A técnica é um caminho eficiente para deixar a olericultura mais limpa. Conhecido como uma transição da agricultura convencional para a agroecológica, permite reduzir o uso de defensivos agrícolas e adubos químicos
Somente no Estado de Santa Catarina, região Sul do Brasil, o Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) é utilizado em aproximadamente três mil hectares de 1,2 mil propriedades rurais, o que representa cerca de 10% da área plantada com esse tipo de alimento, segundo levantamento da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).
Difundido como uma transição da agricultura convencional para a agroecológica, esse sistema diminui a utilização de agroquímicos e adubos altamente solúveis, podendo até mesmo eliminá-los por completo das lavouras. O segredo do SPDH é promover a saúde da lavoura com práticas voltadas para o conforto das plantas. Isso significa reduzir o estresse relacionado a fatores como temperatura, umidade, salinidade e PH do solo, luminosidade e ataque de pragas e doenças.
“Na nutrição da planta, é preciso seguir as taxas diárias de absorção de nutrientes ajustadas às reservas nutricionais do solo, aos sinais apresentados pelas plantas e às condições ambientais”, diz Marcelo Zanella, engenheiro agrônomo da Epagri. “Se a planta fica mais resistente, exige menos insumos para se desenvolver de forma adequada”.
Como funciona
O sistema prevê uma série de práticas conservacionistas. A principal é a proteção permanente do solo com palhada, utilizando plantas de cobertura para formar biomassa. Além dessas plantas, conhecidas como adubos verdes, são mantidos na área de plantio os restos vegetais de culturas anteriores.
Cada hectare de horta precisa de, pelo menos, 10 toneladas de palha por ano. O revolvimento do solo é restrito à linha de plantio e, nessa área, o olericultor deve praticar rotação de culturas.
Além de proteger o solo, as plantas de cobertura servem de alimento para macro e microrganismos, aumentam a concentração de matéria orgânica, reduzem o surgimento de plantas espontâneas e mantêm a umidade e a temperatura mais estáveis.
“Com a rotação de várias espécies, há redução nos problemas fitossanitários, aumento na biodiversidade e na ciclagem de nutrientes, mantendo e melhorando a fertilidade do solo”, diz Marcelo.
Custos menores
Reduzindo o uso de adubos e defensivos agrícolas, o agricultor gasta, em média, 50% menos para produzir hortaliças em SPDH. A melhoria na qualidade e na uniformidade das plantas permite reduzir em 35% as perdas na colheita. Além disso, as taxas de infiltração de água no solo chegam a ser três vezes maiores que no sistema convencional – a redução média no uso de água para irrigação é de 80%.
Na cadeia produtiva do tomate, o sistema tem permitido reduzir em 60% o uso de fungicidas, em 100% o uso de herbicidas e em 60% o uso de adubos químicos, mantendo a produtividade quando comparada ao sistema convencional. No cultivo de cebola, além de reduzir em 60% o uso de adubo químico e em mais de 40% o uso de fungicidas, o SPDH permite estender em 60 dias o tempo de armazenagem do bulbo.
Outra hortaliça com resultados surpreendentes é o chuchu. Os olericultores têm conseguido eliminar totalmente o uso de herbicidas e fungicidas, em 80% o uso de inseticidas e em 70% os adubos químicos. “Em propriedades de Anitápolis, após cinco anos de SPDH, registrou-se aumento de 100% na produtividade em relação ao método convencional”, acrescenta Marcelo.
Além de alimentos mais seguros, a redução dos insumos significa dinheiro no bolso. De acordo com o Balanço Social da Epagri, em 2018 o SPDH beneficiou os olericultores catarinenses com25 milhões de reais em aumento de produtividade e 15 milhões em redução de custos em comparação com o cultivo convencional.
A empresa realiza pesquisas na área de SPDH desde 1998. Em 2018, orientou a implantação de 142 hectares de novas lavouras nesse sistema. A meta é que toda a olericultura catarinense seja conduzida em plantio direto até 2030