A produção nacional de leite de vaca ultrapassou a marca de 30 bilhões de litros, conforme dados compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a primeira vez que o setor atinge esse volume produtivo em toda a história do Censo Agropecuário, desde 1970.
A produtividade leiteira vem aumentando continuamente há quase cinco décadas e, quando comparada com os números do Censo de 2006, obteve um importante crescimento de 62%, no ano de 2017, período do último levantamento do IBGE,que continua publicando suas informações em sua Agência de Notícias.
O desempenho da pecuária de leite corrobora com o fato de que hoje, devido à adoção de tecnologias nas fazendas, são necessárias menos vacas para produzir a mesma quantidade de leite. Dados do Censo Agro 2017 também indicam que dos 1,6 mil litros por vaca, em 2006, a produção passou a 2,6 mil litros por animal, 11 anos mais tarde.
Leite orgânico
Seja uma demanda gerada por preocupação com a saúde ou com o meio ambiente, um sistema produtivo vem ganhando público e a atenção do setor: a produção de leite orgânico.
O agrônomo Ricardo Schiavinato comprou a fazenda Nata da Serra em 1988, quando ainda estava na faculdade. “Nessa época eu mal sabia o que era agricultura orgânica e dentro da própria academia pouco se falava dessa questão. Na realidade, a agricultura orgânica na década de 90 era bem discriminada. Diziam que era coisa de maluco”, explica o produtor, em entrevista à Agência de Notícias do IBGE.
Ele seguiu na produção convencional de leite até vivenciar uma crise econômica nos anos 90. “Acabei me endividando, tive uma dificuldade muito grande. Pensei até em parar a atividade, mas conheci uma pessoa que estava querendo mexer com produção orgânica.”
Foi então que ele começou a estudar a questão do orgânico e a fazer a conversão do seu rebanho. “Por volta de 1999, a gente recebeu a certificação de orgânico”, relata.
Schiavinato conta que, à época em que trabalhava com leite convencional, produzia mil litros diários e, no processo de conversão para o orgânico, a produção caiu para 250 litros. “Apesar de estar tirando pouco leite, era uma atividade rentável. Eu perdia dinheiro com os mil litros e, com os 250, eu tinha lucro. Mesmo não sendo um lucro grande, era lucro. Não perdia dinheiro”, lembra o pecuarista.
Balde Cheio
O aumento na produtividade na fazenda veio com o conhecimento adquirido por meio do projeto Balde Cheio, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que capacita profissionais da cadeia produtiva do leite para o uso de tecnologias.
O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa André Novo afirma ser possível aumentar a produtividade do leite também no manejo orgânico. “Nossa experiência na condução de algumas fazendas de leite orgânico mostra claramente que há espaço de aplicação de diversas tecnologias de produto e de processo que viabilizam alta produtividade, mesmo com as restrições de sistema.”
De acordo com o pesquisador, “os sistemas convencionais sem dúvida têm maior capacidade de produzir em quantidades maiores e de menor custo mas, no caso de leite orgânico, apesar do custo maior, conseguimos manipular os fatores de produção e atingir boa produtividade”, explica Novo.
Na fazenda de Schiavinato, por exemplo, a produção aumentou para 1,5 mil litros. “Quando eu tirava 250 litros de leite orgânico, eu usava 45 hectares da área. Hoje uso 25 hectares e tiro 1,5 mil litros. Foi um processo muito interessante”, diz.
Exigências de certificação
Para se produzir leite orgânico, o produtor deve seguir uma série de exigências estabelecidas pela Instrução Normativa nº 46, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.Uma delas é que a alimentação diária do rebanho contenha, no máximo, 15% de alimentos não orgânicos. Já os transgênicos são completamente vetados.
“O sistema de produção segue rigorosamente uma série de normas específicas de sanidade, manejo de solo, uso de produtos químicos, conforto e bem-estar animal e controle de insumos permitidos”, explica Novo.
Outra norma é a de que todos os animais devem ser, preferencialmente, livres de gaiolas, estábulos, cordas ou qualquer método que impeça seus movimentos naturais.
Claudinei Saldanha Júnior e Nilson Saldanha são sócios, produtores de leite orgânico em uma propriedade de 26 hectares. Eles fornecem leite para uma grande multinacional, que produz leite em pó.
“Nosso plantel tem 95 animais. Destes, 76 são vacas adultas, sendo 56 vacas em lactação produzindo hoje 900 litros de leite orgânico por dia. Todas são mantidas a pasto e são suplementadas apenas com milho e soja orgânicos. O controle sanitário também é todo feito com homeopatia”, relata Saldanha Júnior.
Caso da Bahia
Na Bahia, um grupo de sócios da Leitíssimo, empresa de pecuária leiteira, investiu na ideia de criar um rebanho mais saudável, que se alimentasse no pasto de forma mais natural e sustentável. No município de Jaborandi, no oeste do Estado, estão localizadas as três fazendas da companhia, que detém a maior produção de leite com gado em sistema pastoril do Brasil.
Além de se alimentarem naturalmente a pasto, as vacas vivem soltas, sem injeção de hormônios comuns ao confinamento, livre de antibióticos e sem dieta à base de ração. “O resultado é um leite mais saudável e mais rico em nutrientes”, informa Craig Bell, um dos sócios da Leitíssimo.
O rebanho atual é composto por 2,7 mil vacas. Um time de 110 funcionários trabalha na produção e beneficiamento de 12 milhões de litros de leite por ano.
“A genética do gado, com tecnologia trazida da Nova Zelândia, e o fato de o rebanho se alimentar no pasto garantem a alta qualidade do produto. A isso se soma a máxima eficiência entre a ordenha e o envase, com rigoroso controle”, explica o zootecnista Juliano Almeida.
O leite cru é retirado em ordenhas mecanizadas e passa por refrigeração instantânea, com armazenamento entre três e cinco graus de temperatura, o que inviabiliza o desenvolvimento de bactérias.
“Além da preocupação muito grande com o que coloca na mesa do consumidor, a empresa assume a responsabilidade com a conservação do meio ambiente, principalmente com relação ao uso de água, e com a questão da sustentabilidade da comunidade local”, diz Almeida.
Fonte: Agência de Notícias do IBGE