Pagar um valor justo por um touro melhorador e escolher a condição mais viável, do ponto de vista econômico, da procriação – pela monta natural ou inseminação artificial – são algumas decisões difíceis de tomar, mas agora o pecuarista conta com mais uma plataforma online, que oferece orientações nesse sentido.
Desenvolvido pela Unidade Gado de Corte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o aplicativo Cria Certo simula e calcula os custos e benefícios de técnicas reprodutivas adotadas no País, dando suporte à tomada de decisão.
“Algumas vezes, o produtor de gado de corte negligencia a fase de cria. No entanto, além de ter custo elevado, ela traz forte impacto ao sistema como um todo”, ressalta a pesquisadora da estatal e médica veterinária Thais Basso Amaral, especialista em sistemas de produção.
Mestre em Zootecnia e doutora em Ciências Geográficas, ela acrescenta que essa nova ferramenta de “pecuária de precisão” ajuda no planejamento da propriedade rural.
O app apresenta quatro simuladores com os métodos de reprodução mais relevantes, atualmente: monta natural; Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) mais repasse com touro; duas inseminações em tempo fixo mais repasse com touro; e três inseminações em tempo fixo.
Thais relata que, ao longo de 15 anos, as práticas reprodutivas na pecuária mudaram. Em 2003, por exemplo, 5% do rebanho eram inseminados. Hoje, esse índice gira em torno de 12%, sendo que cerca de 80% ocorre pela IATF.
Segundo ela, tais informações foram consideradas ao projetar o software com essas três possibilidades de inseminação artificial.
Gestão da propriedade é fundamental
“A gestão exige que você olhe o sistema de produção completo. As fases: cria, recria e engorda se conectam e interagem para um resultado final positivo”, diz o agrônomo Fernando Paim Costa, socioeconomista da Embrapa e participante do projeto com Thais, desde 2003, quando o Cria Certo tinha o formato de planilhas eletrônicas.
Na época, essas planilhas com os cálculos dos custos de diferentes tecnologias aplicadas à reprodução bovina eram utilizadas pela dupla de pesquisadores e o cientista aposentado Eduardo Simões Correa, em seus estudos e publicações na estatal.
Para maior adoção das planilhas pelo setor produtivo, tornando-as uma ferramenta de gestão, os pesquisadores as reestruturaram e embarcaram em uma plataforma móvel, aproveitando a popularização dos dispositivos móveis no meio rural.
A ferramenta calcula também custos totais do touro e do método reprodutivo, e também apresenta esse número por prenhez. Produtores que usam touros melhoradores podem saber o ganho adicional em reais em função do valor genético do animal utilizado. Outra funcionalidade é a comparação de simulações que permite ao usuário confrontar os índices comuns de simulações de tipos diferentes.
Para melhor aproveitamento do software, os pesquisadores recomendam uma gestão mínima da propriedade, com dados da fazenda, índices zootécnicos do rebanho, gastos com alimentação e medicamentos entre outros.
“A questão é aperfeiçoar o processo de decisão com ajustes mais certeiros a partir das informações”, comenta Costa.
Visão de empresa
O aplicativo Cria Certo dispõe de valores de referência para cálculos e comparações, caso o usuário queira apenas perspectivas ou não tenha dados da propriedade. “Será um cenário simulado e não a realidade daquele estabelecimento rural”, esclarecem os idealizadores. De qualquer forma, os cientistas acreditam que quem utilizar a ferramenta enxergará a pecuária de corte como uma empresa.
Thais e Costa revelam que, hoje, não há uma estrutura de cálculo pronta. A decisão é feita pela indicação do técnico ou experiência prévia do produtor. Segundo eles, alguns técnicos usam uma planilha para calcular custos e benefícios. Porém, na maioria das vezes, esses cálculos não são feitos, principalmente por causa de sua complexidade, e a decisão acaba sendo tomada de forma empírica.
Por dentro do app
O acesso gratuito é feito por uma conta no Google ou Facebook, com adesão a uma política de uso, seguindo orientações legais. O analista de TI da Embrapa Camilo Carromeu enfatiza que o usuário não insere novos dados na internet, ele somente disponibiliza para a Embrapa informações como nome, correio eletrônico, foto e gênero, que serão armazenadas nos servidores da Empresa.
Ainda é dada a condição de registro ou não ao entrar no app. “Com registro, os dados são salvos e armazenados para acesso e sincronização em qualquer outro dispositivo móvel, web ou computador”, explica Carromeu.
Para Thaís, o ganho do registro evidencia-se quando o técnico veterinário, que atende várias fazendas que fazem IATF, tem nas mãos um banco de simulações e custos personalizado e amigável para mostrar a cada cliente.
A lógica do Cria Certo é diferente da dos demais aplicativos lançados pela Embrapa Gado de Corte. Ele usa a tecnologia Progressive Web App (PWA), criada pelo Google LLC, que roda no dispositivo móvel em tela cheia e sem ocupar espaço no smartphone ou desktop. O PWA não serve para todos os apps, depende da dinâmica da atividade, e tem uso indicado para simuladores, informativos e catálogos.
“Cada desenvolvedor tem seu código nativo, sua linguagem. A cada versão Android e iOS de um determinado aplicativo precisávamos reiniciar a programação. Era um novo aplicativo, começado do zero. Com o PWA, o usuário consegue ter aplicações web, instalar o site como um app no Android, Windows e iOS”, relata Carromeu.
Mais vantagens
Outra vantagem é a sincronização das informações, inclusive de forma offline, bastando um único acesso e registro, assim como a conexão com os sensores dos celulares e tablets, como leitor biométrico, acelerômetro e GPS. Por fim, a tecnologia permite o compartilhamento de links dos apps por meio de plataforma de mensagens instantâneas.
Para manter a evolução do Cria Certo, os pesquisadores estão em busca de parceiros externos, como startups, para atualizar e manter a lógica do software, futuramente.
Nesse desenvolvimento, a equipe teve o apoio da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) e Geneplus Consultoria Ltda., além dos analistas de Tecnologia da Informação (TI) do Please – Laboratório de Pecuária de Precisão, Meio Ambiente e Engenharia de Software da Faculdade de Ciência da Computação da UFMS, que desenvolve soluções na área de TI e mantém parceria com a Embrapa.