2%), porém um aumento no volume (+5,8%), isso se deu por conta de uma diminuição na exportação de soja e crescimento na venda de milho, que possui um valor menor no mercado. “O milho foi um destaque este ano [2019], teve um aumento significativo em vários mercados”, explicou Dutra lembrando que o grão teve um crescimento de mais de 19 milhões de toneladas nas exportações.
Confira abaixo mais detalhes do balanço e perspectivas da CNA.
Produto Interno Bruto
O Produto Interno Bruto do agronegócio deve crescer 3% em 2020 em relação a 2019. Apesar da maior estimativa de produção agropecuária para o ano que vem, há uma tendência de alta dos custos de produção, o que poderá impactar a renda do produtor rural em 2020.
Os custos de produção da soja, por exemplo, devem ter elevação recorde na safra 2019/2020, entre outros motivos porque grande parte dos fertilizantes foi negociada a preços acima do que em safras anteriores. Em 2019, o PIB deve crescer 1% em relação a 2018.
Grãos e carne bovina
A expectativa da CNA para a safra 2019/2020 é de produção recorde de grãos e fibras devido às condições climáticas normais sem a incidência dos fenômenos El Niño e La Niña. Este fator traz mais ânimo aos produtores, pois em períodos com essas características dificilmente há perdas de produção provocadas por estiagem ou excesso de chuvas.
Os preços da arroba bovina tiveram um pico em novembro, chegando ao recorde de R$ 230 em São Paulo. Entre os motivos estão a estiagem prolongada, que reduziu a oferta de pasto nas propriedades, e o aumento das exportações para a China, que enfrentou problemas de abastecimento com a Peste Suína Africana (PSA) e foi obrigada a importar proteínas animais de vários outros países, incluindo o Brasil.
Por outro lado, o consumo doméstico apresentou sinais de recuperação em função da melhoria da economia e proximidade das festas de final de ano.
Crédito e política agrícola
Para 2020, a expectativa de melhoria dos indicadores macroeconômicos pode alavancar o financiamento privado para o agro. O comportamento da taxa Selic e da inflação podem criar um ambiente favorável para o setor e estimular maior concorrência entre as instituições de crédito.
Neste contexto, a CNA também vai apresentar em 2020 uma proposta de Plano Plurianual Agropecuário para auxiliar o governo a construir uma estratégia de planejamento de médio prazo para a política agrícola brasileira. A ideia é dar mais previsibilidade ao setor, aprimorar os instrumentos de gestão de riscos como o seguro rural e dar mais segurança jurídica com a melhoria do ambiente de negócios para proporcionar a melhoria de renda ao produtor rural.
Balança comercial
China, União Europeia, Estados Unidos, Japão e Irã foram os principais destinos para as exportações do agronegócio brasileiro em 2019. Esses cinco mercados responderam por 63% das vendas externas do setor.
O maior aumento observado foi para o Japão. Entre janeiro e outubro de 2019, o país importou do Brasil US$ 913,9 milhões a mais do que no mesmo período de 2018. Houve aumento nas vendas de milho, carne de frango in natura, farelo de soja, café verde e outros produtos menos tradicionais como os amendoins, as lagostas e as ceras de abelha.
Segundo a CNA, em 2020 a Ásia continuará como um importante parceiro do agro brasileiro, com aumento de exportações e inclusão de novos produtos na pauta de comércio, como frutas, lácteos, produtos apícolas, cafés especiais e pescados.
Em 2019, a soja em grão liderou o ranking das exportações brasileiras para o mundo, com US$ 23,2 bilhões em vendas. Em seguida vieram a celulose (US$ 6,56 bilhões), o milho (US$ 5,92 bilhões), a carne de frango in natura (US$ 5,5 bilhões), e a carne bovina in natura (US$ 4,98 bilhões).
A China é já o principal importador de carnes de frango, bovina e suína do Brasil. Em 2019, o país aumentou suas importações desses três tipos de carnes brasileiras na comparação com 2018.
Relações internacionais
A CNA pretende intensificar sua atuação internacional com escritórios na China, já em funcionamento em Xangai, e em Singapura, na busca pela ampliação de mais espaço no continente asiático para os produtos do agro brasileiro. Entre as cadeias produtivas consideradas prioritárias estão: aquicultura, mel, lácteos, café, frutas, flores e hortaliças.
Também está prevista a abertura de quatro escritórios regionais de promoção comercial do agro brasileiro na Rede Agropecuária de Comércio Exterior (InterAgro), que vão atuar em parceria com as representações da CNA na Ásia. A iniciativa é uma parceria com a Apex-Brasil para inserir cada vez mais produtores rurais no processo de exportação.
Há, ainda, a perspectiva de aumento das exportações do agro com os acordos Mercosul-União Europeia e Mercosul-EFTA (Suíça, Liechtenstein, Noruega e Islândia), fechados em 2019, e de conclusão das negociações com Canadá e Coreia do Sul. A Confederação também defende a ampliação do acordo comercial com o México e o início das negociações com o Japão.
Para acessar o documento completo CLIQUE AQUI.
Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)