Um recente estudo desenvolvido pela Universidade Estadual Paulista – Unesp de Botucatu, baseado em dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), contesta informações de que o Brasil seja o maior usuário de defensivos agrícolas do planeta.
Na comparação entre dólar investido em defensivo agrícola e tonelada de alimento produzido, o Japão é o líder com o valor de US$ 95,40 por tonelada de alimento produzido, ficando o Brasil na 13ª posição, com um gasto de US$ 8,10 por tonelada, aponta o estudo.
“Esses dados jogam por terra a narrativa de que o Brasil é o maior consumidor de defensivos agrícolas do planeta”, afirmou Mário Von Zuben, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), em palestra proferida no Workshop para Jornalistas, organizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), em conjunto com outras instituições do agronegócio.
Outra questão abordada pelo executivo envolveu a argumentação de que vários defensivos utilizados no Brasil são proibidos na Europa. Segundo ele, muitos desses produtos não são utilizados pelo produtor europeu por não serem necessários, em função do inverno rigoroso que elimina muitas pragas, no entanto, em clima tropical, se proliferam com facilidade.
Comparação com outros países
“Em relação a esse aspecto, vale lembrar que a Alemanha tem registrados, por exemplo, 21 herbicidas e dez fungicidas utilizados na cultura do trigo e o Brasil não tem nenhum produto para trigo. Isso não nos autoriza a dizer que a Alemanha está envenenando sua produção”, contou o diretor executivo da Andef, lembrando que em Portugal, por exemplo, existem 26 defensivos para a cultura de oliveira e no Brasil existem apenas três, pois aqui o plantio ainda é pequeno.
Na avaliação de Zuben, é correta a atual estratégia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que visa acabar com a fila de defensivos esperando o registro.
“Nós temos de ter disponíveis novas e mais modernas moléculas para que a agricultura brasileira não fique defasada em relação aos seus principais competidores. A maioria das moléculas aprovadas é de produtos genéricos. Da lista de 32 novos ingredientes que ainda estão na fila da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os Estados Unidos e o Canadá já aprovaram 19; a Argentina, 15; a Europa, 16; e o Japão, 17”, informou o executivo.
Destinação correta de embalagens
Na sequência da palestra do diretor executivo da Andef, Renata Nishio, gerente de Destinação Final do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), relatou que o Sistema Campo Limpo, desenvolvido pela instituição, já deu destinação adequada para cerca de 500 mil toneladas de embalagens de defensivos agrícolas, desde 2001, quando foi criado.
“Temos 400 pontos de captação das embalagens e hoje já atingimos o índice de 90% das embalagens com destinação adequada, percentual bem superior ao de vários países. Canadá e Alemanha, por exemplo, estão no nível de 70%, mas esses países não têm, como o Brasil, uma regra legal determinando que o produtor devolva a embalagem vazia”, disse Renata.
Renata comenta que, atualmente, as embalagens vazias coletadas no Brasil já são recicladas e transformadas em tubos para esgoto, dutos corrugados, artefatos para indústria automotiva e, recentemente, até novas embalagens para defensivos. “Com isso nós fechamos o círculo e nos transformamos num claro exemplo de economia circular”, diz a executiva.
Mercado de defensivos
Outra palestrante do Workshop para Jornalistas, Amália Borsari, diretora executiva da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), traçou um panorama, brasileiro e mundial, do mercado de defensivos biológicos. Segundo afirmou, em 2018, o mercado brasileiro movimentou R$ 464,5 milhões, um salto de 77%, comparado com 2017.
Para Amália, a velocidade desse crescimento reflete a eficiência da tecnologia diante da necessidade dos agricultores de aumentar a produtividade. Em todo o país, essa solução já é aplicada em 10 milhões de hectares de um total de 77,4 milhões de hectares cultivados.
“Há muito espaço para crescer”, afirmou Amália. “No Brasil, estimamos uma expansão acima de 25% nos próximos cinco anos, contra 17% esperados no mercado global”, informou a diretora executiva da ABCBio.
Em sua opinião, a atual agricultura brasileira vive uma nova revolução, pois o País está diante da necessidade de produzir mais alimentos e fibras, para não haver escassez de alimentos: “Será necessária uma nova revolução, que lançará mão de produtos de base biológica que será combinada com o uso inteligente de dados e com a automação dos processos. Essa será a revolução agrícola protagonizada pelo controle biológico”.
Desenvolvimento sustentável
Fechando o ciclo de palestras, Caio Penido Dalla Vecchia, presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), abordou o tema “Brasil, Potência Agroambiental”. “Na questão do desenvolvimento sustentável vivemos, no passado, uma estratégia de convencimento pelo medo, uma conscientização por meio do pânico, em que ONGs e produtores ficaram em campos opostos e se enxergavam como inimigos”, comentou.
Vecchia ainda fez um apanhado dos vários programas e projetos de pecuária sustentável e enfatizou que todos eles vão na direção de se produzir mais carne por meio da intensificação do manejo sustentável de pastagens degradadas e abertura de novos mercados. Além disso, o Brasil quer se diferenciar e levar os produtores a agregarem valor aos seus produtos, assegurando vantagens competitivas.
“Temos de mostrar ao brasileiro e ao mundo que o setor produtivo está prestando um serviço ambiental e teria de ser compensado por isso. É preciso que transformemos a estratégia do medo em estratégia de orgulho de o Brasil ser hoje a maior potência ambiental do mundo”, destacou o presidente do GTPS.