As qualidades da pitaia vão além do sabor adocicado e refrescante. Recentes estudos sugerem que a fruta também traz vários benefícios para a saúde
Fruta da moda, a exótica e saborosa pitaia, além de muito saudável, tem grande potencial para auxiliar no controle do colesterol, da glicemia e da ansiedade. Esse foi o resultado de estudos realizados com animais pelo do Laboratório de Processos Agroindustriais da Embrapa Agroindústria Tropical, no Ceará.
Segundo a pesquisadora Ana Paula Dionísio, os resultados são promissores para tratá-la como um alimento funcional, ou seja, que contribui para a manutenção da saúde. “Mas ainda há um longo caminho entre os estudos realizados e os testes clínicos com humanos, efetuados por instituições de saúde. Embora favoráveis, os resultados “não significam que as pessoas devam substituir seus remédios pela fruta”, alerta.
A especialista da Embrapa explica que pitaia tem características especialmente importantes porque atuam contra problemas que atingem a saúde pública.
“A fruta foi eficaz na redução do colesterol total, do LDL e dos triacilgliceróis e na elevação do HDL (conhecido como “colesterol bom”). Em animais diabéticos, as doses de 200 mg/kg e 400 mg/Kg apresentaram atividades farmacológicas promissoras, reduzindo significativamente a glicemia no grupo tratado”, ressalta, complementando que os testes demonstraram efeito ansiolítico e ausência de toxicidade nas concentrações avaliadas”.
Os estudos com a pitaia foram liderados por um grupo de cientistas da Embrapa especializados em alimentos funcionais, com a participação da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade de Fortaleza (Uniflor).
Além dos testes para determinação de atividades funcionais da fruta, os pesquisadores observaram os efeitos do processamento na composição metabólica, química, físico-química, enzimática e volátil da polpa.
Indústria farmacêutica e de alimentos
Guilherme Julião Zocolo, pesquisador da Embrapa que coordena os estudos, salienta que “a pitaia se mostrou promissora para as indústrias de alimentos, ou até mesmo farmacêutica, como alimento funcional e fonte de compostos de interesse, que podem ser concentrados ou isolados, para amplificar seu efeito”.
“Diante da alta e crescente prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, e dos transtornos de ansiedade, existe uma busca por terapias alternativas para o auxílio na prevenção dessas enfermidades com foco na alimentação. Principalmente para identificar novos alimentos funcionais para preveni-las”, declara Zocolo.
“Com cor vibrante e o sabor neutro, levemente doce, a pitaia apresenta características bem favoráveis para o desenvolvimento de produtos industriais”, destaca o engenheiro de alimentos da Embrapa Fernando Abreu.
Produtos inovadores
Ele enfatiza que uma das possibilidades é utilizá-la como ingrediente na indústria de sucos, mas as pesquisas avançam e focam também em outros produtos – mais inovadores – com possível aplicação em várias indústrias, como as de alimentos e de cosméticos. “No momento, estão em estudo os melhores processos para o aproveitamento industrial, preservando as propriedades funcionais”.
Abreu salienta que uma das preocupações dos cientistas é desenvolver produtos que aproveitem todas as partes da fruta. “A pitaia tem um rendimento de 50% de polpa, o resto é casca, que também tem componentes funcionais”, frisa.
Pitaia e colesterol
Os estudos revelaram que a administração diária de pitaia vermelha em ratos com dislipidemia (distúrbio do metabolismo lipídico), por 60 dias, elevou o HDL (colesterol de alta densidade, popularmente conhecido como o “colesterol bom”) e reduziu o colesterol total, o LDL (colesterol de baixa densidade, conhecido como “colesterol ruim”), triacilgliceróis e as enzimas indicadoras de lesão no fígado alanina aminotransferase e aspartato aminotransferase.
Para chegar a esses resultados, os cientistas do Laboratório de Biotecnologia e Biologia Molecular da Universidade Estadual do Ceará (LBBM-UECE) dividiram os animais em seis grupos: três receberam doses diferentes de pitaia vermelha, um grupo recebeu uma dieta rica em colesterol, outro recebeu uma dieta padrão e o último grupo usou uma droga amplamente utilizada para controle do colesterol alto, a Sinvastatina.
Os animais que foram alimentados com a pitaia nas doses de 100, 200 e 400mg/Kg apresentaram redução significativa no nível de colesterol total, quando comparados ao grupo não tratado, ao fim do teste.
A pesquisadora da Embrapa Ana Paula Dionísio salienta que essa apuração é relevante, “pois demonstra que a pitaia é um alimento com grande potencial no auxílio ao controle do colesterol”.
De acordo com a especialista, o resultado pode ter relação com a presença de betalaínas, flavonoides e oligossacarídeos, compostos bioativos presentes na fruta.
Efeito sobre a diabetes
O estudo testou ainda o efeito do consumo da pitaia na diabetes. Para isso, os animais foram separados em grupos, relata a professora Maria Izabel Florindo Guedes, que coordenou os ensaios com animais no LBBM da UECE.
“Um grupo foi submetido a tratamentos com polpa com semente liofilizada da pitaia nas doses de 200 e 400 mg/Kg de peso do animal. Outro, recebeu Metformina na dose de 200mg/kg de peso do animal e o restante não foi tratado. Já um terceiro grupo era formado por animais saudáveis”, explica.
