Presidente da Indústria Florestal Paulista (Florestar) fala sobre as expectativas para o encontro global, os debates sobre a produção responsável e o papel das florestas cultivadas na economia
A atenção do mundo se volta para a Amazônia brasileira e para os debates sobre mudanças climáticas com a aproximação da COP30 em novembro de 2025, no Pará.
A 30ª edição da Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas reunirá referências mundiais no setor. Entre os segmentos que credenciam na conferência uma grande oportunidade para ampliar o diálogo global, está o setor florestal, que busca mostrar como as empresas da indústria de árvores cultivadas atuam de forma organizada, responsável e com práticas produtivas e ambientais equilibradas, conciliando produtividade e preservação ambiental.
Entre certificações internacionais, geração de créditos de carbono e desenvolvimento de milhares de produtos de fontes renováveis, o setor pretende reforçar seu papel estratégico para a economia e para o equilíbrio do planeta.
Manoel Browne, presidente da Indústria Florestal Paulista (Florestar), entidade que representa o setor e tem papel ativo na defesa de políticas de valorização das florestas cultivadas e dos produtos de origem renovável dentro do Estado de São Paulo, fala à revista A Lavoura sobre as expectativas para o evento global e como o segmento pode aproveitar a COP30 para consolidar seu reconhecimento e fortalecer políticas públicas de sustentabilidade.

O setor florestal produz matéria-prima biodegradável, de fonte renovável, para fabricar produtos que todo mundo usa todos os dias Foto Indústria Florestal Paulista (Florestar)/Divulgação
A Lavoura – Como a Florestar analisa o contexto desse momento de realização da COP30 na Amazônia brasileira para ampliar o diálogo sobre o setor florestal?
As atenções do mundo estarão voltadas para o Brasil. Temos uma ótima oportunidade para mostrar como nosso setor e as empresas de base florestal, de árvores cultivadas para fins industriais, são organizadas e atua de forma responsável, com práticas produtivas e ambientais muito bem equilibradas.
Se o Brasil é líder em produção de celulose, por exemplo, é porque muito trabalho foi feito. E isso envolve certificações internacionais, que passam por condicionantes ambientais e sociais.
Atuamos em um setor que planta árvores, que captam carbono da atmosfera e recuperam áreas degradadas. É um setor que preserva áreas nativas além do que é exigido por lei.
Produzimos matéria-prima biodegradável, de fonte renovável, para fabricar produtos que todo mundo usa todos os dias. E muita gente não sabe disso.
A Lavoura – Quais oportunidades a COP30 oferece para que o setor de árvores cultivadas seja mais reconhecido nas políticas ambientais nacionais? Quais são as principais pautas que a entidade deseja colocar em evidência?
Entendemos que o setor de árvores cultivadas é um grande gerador de créditos de carbono. Esse mercado, ainda em processo de regulação, precisa avançar para que as empresas sérias, que têm compromisso com o meio ambiente, possam ser recompensadas por isso.
Naturalmente, independentemente de exigências de certificações ou da legislação ambiental, as empresas que plantam árvores para fins industriais já geram diversos benefícios para o planeta. Elas têm o maior interesse em que haja equilíbrio entre produção e preservação.
Queremos que os produtos feitos com madeira de árvores cultivadas sejam mais reconhecidos e valorizados. A população mundial precisa de papel, embalagens de papel, papelão, papéis sanitários, fraldas, absorventes, utensílios de madeira. A celulose é matéria-prima para uma diversidade de produtos.
Além dos diferentes tipos de papel, ela também é usada na fabricação de cápsulas de medicamentos, tecidos sintéticos e cremes. A madeira está nos móveis, nas nossas casas, nas portas, nos acabamentos. E toda essa matéria-prima vem de uma fonte renovável: as florestas cultivadas.

O setor de árvores cultivadas captam carbono da atmosfera, recuperam áreas degradadas e preserva áreas nativas além do que é exigido por lei Foto Indústria Florestal Paulista (Florestar)/Divulgação
A Lavoura – O setor florestal paulista tem mostrado resultados expressivos em produção e sustentabilidade. E sabemos que a produção de eucalipto de e pinus cresceu mais de 30% em apenas um ano. Como esse avanço pode ser usado como exemplo de desenvolvimento sustentável?
As empresas associadas à Florestar, que atuam no setor florestal paulista, são altamente especializadas e profissionais. Trabalham com o que há de melhor em tecnologia e contam com pessoal altamente capacitado. Isso é resultado de décadas de investimentos e desenvolvimento, refletidos nesses números.
A Lavoura – Em recente divulgação do IBGE, o PEVS 2024, que trata dos valores da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura, mostrou que a silvicultura brasileira tem uma parcela importante na economia nacional ao longo dos últimos anos. Como São Paulo aparece nessa pesquisa?
De acordo com o PEVS 2024, divulgado no fim de setembro pelo IBGE, a silvicultura brasileira gerou mais de R$ 37 bilhões em 2024. O crescimento foi de 17% em relação a 2023, quando o país alcançou a marca de R$ 31,7 bilhões.
Quando olhamos para o estado de São Paulo, essa porcentagem é ainda maior: 29%. Em 2023, a silvicultura paulista gerou cerca de R$ 4,5 bilhões. Em 2024, esse valor subiu para R$ 5,7 bilhões, sendo que a madeira em tora para papel e celulose foi responsável por R$ 3,8 bilhões do Valor Bruto da Produção (VBP) da silvicultura paulista.
A Lavoura – A diversidade de bioprodutos gerados pelas florestas plantadas é enorme. Como esse potencial pode ser aproveitado de maneira mais efetiva em políticas públicas?
De diversas formas. Primeiro, precisamos avançar com a regulação do mercado de carbono. O setor de florestas cultivadas é um grande credor nesse sentido e precisa ser recompensado de alguma maneira. Depois, é necessário incentivar o consumo de produtos biodegradáveis de fontes renováveis, como os feitos com madeira ou derivados de florestas cultivadas.
Já é possível fabricar uma série de produtos substituindo matéria-prima de origem fóssil por derivados de madeira, desde cápsulas de remédios até tecidos, além de fomentar a utilização de madeira na construção civil.

Manoel Browne: “Temos uma ótima oportunidade para mostrar como nosso setor de árvores cultivadas para fins industriais atua de forma responsável, com práticas produtivas e ambientais muito bem equilibradas” Foto Indústria Florestal Paulista (Florestar)/Divulgação
A Lavoura – Quais as vantagens do uso da madeira na construção civil?
Diferentemente de países desenvolvidos, vemos poucas construções com madeira aqui no Brasil. Existe um potencial enorme na construção civil para o uso da madeira proveniente de florestas plantadas, não apenas em casas, mas também em prédios. Esses projetos podem ser mais baratos, rápidos e apresentar uma pegada de carbono muito menor do que as construções tradicionais, feitas de concreto e aço.
Fonte: Indústria Florestal Paulista (Florestar)
Foto abertura: O setor de árvores cultivadas é um grande gerador de créditos de carbono Foto Indústria Florestal Paulista (Florestar)/Divulgação








