A cada temporada da safra agrícola no Brasil cresce a procura por sementes mais vigorosas, com alto poder de germinação e potencial genético de produzir soja de maior qualidade e mais resistente a pragas e doenças. Para atender a essa demanda dos produtores rurais, investimentos no beneficiamento de sementes vem crescendo no País e envolvendo o trabalho de muitos pesquisadores, como os da Unidade Soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Em publicação no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), eles ressaltam que sementes de alta qualidade rendem ganhos em produtividade que variam de 10% a 15%.
“Nós conseguimos produtividade de aproximadamente 3,4 mil quilos por hectare. Uma semente de qualidade média rende em torno de três mil quilos por hectare, ou seja, o produtor ganha 400 quilos por hectare. Quem não quer ganhar 400 quilos por hectare?”, ressaltou o engenheiro agrônomo José França Neto, pesquisador da Embrapa Soja, mestre Mestre em Agronomia – Tecnologia de Sementes.
“Qual é o insumo que você investe e tem 10% a mais de produtividade? É muita lucratividade embutida nas sementes de alto vigor. Se for em campos experimentais, os ganhos podem chegar a 25%, 30%. Então, a gente só vê vantagens em começar a safra com semente de alta qualidade”, afirma o especialista, que também é doutor em Fisiologia e Patologia de Sementes e pós-doutor em Biologia Molecular e Qualidade de Semente.
Desempenho agronômico diferenciado
França explica que plantas formadas por sementes de elevado vigor têm desempenho agronômico diferenciado, pois demandam menos fertilizantes e defensivos agrícolas, além de aproveitarem melhor os recursos naturais, como luz, água, nutrientes do solo e ainda causar menor impacto ao meio ambiente.
“Uma população ideal de plantas é fundamental para estabelecer o alicerce de tudo o que vem em seguida na lavoura. Você vai estabelecer a lavoura com população adequada composta por plantas de alto desempenho agronômico, mais robustas, com um sistema radicular maior, mais profundo, parte aérea mais robusta que resultará numa produção maior de vagem e, consequentemente, mais produtiva”, explica o engenheiro agrônomo.
Cada hectare rende 3,2 mil kg de soja no Brasil
Dados da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes (Abrasem) destacam que o Brasil produziu mais de três milhões de toneladas de sementes de soja, só no ano passado. Considerando que a estimativa da safra atual é de aumentar a área plantada de 35,8 milhões para 36,6 milhões de hectares da oleaginosa, o setor de produção de sementes espera crescer ainda mais.
“A gente nota que os produtores têm uma preocupação muito grande em colocar no mercado produto de alta qualidade e isso é um diferencial de mercado pra eles. A tendência é que os sojicultores procurem esses produtores. Todos saem ganhando”, comenta França.
O Brasil é o segundo produtor mundial de soja, atrás apenas dos Estados Unidos. Em todo o mundo, foram produzidos mais de 362 milhões de toneladas de soja em área plantada de 125,6 milhões de hectares. Os norte-americanos produziram 123,6 milhões de toneladas do grão, em 35,6 milhões de hectares, atingindo uma produtividade de 3,4 mil quilos por hectare, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês).
No Brasil, a produção anual de soja, liderada pelo Estado do Mato Grosso, alcançou 115 milhões de toneladas em área plantada de 35,8 milhões de hectares. A produtividade brasileira é de 3,2 mil quilos por hectare, conforme levantamento do mês de junho de 2019. elaborado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Segundo o órgão estatal, de todo o volume produzido no País, no ano passado, 44 milhões de toneladas foram consumidos internamente e outros 83 milhões de toneladas foram exportados. Para a próxima safra, a previsão é que sejam plantados 36,6 milhões de hectares de soja.
Valor agregado
A tendência de produção de sementes de qualidade ganha força, principalmente no Centro-Oeste, que apresenta altitude e clima favoráveis para o melhoramento delas, como tempo mais seco, por exemplo, que contribui para manter o nível adequado de umidade da semente.
Uma equipe do Ministério da Agricultura visitou a empresa Boa Safra, apontada como a maior no ramo de beneficiamento de sementes de soja, com sede em Formosa (Goiás). A unidade fornece insumos para mais de dez Estados brasileiros.
O maior estabelecimento da empresa fica no município de Cabeceiras, a 130 km de Brasília, e beneficia mais de 2,6 milhões de sacos por ano. A empresa tem cerca de 136 produtores cooperados, que produzem sementes de qualidade em área de 91 mil hectares.
As sementes são distribuídas para grandes produtores de soja de vários estados, como Mato Grosso, Bahia, Pará, São Paulo, Minas Gerais, além do sudoeste goiano, entre outros. O processo de beneficiamento de sementes é bem-sucedido no interior de Goiás devido à altitude e climas diferenciados.
“Estamos numa região propícia para a produção de sementes. A cada nove sementes plantadas no Brasil, uma vem dessa região”, disse Tiago Pimentel, engenheiro agrônomo da Boa Safra.
Seleção de campos de produção
A empresa seleciona os campos de produção a partir de requisitos de segurança e manejo ambiental. Os campos são monitorados e fiscalizados por auditores do Ministério da Agricultura. Depois de autorização do órgão federal, as sementes são levadas para unidades de beneficiamento, onde os lotes são auditados novamente pelo Ministério antes da liberação para venda e distribuição.
Quando não há aproveitamento da semente, é feito o descarte ainda em campo. Na unidade, as sementes passam por todas etapas de beneficiamento e são mantidas em câmaras frias, abaixo de 15 graus e com 60% de umidade, para manter seu vigor e poder germinativo.
“A empresa vem investindo, no campo, em laboratório, em estrutura, junto com cooperados para obter o produto final, fomentando o agronegócio e entregando resultado ao agricultor”, comenta Pimentel.
O engenheiro agrônomo explica que os produtores de sementes recebem bonificação sobre o volume absoluto entregue à beneficiadora. Os produtores ainda são isentos do pagamento de frete e há economia com a estrutura de armazenagem.
“Para o produtor cooperado, é uma boa oportunidade para agregar mais valor ao produto, porque ele recebe bonificação no preço da soja. Para a empresa, o benefício é que ela vende insumos de alto padrão para os produtores, trabalha fomentando o agronegócio para que lá na ponta haja altas produções nas lavouras. É um novo ciclo na cadeia produtiva de soja”, analisa o especialista.