Monitorar o consumo diário de água da criação de animais pode não ser uma tarefa fácil, mas nada que uma boa tecnologia – por vezes, simples – não possa dar “aquela forcinha”. É o caso de uma fórmula desenvolvida pela Unidade Pecuária Sudeste da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que prevê a gestão da água para o rebanho, um dos principais manejos ambientais que um pecuarista deve realizar, se quiser manter a sustentabilidade da propriedade rural.
De acordo com a estatal, basta multiplicar um fator de consumo médio diário de água pelo número de animais, seguindo as variações de peso ou idade que constam no comunicado técnico 102 “Consumo de água na produção animal”.
Uma tabela construída pelo pesquisador e zootecnista Julio Palhares, baseada em revisão de literatura, apresenta médias de consumo para bovinos de corte e de leite, aves de corte e suínos.
O cálculo é útil para produtores que ainda não disponham de hidrômetros nas propriedades, já que esse aparelho mede o consumo real. Além de mestre em Agronomia e doutor em Ciências da Engenharia Ambiental, ele também é autor do estudo “Estimando o Consumo de Água de Suínos, Aves e Bovinos em uma Propriedade”, lançado anteriormente pela Embrapa Suínos e Aves.
Manual de Usos Consuntivos da Água
As duas publicações do especialista foram utilizadas como referência no Manual de Usos Consuntivos da Água no Brasil, lançado pela Agência Nacional de Águas em 22 de março, em comemoração ao Dia Mundial da Água.
Usos consuntivos são aqueles em que há consumo de água, enquanto usos não consuntivos são aqueles que não afetam diretamente a quantidade de água local, embora dependam dela, como navegação, pesca, turismo e lazer.
Esse manual apresenta o consumo de água por diferentes usuários, como abastecimento humano, abastecimento animal, agricultura irrigada, mineração, indústria de transformação e termoeletricidade, além de calcular a evaporação líquida de reservatórios artificiais. “Trata-se de um bom exemplo de como a pesquisa pode e deve subsidiar políticas públicas”, disse o pesquisador.
Dados
Atualmente, desconsiderando a evaporação líquida em reservatórios artificiais (uso múltiplo), a irrigação é responsável por 52% das retiradas de água, seguida pelo abastecimento urbano (23,8%), indústria de transformação (9,1%) e abastecimento animal (8%).
“A demanda por água no Brasil é crescente, com aumento estimado de aproximadamente 80% no total retirado nas últimas duas décadas. A previsão é de que ocorra um aumento de 24% na demanda até 2030”, informa o documento.
Os dados sobre dessedentação animal (uso da água para suprir a sede) são apresentados por regiões do país, por Estados e até por municípios, o que permite avaliar o consumo de forma mais segmentada. Na região Centro-Oeste, por exemplo, 29,6% do total de retirada são usados para abastecimento animal. Na região Sudeste, este volume corresponde a 19,7%.
Consumo por Estados e animais
Os Estados que mais consomem água para abastecimento animal são Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Os municípios que mais retiram água para esse fim são São Felix do Xingu (PA), Corumbá (MS) e Cáceres (MT). Já os bovinos são os animais que mais consomem: 88%, conforme a média do uso da água por grupo de rebanho nos municípios e proporção de sua utilização por rebanho no Brasil.
“Esse conhecimento é fundamental para o estabelecimento de programas de gestão hídrica por instituições públicas e privadas, pois permite entender o presente e planejar o futuro hídrico da pecuária nacional, futuro este que depende da oferta de água em quantidade e com qualidade”, salienta Palhares.
De acordo com o pesquisador, “em Estados como São Paulo, onde já existem conflitos históricos pelo uso da água, pois a oferta é menor que a demanda em determinadas regiões e estações do ano, quanto mais conhecimento disponível a sociedade tiver, melhor será a gestão deste recurso natural”.