Um inimigo silencioso da suinocultura, detectado no final dos anos 1990 na América do Norte, ainda causa preocupação de produtores do Brasil e do mundo todo. “O Circovírus Suíno Tipo 2 (PCV2) está onipresente nas fazendas”, alerta o médico veterinário Alvaro Aldaz, diretor de Desenvolvimento Comercial e Inovação da Zoetis.
Ele explica que a infecção não controlada pelo Circovírus Suíno Tipo 2 está ligada a várias condições clínicas agrupadas como doenças associadas ao PCV. A manifestação mais comum do vírus, segundo o especialista, é a doença sistêmica (PCV2-SD), que já causou enormes prejuízos econômicos ao setor antes da vacinação comercial.
Para se ter uma ideia, o número de suínos afetados em um plantel pode chegar a 30%, com altos índices de mortalidade (até 20%). O Circovírus Suíno Tipo 2 também é frequentemente associado a outras síndromes, que incluem doenças reprodutivas (PCV2-RD), dermatite suína e síndrome de nefropatia (PDNS).
“Hoje existem várias vacinas comerciais eficazes contra o PCV2, e a maioria dos leitões é imunizada. Mas também é comum falhas na vacinação, que podem ser causadas por diferentes fatores, do manejo à alta mutabilidade ou capacidade de alteração que o vírus possui”, explica Aldaz.
A doença no Brasil
“A infecção pelo PCV2 foi um dos impactantes eventos sanitários para a suinocultura brasileira de todos os tempos”, diz o médico veterinário David Barcellos, professor responsável pelo Departamento de Medicina Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Diagnosticada pela primeira vez no Brasil em 1999, pela Unidade Suínos e Aves da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), “essa infecção viral teve efeitos devastadores na suinocultura mundial, em sua primeira passagem pelos rebanhos suínos”. “Por isso, é preciso que seja mantida vigilância constante para evitar a repetição do problema”, reforça o professor.
Para ele, o que realmente conseguiu colocar a sanidade em seu patamar normal foi a disponibilização de vacinas para a imunização contra a infecção viral.
“Mesmo com o efetivo controle das manifestações clínicas da doença com o uso das vacinas, observou-se, no entanto, que a imunização não era capaz de eliminar a infecção dos rebanhos, mas de reduzir a carga viral, diminuindo ou anulando os efeitos negativos da presença do vírus no hospedeiro”, explica Barcellos.
O professor das UFRGS também conta terem sido observados pontuais casos clínicos de circovirose em granjas vacinadas, causados por falha no manejo de vacinas comerciais. Ele ainda faz um alerta: “Há amplas evidências de variações genéticas do circovírus suíno”.
Sintomas da circovirose
Conforme descreve a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), os principais sintomas da circovirose envolvem o atraso no crescimento, afetando um número variável de leitões do lote. Nota-se animais com aspecto pálido e, eventualmente, com icterícia. Alguns casos evoluem para a morte e outros para refugagem.
Segundo a instituição, as lesões mais proeminentes são registradas nos linfonodos e pulmões. Vários linfonodos (como os inguinais superficiais, mesentéricos e mediastínicos) encontram-se aumentados de tamanho. Nos pulmões, as principais lesões consistem em ausência de colabamento pulmonar. Outras lesões comuns são no fígado (alterações de coloração e de consistência) e nos rins (manchas esbranquiçadas, características de nefrite intersticial).
Ainda conforme a ABCS, a presença de lesões macroscópicas remete à necessidade da confirmação laboratorial. Os exames indicados são a histopatologia e a detecção específica do vírus ou antígenos virais (por PCR ou imunoperoxidase). O melhor material para envio ao laboratório é leitões afetados. Continue lendo em www.abcs.org.br/producao/sanidade/162-circovirose.
Danos à suinocultura
Na visão do médico veterinário David Barcellos, “é difícil avaliar o efeito e o nível real das perdas, mas certamente ainda existe prejuízo com a permanência da circulação do circovírus no País, nos dias atuais”, pois, além do vírus permanecer em uma forma subclínica e afetar discretamente parte dos animais vacinados, há ainda situações de animais deficientemente vacinados ou da existência na granja de falhas em ambiência, de manejo ou de alta pressão de infecção.
“O PCV2 pode afetar de forma leve o ganho de peso diário, conversão alimentar e atuar de forma sinérgica com outros agentes infecciosos primários ou secundários presentes nos plantéis”, informa o especialista.
Ele reforça que a melhor forma de prevenir o circovírus é garantir boas condições de criação para os animais e reduzir a pressão de infecção, além de manejo, ambiência e nutrição adequados. “Garantir a aplicação correta das vacinas e dos programas de vacinação também é fundamental.”