Programa visa minimizar os efeitos da fome e combater o desperdício de alimentos
Já se deu conta que, todos os dias, toneladas de frutas, verduras, legumes e demais alimentos, em perfeitas condições e não vendidos em locais como feiras, supermercados e restaurantes, vão parar no lixo? O que fazer para mudar esse cenário?
É aí que começa o trabalho do Mesa Brasil Sesc RJ, programa que atua no combate à fome e ao desperdício de alimentos. Pioneiro no Estado do Rio de Janeiro, o programa criado pelo Sesc Rio, nasceu em dezembro de 2000 como Banco Rio de Alimentos.
“Em 2003, o programa ganhou dimensão nacional, com o nascimento da rede Mesa Brasil Sesc, lançada em todos os estados brasileiros, visando minimizar os efeitos da fome e combater ao desperdício de alimentos”, relata a Especialista em Responsabilidade Social e Terceiro Setor e Gerente Mesa Brasil Sesc RJ, Cida Pessoa.
Conforme explica Cida, o programa tem como principal objetivo combater a fome e o desperdício de alimentos, contribuindo para a promoção da cidadania e a melhoria da qualidade de vida de pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social. “Somente em seu primeiro ano de atuação, foram distribuídos 4,6 milhões de quilos de alimentos, beneficiando mais de 173 mil pessoas em todo Brasil”, cita a gerente.
Como funciona o programa
O Mesa Brasil recolhe e doa alimentos fora dos padrões de comercialização, mas que ainda podem ser consumidos. Desta forma, evita-se que alimentos próprios para o consumo humano cheguem ao lixo, fortalecendo o viés sustentável do programa, tornando possível que esses alimentos que seriam descartados cheguem no prato de milhares de pessoas beneficiadas.
“Atuamos também no atendimento às vítimas de catástrofes quando levamos alimentos e outras doações para pessoas atingidas pelas fortes chuvas que acometem nosso Estado, por exemplo”, complementa Cida.
É importante destacar que no Mesa Brasil Sesc RJ as ações educativas realizadas com os responsáveis pelas instituições e com as cozinheiras também fazem parte dos objetivos do programa, o que reforça a importância do aproveitamento integral dos alimentos e a transformação social que esta pautada nas informações que são multiplicadas.
“Também atuamos na modalidade Banco de Alimentos. Ou seja, recolhemos nos parceiros alimentos em perfeitas condições de consumo, armazenamos e distribuímos para instituições socioassistenciais cadastradas no programa, de acordo com o perfil de atendimento, número de refeições servidas e total de pessoas atendidas”, acrescenta.
Parcerias
Para se tornar um parceiro doador do Mesa Brasil, considerada a maior rede de banco de alimentos da América Latina, basta entrar em contato com o programa. “Depois do primeiro contato, nós passamos para recolher a doação. Com isso, o doador pode se tornar um parceiro sistemático do programa ou realizar apenas uma doação pontual”, explica a gerente.
A instituições autorizadas a fazer doações, segundo ela, são as indústrias de alimentos, centrais de distribuição, supermercados, armazéns, produtores, redes varejistas, associações de produtores rurais, gráficas, empresas de embalagens, empresas de transportes, pessoa física, etc.
“Aceitamos doações de frutas, legumes e verduras, além de itens de mercearia com até cinco dias para o vencimento, produtos de higiene e limpeza com agendamento prévio, utensílios em geral entre outros”, lista.
Em relação ao que não pode ser doado, Cida menciona produtos sem rótulo (identificação) ou sem validade, com data de validade vencida, frutas, legumes e verduras com sinais de mofo, manchas, partes murchas, amassadas e com sinais de apodrecimento. “Itens de mercearia com avarias, como açúcar, sal, farinhas e fubá, alimentos com embalagens enferrujadas, estufadas ou amassadas, temperos prontos, cigarros e bebidas alcoólicas, também estão nessa lista”.
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Outras ações
Dentre as outras atividades promovidas pelo programa, a gerente destaca os Projetos e Ações Educativas, como, por exemplo, o Projeto Redes Gastronômicas. “Este projeto, realizado há 13 anos, é desenvolvido pela equipe de nutrição do Programa Mesa Brasil Sesc RJ”, relata.
Segundo Cida, o Projeto Redes Gastronômicas faz capacitação das cozinheiras das instituições socioassistenciais, com foco em preparações com base no aproveitamento integral dos alimentos, gastronomia social e sustentável. “Assim, contribui não só para o consumo consciente, mas também para o aumento da geração de renda”, explica.
Cida cita os principais objetivos do curso: conscientizar o público sobre o valor da alimentação saudável e sem desperdícios, estimular a criação de receitas com aproveitamento integral de alimentos e com baixo custo dentro da gastronomia, além de preparar os alunos para uma possível inserção no mercado de trabalho e proporcionar o conhecimento teórico-prático de custos, técnicas de manipulação, higiene e gastronomia.
Há, ainda, o projeto Pequeno Gourmet, no qual as crianças participam de oficinas de culinária e reuniões temáticas para troca de informações e experiências. Essa interação ocorre entre as crianças, a nutricionista e um chef de cozinha, com o objetivo de incentivar o aproveitamento integral de alimentos, criando hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis.
“Dessa forma, as crianças são estimuladas a criarem receitas e. no fim de cada aula, levam para casa o alimento, motivando os seus familiares a compartilhar os novos hábitos”, enfatiza e acrescenta que, uma vez por mês, cada criança participante do projeto recebe uma cesta de hortifrúti para levar para casa, proporciona condições de seguir com os novos hábitos.
“Hoje o projeto acontece em Madureira e Teresópolis, em parceria com o projeto Mais Infância do SescRJ. Temos planos para iniciar o projeto Pequeno Gourmet em duas comunidades do Rio de Janeiro”, conta.
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Mesa no Campo
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), 30% de toda a produção agrícola brasileira acaba no lixo. Com o projeto Mesa no Campo, do Sesc RJ, alimentos fora dos padrões de comercialização, por causa dos rigorosos critérios de seleção, são doados e passam a integrar a alimentação de crianças e adultos de instituições cadastradas no programa Mesa Brasil Sesc RJ.
Cida lembra que na agricultura familiar é comum transformar alimentos aptos para o consumo, mas sem valor comercial, em adubo, passando um trator por cima da plantação. Para ela, a atitude pode parecer estranha, mas mobilizar mão de obra, transporte e toda a logística necessária para a doação desses produtos é muito caro e difícil para um agricultor familiar.
Foi pensando nessa perda do pequeno agricultor familiar que o Mesa Brasil criou em parceria com uma Associação de pequenos produtores da localidade de Salinas, em Nova Friburgo. RJ.
“O Programa Mesa Brasil Sesc-RJ vai além das doações. Impulsionamos no Estado do Rio de Janeiro uma forte rede de solidariedade levando esperança para milhares de pessoas que por muitas vezes só tem o Mesa Brasil como parceiro”, finaliza Cida