Estudo da Epagri atesta que, em relação ao sistema convencional, a adoção do Tomatorg reduz custos e aumenta o ganho líquido do horticultor. Esse modelo de produção orgânica integra o programa AgroConsciente, criado para direcionar políticas públicas e ações para a agropecuária catarinense
Produzir mais alimentos em quantidade e qualidade, de forma mais responsável e sustentável, atendendo aos mercados interno e externo cada vez mais exigentes, tem sido um desafio e tanto para os produtores rurais do Brasil. E essa é exatamente a principal proposta do programa AgroConsciente, a nova diretriz do governo de Santa Catarina direcionada à elaboração de políticas públicas e ações voltadas para o setor agropecuário da região.
Apresentado no dia 20 de novembro, durante um evento em Florianópolis (SC), que reuniu políticos e representantes do agronegócio local, o lançamento desse projeto fez parte das comemorações de 28 anos de atuação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).
Na mesma ocasião, também foi apresentado o Tomatorg – sistema orgânico de produção de tomate desenvolvido pela Estação Experimental da Epagri em Itajaí (EEI) e que faz parte do AgroConsciente.
De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural, essa metodologia agrega todas as práticas culturais necessárias para a correta produção de tomates orgânicos, no litoral norte catarinense, entre elas a produção em abrigos, adubação com base em composto orgânico, enxertia, uso de biofertilizantes e de agentes de controle biológico.
Mais lucro ao produtor
Um estudo elaborado pela Epagri atesta que, na comparação com o sistema convencional, a adoção do Tomatorg reduz os custos e aumenta o lucro líquido do horticultor.
No experimento realizado pela estatal, foi possível demonstrar que o custo de produção por planta pode cair de R$ 4,58 no sistema convencional, para R$ 3,38 no Tomatorg. O lucro líquido do produtor, que aderir a esse sistema, pode aumentar em 2,7 vezes.
“É um divisor de águas na produção orgânica de tomates em Santa Catarina. Escolhemos o tomate por ser a cultura mais difícil de ser produzida. Aqui tem 20 anos de pesquisa e desenvolvimento”, destaca o pesquisador Rafael Morales, coordenador da equipe que trabalhou no projeto.
Programa AgroConsciente
Conforme a Secretaria de Agricultura, com o AgroConsciente, Santa Catarina terá um alinhamento de programas já existentes para que atendam à nova diretriz e também ao desenvolvimento de ações que oportunizem mais renda ao produtor rural, ofereçam segurança alimentar à população e minimizem os impactos ao meio ambiente.
“Precisamos fazer com que a produção mais consciente chegue a todos os lugares. Essa ação é de respeito não só à terra e ao ar, mas ao agricultor, àquele que está todo dia no campo se expondo. Não significa banir o uso de defensivos agrícolas, mas é um incentivo à tecnologia e pesquisa, para que nosso produtor tenha condição de se proteger e trazer alimentos seguros à mesa do consumidor, com mais valor agregado”, salienta o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés.
O gestor também projeta que “nosso Estado será uma referência no cenário nacional e internacional na produção rural equilibrada e sustentável”.
Secretário da Agricultura de Santa Catarina, Ricardo de Gouvêa explica que o termo “AgroConsciente” envolve o compromisso de todo o setor para que haja mais responsabilidade na produção de alimentos, englobando todos os elos da cadeia produtiva.
“Não estamos falando apenas orgânicos. Nossa intenção é envolver todo o agronegócio, aqueles que produzem alimentos de forma convencional, os pecuaristas e os produtores de grãos. Queremos que essa seja uma marca agrocatarinense, que reforce nosso compromisso de produzir alimentos de qualidade capazes de abastecer os mercados mais exigentes mundo”, ressalta.
Outras ações
Com o AgroConsciente, os programas da Secretaria da Agricultura e de suas empresas vinculadas, como a Epagri – além da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e da Central de Abastecimento do Estado(Ceasa) – passarão por mudanças significativas.
De acordo com o órgão estadual, a nova diretriz prevê ações na geração e na difusão de tecnologias; políticas públicas potencializadoras de ações em produção agroconsciente; revisão de legislações; fiscalização do uso irregular de agrotóxicos; capacitação de produtores e profissionais; difusão da rastreabilidade na produção vegetal com o Programa e-Origem e apoio à comercialização de produtos agrícolas, em especial os alimentos orgânicos.
A assistência técnica executada pela Epagri terá atividades específicas para incentivar a agrobiodiversidade, com o resgate e manutenção de sementes, ervas, plantas e alimentos tradicionais e na conservação do solo e da água.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária também terá três novos Centros de Referência Tecnológica: produção de leite a pasto (Campos Novos), fruticultura temperada (Videira) e boas práticas em bovinos de corte (Tubarão).
Na área da pesquisa, serão contempladas tecnologias homeopáticas e fitoterápicas para produção em base ecológica; a implantação da produção integrada de banana; boas práticas para produção de milho e soja; biofertilizantes; desenvolvimento de sistemas integrados de produção agrícola e análise do mercado de produtos orgânicos.
Políticas públicas
Os tradicionais programas da Secretaria da Agricultura, que apoiam os investimentos e melhorias no meio rural catarinense, possuem agora linhas especiais para incentivo à produção agroconsciente.
Com o programa Menos Juros, agricultores e pescadores de Santa Catarina contam com financiamentos de até R$ 100 mil e um subsídio de juros de 2,5%, além de um prazo de oito anos para o pagamento.
Os investimentos podem ser utilizados para captação, armazenagem e distribuição de água para consumo humano e animal; energias renováveis ou inovação e produção limpa.
O Programa de Fomento à Produção Agropecuária traz um limite de financiamento de R$ 30 mil para melhoria de sistemas produtivos e de R$ 40 mil para agregação de valor. A linha não tem juros e os produtores têm 5 anos de prazo para pagamento.
Já o programa Terra-Boa conta com o projeto piloto Kit Solo Saudável, que libera um conjunto composto por sementes de, pelo menos, duas espécies ou cultivares de plantas para adubação verde e insumos.
Os produtores também seguem a orientação técnica da Epagri para o uso em Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) e na Cobertura Verde de Pomares. O valor do kit é de aproximadamente R$ 2 mil e o produtor tem dois anos de prazo para pagamento, com parcela anual. Se o pagamento for único, haverá subvenção de 60% sobre o valor da segunda parcela.
>> Leia a matéria “Sistema de Plantio Direto de Hortaliças reduz uso de agroquímicos” , veiculada no site da revista A Lavoura, que traz informações sobre o SPDH da Epagri.
28 anos da Epagri
A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina foi fundada em 20 de novembro de 1991, com a fusão entre a Acaresc, até então responsável pela extensão rural, a Acarpesc, que respondia pela extensão pesqueira, e a Empasc, que fazia a pesquisa agropecuária. A essas entidades se uniram outras que formaram a Epagri.
O estado catarinense foi o primeiro a reunir numa empresa os serviços de pesquisa agropecuária e extensão rural. A partir desta iinovação se construiu uma história de sucesso. Hoje, a Epagri é referência nacional e internacional em pesquisa e extensão rural.
“É um momento de comemoração não só para quem está hoje na ativa, mas por todos que fizeram parte dessa história. Até hoje o Estado de Santa Catarina é um dos únicos que unem pesquisa e extensão na mesma empresa. Somos o braço do governo na casa de cada um dos agricultores”, ressalta Edilene Steinwandter, presidente da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural.