Médica analisa os impactos da carne ultraprocessada e do refrigerante na saúde cognitiva e alerta para a inflamação silenciosa causada por dietas industrializadas
Um estudo recente publicado na revista científica The American Journal of Clinical Nutrition acendeu um novo alerta sobre a influência da alimentação na saúde cerebral. A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, acompanhou mais de 10 mil pessoas, com 55 anos ou mais, ao longo de sete anos e identificou os dois alimentos ultraprocessados mais prejudiciais à função cognitiva: carne ultraprocessada e refrigerantes.
Presunto, mortadela, salame, peito de peru, blanquet de peru e outros frios/embutidos e produtos similares “light” ou “saudáveis”, são, na verdade, altamente processados e nocivos para a saúde.
Entram também na lista de carnes ultraprocessadas – e altamente prejudiciais – a salsicha, linguiça, chouriço, bacon, Hambúrgueres congelados (industrializados), as carnes enlatadas (como salsicha e carne de suína em lata) e, ainda os nuggets embalados e congelados, seja de carne de frango ou de peixe.
Diferentemente das carnes naturais, as ultraprocessadas são formulações industriais que contêm, além da carne, diversos e ingredientes em sua composição, como conservantes químicos, corantes, realçadores de sabor, aromatizantes, e ainda gorduras e sódio em excesso. Todos danosos à saúde.
O trabalho evidenciou que o consumo diário de uma porção de carne ultraprocessada está associado a um aumento de 17% no risco de declínio cognitivo. Já o consumo diário de refrigerantes elevou esse risco em 6%.
Bárbara Mariano, gastroenterologista com atuação em Medicina Funcional Integrativa e diretora da Clínica Integrative Campinas, destaca que o resultado é alarmante, especialmente porque esses alimentos são amplamente consumidos e vistos como inofensivos por boa parte da população.
Para ela, o maior perigo está no fato de que esses produtos, além de pobres em nutrientes, são carregados de aditivos, conservantes, açúcares refinados e gorduras pró-inflamatórias, que afetam diretamente não apenas o metabolismo, mas também o cérebro.

Uma dieta saudável e anti-inflamatória é composta por alimentos ricos em antioxidantes, ômega-3, probióticos naturais e vitaminas do complexo B Foto Divulgação
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Eixo intestino-cérebro e inflamação silenciosa: o que está por trás dos sintomas
A médica explica que o problema não é só sobre calorias ou ganho de peso: “Estamos falando de um ataque direto ao cérebro. A inflamação gerada por esses alimentos compromete a comunicação entre intestino e cérebro, refletindo em perda de memória, dificuldade de concentração e até maior risco de demência”, ressalta.
Bárbara Mariano reforça que a saúde cerebral está profundamente ligada à saúde intestinal, e que desequilíbrios na microbiota — causados por uma alimentação baseada em ultraprocessados — promovem uma inflamação silenciosa que afeta o sistema nervoso como um todo.
Segundo a gastroenterologista, é comum que sintomas como lapsos de memória, cansaço mental, irritabilidade e ansiedade sejam associados ao estresse ou à idade, quando, na verdade, podem estar sendo desencadeados por escolhas alimentares ruins.
“O eixo intestino-cérebro é um dos principais alvos da abordagem funcional integrativa, que busca não apenas controlar sintomas, mas entender suas origens por meio de exames detalhados que investigam a flora intestinal, a presença de marcadores inflamatórios, níveis de vitaminas, minerais e toxinas ambientais”, afirma a especialista.

O consumo diário de refrigerantes eleva o risco de declínio cognitivo Foto Freepick/Divulgação
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Como reverter os danos
A médica orienta que é possível reverter os danos com estratégias que estimulem a neuroplasticidade cerebral. “Isso é possível com uma dieta anti-inflamatória, composta por alimentos ricos em antioxidantes, ômega-3, probióticos naturais e vitaminas do complexo B, além de sono de qualidade, prática regular de atividade física e manejo do estresse, é possível recuperar funções cognitivas e preservar a saúde do cérebro a longo prazo”, enfatiza.
Para a gastroenterologista, o principal desafio está em mudar a percepção do paciente, promovendo um entendimento mais profundo sobre o impacto das escolhas cotidianas. “Não se trata apenas de restringir, mas de ensinar. “É preciso e fundamental compreender que o que se coloca no prato hoje pode influenciar a memória, o humor e a disposição no futuro. O conhecimento é a base para uma mudança real e sustentável”, afirma Bárbara.
Ela defende ainda que o plano terapêutico precisa incluir o paciente como agente ativo no cuidado com a própria saúde. “Essa responsabilização consciente é o que permite não apenas evitar doenças, mas conquistar bem-estar duradouro, com vitalidade e clareza mental mesmo com o avançar da idade”, acredita.

Bárbara Mariano: “É preciso compreender que o que se coloca no prato hoje pode influenciar a memória, o humor e a disposição no futuro” Foto Clínica Integrative Campinas/Divulgação








