Somente no ano passado, o País produziu 61,7 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado e exportou 36 milhões de sacas, resultando em divisas de 5,15 bilhões de dólares
Líder mundial na produção e na exportação de café, o Brasil espera, há 20 anos, pelo acordo entre os blocos do Mercosul e da União Europeia (UE).
Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), somente no ano passado, o País produziu 61,7 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado e exportou 36 milhões de sacas, principalmente de café verde, resultando em divisas de 5,15 bilhões de dólares, em 2018.
Desse total, aproximadamente 17,5 milhões de sacas (49%) foram embarcadas para o território europeu, especialmente para os mercados da Alemanha, Itália, Bélgica, França e Espanha, conforme dados da Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Firmado em junho deste ano, em Bruxelas (Bélgica), o Mapa aponta que esse acordo pode trazer vantagens para diversos setores da agricultura nacional, com destaque para os cafeicultores, que aguardam com grande expectativa por esse novo cenário.
Tarifas menores
O Ministério da Agricultura ainda destaca que o acordo prevê a isenção de tarifa para o café verde exportado aos europeus, igualando ao que ocorre atualmente com os processados (solúvel, extratos e café torrado) e assim resolvendo a questão da escalada tarifária.
Ao entrar em vigor (o acordo precisa ser aprovado pelos parlamentos dos blocos para começar a vigência), o café torrado e solúvel brasileiro, que têm alíquotas de 9% para entrar na UE, atingirão o livre comércio (sem tarifa) em quatro anos no bloco europeu. Com isso, os produtos brasileiros chegarão com custos menores e mais competitivos ao mercado europeu.
Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Aguinaldo José de Lima avalia que o produto brasileiro terá melhores condições de competir com os de países que pagam tarifas menores dentro da UE, como é o caso do Vietnã, Colômbia e Equador.
“Os vietnamitas têm 2% de tarifa para UE. Perdemos mercado ao longo desses anos exatamente pela tarifa que nos foi imposta de 9%, e prejudicados por regimes preferenciais de tarifas e acordos comerciais com países concorrentes que ganharam espaço, tomando do Brasil”, explica o executivo.
A União Europeia foi o segundo maior destino das exportações de café solúvel (466 mil sacas/60kg de solúvel) em 2018. Só perde para os Estados Unidos (o equivalente a 644 mil sacas/60kg).
Com a entrada em vigor do acordo e a extinção da tarifa no período de quatro anos, Lima projeta um crescimento de 35% em volume nos próximos cinco anos.
O que é o café solúvel?
Após ser torrado e moído, o café passa por um processo que permite a solubilização, ou seja, ser misturado diretamente na água. Cerca de 25% do café consumido na União Europeia são do tipo solúvel. No Reino Unido, chega a 69%. A praticidade é um dos atrativos da bebida.
Café verde
Conforme o acordo, parte do café verde importado pela UE para produção de torrado (40%) e solúvel (entre 40% e 50%) deve ser proveniente do Brasil, exigência para que os europeus possam vender café torrado e solúvel com redução de alíquotas ao Mercosul.
Segundo o Mapa, no caso do bloco sul-americano, também há a necessidade de se utilizar parte de café verde brasileiro para o produto sul-americano ter tarifa preferencial na UE.
Presidente executivo do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro acredita que “os principais segmentos agraciados serão os industriais da torrefação e de solúvel com a desgravação da atual taxa de 9%, que incide sobre nossos produtos que ingressam no bloco europeu, até que chegue a zero nos próximos quatro anos”.
“Esse fato também remete benefício diretamente à produção cafeeira nacional, haja vista que nossas indústrias são importantes parceiros e clientes dos cafés do Brasil”, diz o executivo.
Futuras fábricas
Já a diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês), Vanúsia Nogueira, informou que empresas internacionais, de cápsulas e solúveis, já estão prospectando a possibilidade de instalação de unidades, como de torrefação, no País.
“Estados como Espírito Santo, São Paulo e Minas já receberam consultas de multinacionais espanholas e suíças para a montagem dessas indústrias no país para posterior exportação. O que o produtor brasileiro vai ganhar com isso? O poder de barganha. Se ele se organizar, principalmente, nessas regiões de IGs (Indicação Geográfica) poderão fazer acordos interessantes com essas empresas”, destaca Vanúsia.
Na visão do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Ricardo de Souza Silveira, um ponto que precisa ser debatido é a possibilidade de abrir a importação de café cru, por parte do Brasil, para a produção de blends (misturas), produto que agrada o paladar dos europeus.
Sustentabilidade
O presidente do Conselho Deliberativo do Cecafé, Nelson Carvalhaes, ressalta que o café brasileiro já atende às exigências do mercado europeu. É válido destacar que o café brasileiro é muito bem posicionado na comunidade europeia.
“Tem rastreabilidade, é sustentável. Somos um país com leis sociais e ambientais muito rígidas e isso atende os mais exigentes consumidores da União Europeia”, garante Carvalhaes.
Ele acrescenta que o Brasil tem “estrutura, tecnologia, áreas de cultivo, pesquisa, comércio organizado e logística preparada e o acordo com certeza estimulará a nossa indústria e fortalecerá a atuação do Brasil no exterior, aumentando laços e incrementando parcerias”.
“O Brasil volta a ser inserido na política de acordos internacionais de uma maneira inteligente, produtiva”, diz o presidente do Conselho Deliberativo do Cecafé.
Na avaliação do diretor de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Silvio Farnese, o acordo também ajudará na formação de preços para o produtor nacional.
“Isso, certamente, criará internamente maior interesse em novas plantas industriais para atender ao crescimento das exportações, melhorando significativamente a formação de preços para o produtor nacional”, reforça o executivo.
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)