Segundo a coordenadora, o teste observou glicemia, colesterol, HDL, triglicérides, ureia, creatinina, aspartato amino transferase (AST) e alanina (ALT).
“A pitaia vermelha pode ser uma alternativa alimentar promissora não só para o auxílio no tratamento da dislipidemia, mas também para hiperglicemia. Estudos pré-clínicos e clínicos são necessários para verificar tais resultados em humanos”, constata a professora.
Controle da ansiedade
Maria Florindo Guedes informou ainda que o estudo fez também a avaliação do efeito da fruta no controle da ansiedade. “Para isso, utilizou um modelo com um pequeno peixe, com cerca de três centímetros de tamanho, o zebrafish (Danio rerio) ou peixe-zebra”.
Os cientistas avaliaram, então, se houve alteração na coordenação motora, seja por sedação ou relaxamento muscular. “O teste, baseado na aversão desse tipo de peixe a áreas bem iluminadas, foi realizado em um aquário com zonas clara e escura”, relata a professora.
Ela informou que os animais foram divididos em três grupos, sendo que um recebeu pitaia, o outro, água destilada e o terceiro, Diazepam. “Após uma hora de tratamento, foram adicionados individualmente na zona clara do aquário e o efeito ansiolítico foi quantificado como porcentagem de permanência nessa zona”, revelou.
Na opinião da especialista, os resultados sugerem que a pitaia tem efeito positivo no controle da ansiedade, envolvendo a via GABAérgica, pois os animais diminuem a sua atividade locomotora e a sua aversão ao ambiente claro. “A via GABAérgica refere-se à atuação do principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central”.
Casca valiosa
Os resultados apurados pelo estudo sugerem, segundo Ana Paula Dionísio, que a pitaia apresenta potencial como uma terapia ansiolítica alternativa e complementar.
“Além do mais, a casca de pitaia, que geralmente é descartada durante o processamento e acaba sendo um resíduo e uma fonte de poluição, deve ser reavaliada e considerada um valioso produto, de grande potencial como ingrediente econômico de valor agregado para auxílio nos transtornos de ansiedade”, ressalta.
Ela destaca que o estudo observou, também, os metabólitos secundários presentes na polpa de pitaia e a sua toxicidade em peixes-zebra adultos. A”lém disso, foi realizada a caracterização e avaliação dos efeitos biológicos da casca de pitaia para estimar seu potencial como agente ansiolítico alternativo”, completa a pesquisadora da Embrapa.
Fruta ainda é pouco produzida no Brasil
Conhecida como fruta-do-dragão por conta da casca escamosa, a pitaia é o fruto de uma cactácea nativa das florestas tropicais da América Central e do Sul, Índia e Malásia. Quando madura, a polpa apresenta consistência gelatinosa e paladar doce. Normalmente é consumida in natura, mas pode ser processada e consumida em sucos, geleias, saladas, vinhos e sorvetes.
É uma planta perene, pouco exigente em qualidade do solo e que pode crescer em copas de árvores e rochas. A demanda por irrigação é menor do que outras frutíferas. Por isso, adapta-se muito bem às condições do Semiárido brasileiro.
Dependendo da espécie, os frutos apresentam diferentes características, como presença de espinhos, cor da casca e da polpa. As mais comuns e comercializadas são a Hylocereus polyrhizus (casca e polpa vermelhas); Hylocereus undatus (casca vermelha e polpa branca) e Selenicereus megalanthus (pitaia amarela de polpa branca, conhecida como “pitaia colombiana”).
A fruta ainda é pouco cultivada no Brasil, por isso os preços são elevados, assim, pouco acessível para as camadas populares no País. A Região Sudeste é a principal produtora, com safra de dezembro a maio.
O Ceará também produz pitaia, na região da Chapada do Apodi, nos municípios de Limoeiro do Norte e Quixeré. O Estado colhe essas frutas o ano inteiro, mas a produtividade cai nos meses mais chuvosos, de janeiro a abril.
Outros benefícios para a saúde
Fortalece a imunidade – Por ser rica em vitamina C, a pitaia é grande aliada na prevenção de gripes e resfriados, fortalecendo o sistema de defesa do organismo. Reduz a ação danosa dos radicais livres e previne várias doenças, entre elas o câncer.
Auxilia na digestão – Consumir pitaia com regularidade favorece o processo digestivo porque a fruta é rica em fibras, reduzindo a predisposição ao “intestino preguiçoso”. As fibras também evitam doenças cardiovasculares.
Elimina a anemia – A anemia pode ser combatida com o consumo constante da fruta, pois é uma ótima fonte de ferro, mineral que opera na síntese das células vermelhas do sistema sanguíneo.
Evita a diabetes – A presença de fibras alimentares na estrutura da pitaia, contribuem no controle do nível de açúcar no organismo, prevenindo a doença.
Ajuda na perda de peso – As calorias da pitaia são bastante reduzidas, sem perder nada em relação ao seu sabor. Assim, pode ser consumida em generosas quantidades in natura, em sucos, saladas, sorbets e sobremesas, sem grande risco de engordar.