Declaração final da cúpula no Rio de Janeiro destaca cooperação agrícola, inovação tecnológica e apoio a pequenos produtores como prioridades do bloco (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)
Na mais recente cúpula dos BRICS, realizada no Rio de Janeiro, os países-membros — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e os novos integrantes — reforçaram seu compromisso com o fortalecimento da agricultura sustentável, o combate à fome e a promoção da segurança alimentar e nutricional global.
A agricultura, cada vez mais estratégica para a estabilidade econômica e social do Sul Global, ganhou destaque na declaração conjunta do grupo, que traça diretrizes ambiciosas até 2028.
Um dos principais pontos abordados é o reconhecimento dos BRICS como “atores-chave na produção mundial de alimentos”, com papel fundamental no aumento da produtividade e da sustentabilidade agrícola.
A declaração ressalta a importância dos “agricultores familiares, incluindo pequenos produtores, pastores, pescadores artesanais e de pequena escala, aquicultores, povos indígenas e comunidades locais, mulheres e jovens” como agentes centrais para garantir a segurança alimentar.
Entre as ações concretas, o grupo celebrou o lançamento da Parceria do BRICS para a Restauração de Terras, em linha com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, e destacou o primeiro relatório do Grupo de Trabalho de Agricultura sobre as contribuições para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
O documento também reconhece que a “mecanização e a inovação tecnológica na agricultura em pequena escala” são ferramentas estratégicas para “reduzir a penosidade do trabalho, aumentar a produtividade e a renda” dos pequenos produtores.
Inovação, tecnologia e digitalização no campo
A cúpula deu ênfase à adoção de tecnologias digitais e agrícolas inteligentes, promovidas por meio da cooperação regulatória entre os países do bloco.
O Conselho Empresarial do BRICS (BBC) foi elogiado por propor medidas para “fomentar tecnologias agrícolas inteligentes para promover a segurança alimentar e nutrição aprimorada”, além de recomendar a ampliação de instrumentos inovadores de financiamento e da conectividade logística.
A digitalização foi considerada essencial não só para a modernização do setor agrícola, mas também para assegurar serviços acessíveis em áreas como saúde, educação e finanças. Nesse sentido, os líderes agradeceram os esforços da presidência brasileira na organização do Webinar sobre Transformação Digital e Conectividade Significativa, com foco em adaptação às realidades específicas de cada país.
Segurança alimentar e estabilidade de preços
Com a recente volatilidade no mercado global de alimentos, fertilizantes e outros insumos, os BRICS buscaram soluções coordenadas.
A cúpula reafirmou o compromisso com a criação de uma Bolsa de Grãos do BRICS, como plataforma para facilitar o comércio intra-bloco e melhorar a estabilidade da oferta de alimentos.
Os países também se mostraram dispostos a cooperar em situações emergenciais. “Em circunstâncias excepcionais de escassez de suprimentos ou picos agudos nos preços dos alimentos”, diz o texto, “reconhecemos que iniciativas de cooperação podem facilitar respostas emergenciais e a gestão de desastres naturais.”
Os países reafirmaram a necessidade de desenvolver um sistema comercial agrícola “justo, resiliente e sustentável”, livre de barreiras e sanções indevidas, e baseado nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Também apoiaram a continuidade das discussões para “facilitar o comércio intra-BRICS de produtos agrícolas, insumos e alimentos,” e incentivaram investimentos na produção local de máquinas e equipamentos adaptados às realidades dos pequenos agricultores.
Ainda nesse campo, o grupo reforçou a importância de “assegurar a saúde animal e vegetal”, por meio da prevenção e do controle conjunto de doenças e pragas, além de propor a criação de um sistema unificado de certificação eletrônica para produtos de origem animal e vegetal, com vistas a garantir maior transparência e segurança nas trocas comerciais.
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Mulheres e juventude no centro da transformação
A agenda agrícola do BRICS também reforça o papel transformador das mulheres e dos jovens no campo. A cúpula reconheceu que as mulheres têm contribuído de maneira significativa para o avanço da agricultura climaticamente inteligente, e que é necessário garantir “oportunidades justas para prosperar na economia sustentável e digital.”
A Aliança Empresarial de Mulheres (WBA) foi elogiada por suas recomendações políticas e iniciativas práticas, como reuniões de negócios, concursos de startups e relatórios de desenvolvimento feminino. A declaração reforça o compromisso dos países com a ampliação da educação digital e financeira para mulheres na economia informal, com medidas de formalização e proteção social.
Resiliência e combate a desastres
Com a intensificação dos eventos climáticos extremos, os líderes do BRICS enfatizaram a necessidade de fortalecer as capacidades nacionais de redução de riscos de desastres. A declaração menciona a importância de sistemas de alerta precoce, infraestrutura resiliente e monitoramento conjunto de ameaças climáticas. Essas ações são vistas como parte integrante da segurança alimentar e da proteção dos meios de subsistência de milhões de agricultores no Sul Global.
“Cooperaremos para melhorar os sistemas e capacidades nacionais de redução do risco de desastres, a fim de reduzir os danos relacionados a desastres e proteger infraestrutura, vidas humanas e meios de subsistência,” afirma o texto, que endossa o Plano de Trabalho 2025–2028 com foco na equidade e na resiliência.