Em meio a fraudes recentes identificadas pelo Ministério da Agricultura, saiba como comprar um azeite de qualidade, observado o teor de acidez, método de produção, conteúdo fenólico, conservação, entre outros pontos
Um bom azeite possui inúmeras variáveis que devem ser consideradas e a acidez, por exemplo, é um dos parâmetros de escolha, No entanto, está longe de ser o principal.
Método de produção, conteúdo fenólico, conservação, data de fabricação e origem são alguns dos fatores que devem ser considerados também, até mesmo para evitar ser vítima de alguma fraude.
Somente neste ano, 33 marcas de azeite de oliva tiveram a comercialização suspensa por fraudes, segundo uma lista divulgada pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). As falsificações envolveram, principalmente, a mistura de outros óleos ao produto final e uso de nomenclatura incorreta.
“A Instrução Normativa 1/2012 do Mapa define que azeite de oliva é o produto obtido somente do fruto da oliveira, excluído todo e qualquer óleo obtido pelo uso de solvente ou pela mistura com outros óleos”, explica o engenheiro agrônomo Pedro Moura, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
Recomendações
Algumas recomendações podem ajudar o consumidor na escolha de um bom azeite. Chania Chagas, sommelier em azeites de oliva e proprietária do Empório do Azeite, afirma que “diferentemente dos vinhos, o azeite de oliva quanto mais novo melhor é”. Por essa razão, ela sugere sempre o consumo de azeites frescos”.
Dar preferência a produtos envasados no local de origem também é importante. “O azeite fabricado em um local e engarrafado em outro tem mais chance de ser adulterado ou de ter suas características modificadas do que aquele que já está acondicionado no recipiente em que será comercializado”, observa o coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Epamig, Luiz Fernando de Oliveira.
Método de produção
De acordo com a sommelier Chania Chagas, existem três características básicas no sabor de um azeite extra virgem: o frutado (verde ou maduro), o amargor e a picância. Esses três fatores podem ter sua intensidade suave, média ou intensa.
Ela ainda explica que o processo de produção do azeite de oliva extra virgem está diretamente relacionado com essas características.
“Se as azeitonas foram colhidas verdes ou no momento da veraison (quando ainda não mudaram sua cor para escura), permanece no azeite o gosto amargo das azeitonas. O frutado do azeite é percebido pelo sentido do olfato, e é um lembrete para uma fruta saudável e fresca, sendo algo que devemos reconhecer e valorizar. Existem azeites produzidos com olivas mais maduras que têm como característica um sabor mais adocicado e suave, adquirindo uma textura mais delicada”.
Ela também cita a influência do teor de polifenóis, que também varia muito do tipo de oliva utilizada: “Na ficha técnica dos azeites, existe essa informação. Também é possível verificar de acordo com o tipo de oliva que o azeite é feito, pois cada oliva possui um conteúdo fenólico diferente. As olivas Picual, Coratina, Peranzana, Cornicabra e Hojiblanca são as que mais trazem esse benefício”.
Segundo a sommelier, o conteúdo de polifenóis contidos no azeite de oliva extra virgem determina o nível de amargor e picância. Quanto maior o índice de compostos fenólicos, maior é a quantidade de antioxidantes contidos nele. E essa característica não só está relacionada com os benefícios à saúde, como também ajuda na conservação do azeite dentro da garrafa.
Conservação
Quanto às embalagens é recomendado que sejam de vidro e escuras. E tem uma razão: “As latas poderiam ser uma opção interessante pela proteção da luz, porém, após abertas, não oferecem a mesma vedação”, alerta aazeitóloga Ana Beloto.
Outro ponto a ser observado é a conservação das garrafas no ponto de venda. É indicado que o azeite fique armazenado em local fresco e seco, longe da luz e calor, impedindo a oxidação e deterioração. Garrafas claras devem ser sempre guardadas e nunca podem ficar expostas à luz.
Sobre a conservação dos azeites após a compra, Ana indica que as embalagens devem ser guardadas em armários protegidos da luz e do calor. Depois de abertas, elas devem ser acondicionadas na geladeira.
“Na geladeira, o azeite de boa qualidade vai condensar um pouco, mas conservará suas características de sabor e aromas. Antes de consumir, basta deixá-lo em temperatura ambiente por alguns minutos, para que ele volte a consistência habitual”, informa a azeitóloga.
Desconfie de preço muito baixo
Outro parâmetro importante é o preço: “Temos de desconfiar de azeites baratos. Um dado a ser lembrado é que, para a produção de cada litro de azeite, são necessários, no mínimo, cinco quilos de azeitona”, conta Ana.
“Temos de considerar que o azeite tem um alto custo de produção, principalmente aqui, no Brasil, onde a cultura ainda está em desenvolvimento. Na região da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, são necessários, em média, dez quilos kg de azeitona para cada litro de azeite produzido”, destaca engenheiro agrônomo Pedro Moura, da Epamig.
Segundo ele, “os azeites importados, que atendem quase a totalidade do mercado consumidor brasileiro, têm um custo menor de produção, mas existem as despesas com transporte, impostos, além de outros fatores que interferem nos preços”.
Tipos e usos
Os azeites mais comumente consumidos pertencem ao grupo “Azeite de Oliva Virgem”, que está dividido em três categorias de tipo: extravirgem (com acidez de até 0,8%), virgem (com acidez de até 2%) e lampante (com acidez superior a 2%), sendo esse último impróprio para o consumo, pois é usado como combustível.
Os especialistas lembram que a qualidade do azeite é aferida por dois métodos: análise química e análise sensorial. Nos rótulos dos produtos são apresentados esses dados químicos.
“É interessante que o consumidor observe as características das marcas que ele consome, se são padronizadas ou se mudam de uma garrafa para a outra. O próprio usuário deve fazer sua avaliação de aromas e sabores e optar por aquele que mais lhe agradar”, indica Moura.
Outra sugestão é sempre buscar informações sobre as inspeções feitas pelo Ministério da Agricultura, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e por outros órgãos competentes, como a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste).