Do Congresso da SNA ao empreendedorismo no agro: 10 anos depois
Empreendedor do agronegócio desde 2014, depois de participar do 13º Congresso Agribusiness da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) no ano anterior, o empresário brasileiro Bernardo Arnaud, de 47 anos, circula pelo mundo afora sempre em busca de soluções biotecnológicas que visem à saúde dos produtores rurais e dos consumidores, além da sustentabilidade na agricultura e na pecuária, diante de um cenário global de preocupações e debates em torno dos impactos das mudanças climáticas para todo o planeta.
Atualmente, ele é sócio-fundador de três startups do agro (agritechs/agtechs) – NovaTero BioAg, AMD AGRO e StarkSat: Sistemas de Monitoramento por Satélite – e logo deve anunciar um novo negócio voltado para a pecuária de leite no Brasil (a Gado Chain), que já funciona na África.
Em entrevista exclusiva à Revista A Lavoura, o empresário conta um pouco da sua história, experiências e expectativas para o agronegócio, tanto no Brasil como no restante do mundo.
A Lavoura – Qual era sua área de atuação, antes de se tornar um empreendedor do agronegócio? Conte um pouco da sua história.
Bernardo Arnaud – No início da minha carreira de estudante, eu fiz Eletrônica e outros cursos não ligados ao agronegócio. Hoje, sou graduado em Marketing pela Estácio de Sá (Brasil) e pós-graduado em “Finanças Verdes e Inclusão Financeira” pela “Frankfurt School of Finance and Management” (Alemanha). Também estou terminando uma pós-graduação em “Inteligência Estratégica” pelo Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos (IBEE) e em outra em “China Contemporânea” pela PUC Minas (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais). Como profissional contratado do setor privado, atuei no comércio internacional, trabalhando especialmente com pesquisas de aços e polímeros especiais na Áustria, França e Alemanha, além de pesquisas de processo de produção de açúcar e aceleradores de elétrons, também na Europa. Voltei ao Brasil no final de 2004 e logo fui trabalhar em uma empresa do Rio de Janeiro, que era especializada na área de software de análise de risco financeiro. Depois disso, abri minha própria empresa de comércio exterior, no segmento de compra e venda de grãos – como soja e milho, e de açúcar – e metais, além de polímeros especiais que vinham da Europa para o Brasil e a América Latina. Ainda acumulo experiência no ramo de telecomunicações e indústria e, hoje em dia, gerencio operações nos segmentos de publicidade e marketing, T.I. (Tecnologia da Informação), entre outros sistemas tecnológicos. Também sou sócio-fundador de três startups voltadas para o agronegócio (agritechs/agtechs) – todas com foco na sustentabilidade em campo.
A Lavoura – Como começou sua relação com o agronegócio?
Bernardo Arnaud – Eu tive um contato anterior com o setor de grãos, na época em que trabalhei em minha trading, no entanto, minha inspiração para empreender no agro, como empresário especialmente focado na sustentabilidade em campo, veio depois que eu participei do 13º Congresso Agribusiness da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), no final de 2013, ou seja, dez anos atrás. A partir desse encontro no Rio de Janeiro, cresceu a minha preocupação com a quantidade de defensivos agrícolas sintéticos que o Brasil utilizava em suas lavouras e que eram proibidos na Europa, por exemplo, já naquela época. Muitos desses insumos químicos acabaram vetados, posteriormente, em nosso país. Diante desse cenário, eu quis buscar por alternativas biológicas, não sintéticas e sem petroquímica para as propriedades rurais do nosso país. Desde então, meu objetivo foi procurar por produtos que reduzissem esse tipo de manejo químico na agricultura que, geralmente, deixam vestígios tóxicos em nossa comida.
A Lavoura – Quando você vislumbrou que investir na sustentabilidade da agricultura seria um bom caminho?
Bernardo Arnaud – Depois do congresso da SNA e de alguns estudos que fiz sozinho, viajei por alguns países visitando produtores de micorrizas, que são estruturas naturais formadas pela relação simbiótica entre as raízes das plantas e fungos benéficos dos solos: os fungos micorrízicos arbusculares (FMAs). Visitei alguns fabricantes de insumos biológicos, quando me convenci de que os israelenses tinha um bioinsumo – o inoculante micorrízico ROOTELLA –, que trazia diversos benefícios para os solos e plantas, graças à sua capacidade de aumentar a absorção de água e nutrientes necessários para o ciclo vegetativo. Como os benefícios das micorrizas estão diretamente ligados à concentração de propágulos, esse produto era o bioinsumo mais concentrado de todo o mundo. Em um cenário promissor de investimentos na sustentabilidade agrícola, vislumbrei que ele tinha todas as condições de ganhar espaço no Brasil, considerando que não havia nenhum, até então, inoculante micorrízico devidamente registrado por aqui, ou seja, a NovaTero BioAg – minha primeira agritech – foi pioneira nesse sentido. O pontapé inicial ocorreu em novembro de 2015, durante uma reunião com meus sócios, ocasião em que expliquei o projeto. Um ano depois, nós começamos a realizar as validações agronômicas do inoculante micorrízico ROOTELLA BR em campos brasileiros, obtendo o registro oficial, em 2018, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Pela NovaTero BioAg, também temos contribuído para a redução da dependência nacional de agroquímicos, principalmente dos fertilizantes importados, que são caríssimos e só alguns países fabricam, gerando certo oligopólio do mercado internacional. Após quatro anos, em fevereiro de 2022, nós lançamos nossa versão plus: o ROOTELLA BR ULTRA.
A Lavoura – Fale um pouco sobre as empresas em que você tem participação e suas respectivas ações em benefício do agro brasileiro.
Bernardo Arnaud – Hoje, além da NovaTero BioAg, também sou sócio-fundador da StarkSat – Sistemas de Monitoramento por Satélite, que foi criada em 2018 e atualmente mantém a plataforma WARUM, destinada ao monitoramento de lavouras comerciais do espaço para a Terra, sem a exigência de instalar caros sensores no chão. Por meio da nossa inovação espacial, os agricultores obtêm alertas de produtividade, meteorológicos e das condições dos solos; informações sobre o estado de desenvolvimento da lavoura; dados para ajustes da aplicação de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) durante a safra; medições dos impactos do uso de insumos agrícolas, especialmente os biológicos; mensuração direta, por método patenteado, de carbono orgânico do solo, entre outras funcionalidades.Na AMD AGRO, que foi fundada no final de 2019 no Estado de Mato Grosso, temos como estratégias sustentáveis a comercialização de insumos agrícolas biológicos e minerais sem petroquímica; da biofábrica on-farm miniBIO, voltada para a produção de compostos líquidos e biofertilizantes; além de serviços de consultorias técnicas para cálculo da pegada de carbono nas fazendas e planos de manejo sustentáveis em propriedades rurais. Desde o início, nosso objetivo sempre foi promover a agricultura de baixo carbono, carbono neutro e a economia circular. Em nossa empresa, geralmente buscamos por produtos e equipamentos que sejam resultados de inovações da biotecnologia, com destaque para os condicionadores microbiológicos de solo, como o SC5, que é distribuído por todo o país pela De Sangosse Brasil; bioinsumos como o ZM-GROW da Tracegrow, que é comercializado por nós, da AMD AGRO, como o primeiro fertilizante inorgânico fruto da economia circular, produzido a partir de pilhas recicláveis; entre outros. Vale contar que, durante nossas caminhadas pelo Mato Grosso, entre 2016 e 2017, notamos que muitas soluções biológicas vinham de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Por isso, idealizamos oferecer um equipamento que propiciasse a produção on-farm – ou seja, dentro da fazenda – para o maior Estado produtor de grãos do Brasil. A partir daí, fechamos uma parceria para comercialização da biofábrica miniBIO, que possui diversos tamanhos, encaixando-se perfeitamente ao perfil, tamanho e às necessidades das propriedades rurais.
A Lavoura – De modo geral, como você avalia o atual cenário e quais as perspectivas para o futuro do setor?
Bernardo Arnaud – Considerando as novas oportunidades geradas pelo agronegócio, tanto no Brasil como no restante do mundo, o setor de insumos biológicos deve continuar crescendo, pelo menos, nos próximos cinco anos. Isso porque há uma forte preocupação global em torno da necessidade de se adequar às novas exigências dos consumidores, o que também vale para o mercado interno, ou seja, não envolve somente as exportações. Nosso país vem mantendo – e até ampliando – importantes parcerias internacionais, principalmente com a China, em relação à compra dos nossos grãos, e uma boa parte da Europa. Mas cabe ressaltar que esse país asiático é um destino muito maior, bem mais preponderante para a produção das nossas lavouras destinadas ao comércio exterior. No setor de frutas, por exemplo, a Europa e os Estados Unidos continuam sendo nossos principais destinos, se avaliarmos a produção em si. Eu também acredito em uma possível descentralização da produção agropecuária e, por aqui, há uma tendência estratégica relacionada à produção on-farm (dentro das fazendas) de insumos agrícolas. Isso deve ficar cada vez mais latente diante da exigência de que o produtor rural faça todo o cálculo líquido da sua pegada de carbono, o “balanço de carbono” – como chamamos em português – da propriedade rural, com foco no promissor mercado de geração de créditos de carbono, atualmente focado na mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) em todo o planeta. Um ponto de extrema relevância, atualmente, envolve a mensuração do carbono do solo, do carbono retido na terra por meio de metodologias já existentes, que tragam estimativas de vários pontos de amostras do solo, geralmente em até 30 centímetros. Antigamente, você pegava a média dessas amostras de um terreno agricultável ou por três zonas – zona de alto carbono, médio carbono e baixo carbono. Mas ao adotarmos metodologias mais modernas, agora, nós fazemos menos testes de solos no laboratório a custos mais reduzidos, considerando que eles são os que mais encarecem a auditoria de carbono do solo. Hoje, você consegue fazer uma mensuração muito mais apurada com as novas tecnologias, cujos resultados servem para a geração de crédito de carbono. Nesse contexto, ressaltamos que a StarkSat – Sistemas de Monitoramento por Satélite detém uma patente internacional de um sistema de auditoria de carbono no solo com a maior acurácia do mundo. No momento, temos alguns importantes projetos-piloto nesse setor, a exemplo do que está sendo produzido pelo Banco de Desenvolvimento Econômico e Cooperação Técnica da Alemanha e por algumas empresas famosas de produtos alimentícios, que querem saber o impacto real das suas próprias plantações e dos projetos florestais – nativas ou replantadas – dos quais elas compram crédito de carbono.
A Lavoura – Quais são esses projetos e como avalia o cenário do mercado de carbono, especialmente após a regulamentação desse segmento pela Câmara dos Deputados, no último dia 21 de dezembro?
Bernardo Arnaud – A StarkSat tem projetos-pilotos importantes e clientes entre empresas de produtos alimentícios, governos e fundos que investem em projetos de reflorestamento ou de agricultura, no caso, de produção agrícola sustentável. Isso porque, hoje, nós detemos a única tecnologia do mundo que pode auditar o que as outras metodologias-padrão só podem estimar. Nós fazemos a auditoria no mesmo ponto, antes da semeadura e depois da colheita. Então, é possível ver a diferença de acúmulo e retenção de carbono no solo, obtendo uma visão bem mais realista do que está acontecendo do que uma visão estimada. Na verdade, o agronegócio é superavitário em retenção de carbono, mas aqui, cabe reforçar que não estou tratando do setor agropecuário como um todo e, sim, da agricultura, considerando que a pecuária é um pouco diferente. Na lavoura, nós podemos fazer uma auditoria precisa e acurada dos 30 primeiros centímetros do solo, conseguindo ver que a lavoura ou a área de reserva legal da fazenda coloca uma propriedade rural como superavitária em retenção de carbono e não como deficitária. Por essas e outras razões, a aprovação do marco regulatório da regulamentação ou da regulação do mercado de carbono – chamado de Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) – é primordial para que o Brasil entre de vez no mapa dos esforços em torno das mudanças climáticas. Isso vai atingir empresas que emitem mais de 10 mil toneladas de dióxido carbono (CO2) por ano. Ainda é interessante ressaltar que, no dia 28 de novembro, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) se antecipou ao lançar a Câmara Temática de Agrocarbono Sustentável, pela qual serão discutidas todas as nuances sobre como será feito e como podemos evoluir nesse mercado de carbono, a partir de um palco de discussão nacional. Aprovado na Câmara no dia 21 de dezembro, o Projeto de Lei nº 2.148/2015 que regulamenta o mercado de carbono no Brasil foi concluído depois de negociações realizadas durante a COP-28, em Dubai, tendo o deputado Aliel Machado como relator e principal negociador. É importante ressaltar que a implementação das novas regras deve ocorrer em até um ano, ou seja, sua regulamentação tem de ser aprovada em até um ano, com a possibilidade de prorrogar esse prazo por mais um ano. Até hoje, o Brasil contava apenas com o mercado voluntário de carbono. Sabidamente, as toneladas de CO2 não emitidas para a atmosfera ou mitigadas no mercado voluntário possuem valores menores em comparação a um mercado regulado, como é esse que está para ser criado no Brasil. Mesmo que possa participar apenas como voluntário, conforme está previsto no projeto de lei, o produtor rural pode ganhar e muito com o mercado de crédito de carbono, ter uma renda extra, especialmente em períodos de mudanças climáticas, de fenômenos como El Niño, estresse hídrico, secas e vendavais, como foi o caso dos ciclones extratropiciais no Rio Grande do Sul. Por exemplo: em caso de perdas da produção agrícola em 10, 20, 30 ou 40% da safra, se na parte da lavoura que continuou de pé, o agricultor usou insumos biológicos ou um manejo diferenciado mais sustentável, ele vai poder complementar a renda como se tivesse dobrado sua área produtiva. Isso porque temos, no mercado voluntário de carbono, a tonelada de crédito de carbono equivalente à tonelada de carbono retida ou retirada da atmosfera. Isso agrega bastante valor, quando exercida com liquidez para o fazendeiro.
A Lavoura – Como as startups/agtechs/fintechs estão inseridas nesse contexto?
Bernado Arnaud – Há algumas novidades nesse setor, mas acredito que a maior tendência seja em relação a soluções de tokenização de produtos, não só de bens de produção de capital, mas também da própria produção agropecuária. Cabe explicar que a tokenização divide um ativo em várias partes digitais, utilizando um sistema de banco de dados via blockchain. Dessa transformação surge um token, ou seja, uma representação digital desse ativo que pode ser, por exemplo, dinheiro, um direito ou uma propriedade rural. Ou seja, ao invés de ter um CR (Certificado de Recebíveis) registrado em cartório ou um “green bond” (título verde), no caso do mercado internacional, você vai ter uma a tokenização da CPR (Cédula de Produto Rural), a tokenização de rebanhos, entre outras soluções. Tudo deve se tornar mais fácil com tokens e programações de blockchain, dentro daquilo que chamamos de “fractional ownership” ou propriedade fracionada (em português), como se fosse um “crowding funding” – financiamento coletivo visando à obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo, por meio de um conjunto de múltiplas fontes de financiamento que, em geral, são compostas por pessoas físicas interessadas na iniciativa. Eu acredito que serão abertas mais possibilidades para pessoas colocarem menos dinheiro cada uma e mais pessoas fazerem parte daquela CPR – o documento que faz com que o produtor vá ao mercado para financiar sua produção, usando toda ou parte dela como garantia de pagamento do financiamento. A exemplo do Banco do Brasil, que já iniciou um novo projeto em 2022, outra tendência é a valorização das áreas de reserva legal, que hoje não trazem nada ou quase nada de rentabilidade aos fazendeiros do nosso país. Isso precisa ser reconhecido no mercado internacional porque, no mínimo, eles estão conservando 20% de florestas ou matas nativas, graças ao Código Florestal implementado em 2012. Na minha visão, o ideal é usar a reserva legal como geradora de crédito de carbono para esse proprietário rural, sendo que parte disso poderia ser usada no financiamento da lavoura e/ou do rebanho. Sobre a pecuária, especialmente a de gado leiteiro, preconizo um salto em produtividade no Brasil, principalmente a partir da implantação de tecnologias de tokenização, utilizando as vacas como bens de garantia de empréstimo. Nossa mais nova empresa – a Gado Chain – já está atuando nesse mercado em âmbito internacional e, em breve, vamos iniciar nossos projetos no Brasil. Ao tratarmos do crédito rural em nosso país, classicamente, apenas os maquinários e a própria terra servem de garantia de empréstimo, além de parte ou a produção agrícola inteira. Atualmente, o rebanho não é utilizado nesse segmento, mas com a tokenização via hadware, que nós desenvolvemos na Gado Chain, que conta com um sistema totalmente seguro contra fraudes, esse será um novo e bom caminho para modernizar a pecuária de leite.
A Lavoura – A digitalização das atividades do agro já é uma realidade no setor. Quais os impactos imediatos da adoção da tecnologia no campo que você poderia destacar?
Bernardo Arnaud – Os impactos imediatos das novas tecnologias para o agro envolvem ganhos em escalabilidade, que antes não conseguia por uma série de fatores. Agora, já existem oportunidades para adoção da digitalização em campo, junto com o aprendizado de máquina (sistema de “machine learning”, que faz parte de tecnologias de inteligência artificial); de não ter a necessidade de fazer tantos testes de solo, que é uma das medidas que o produtor rural ou o técnico agrícola costuma realizar para obter um melhor manejo a cada safra ou safrinha. Então, hoje você pode mudar parte do manejo na entressafra, o que não era possível há 10-15 anos. Tudo isso faz parte da digitalização do campo – da chamada agricultura de precisão –, que ficou mais barata graças ao aprendizado de máquina e até de programas mais simples, que não precisam ser tão sofisticados. Antes, você tinha de fazer seis, dez vezes mais testes de solo, para ver como é que ele se desenvolvia, além de vários testes a mais de matéria seca das plantas, para conferir o teor de biomassa. Enfim, eu acredito que toda essa parte da digitalização do agro faz com que ele ganhe em escala que, até poucos anos atrás, não existia. Tudo isso acaba sendo fundamental para o produtor rural obter um salto em produtividade nos próximos anos
A Lavoura – Em sua visão, como superar alguns dos gargalos do setor, como logística deficitária, falta de conectividade no campo, entre outros? Como a comunicação pode contribuir nesse sentido?
Bernado Arnaud – Temos sérios gargalos envolvendo o déficit de infraestrutura e logística, especialmente de transporte de grãos no Brasil. Por isso, não temos como escapar da necessidade urgente de novos e robustos investimentos nesse setor, principalmente por parte do governo federal. Se compararmos com governos da China e parte da África, por exemplo, o governo brasileiro pouco tem investido, em termos reais, na malha viária e ferroviária do país. Ainda nesse contexto da logística de transporte, temos de destacar a ampliação do uso das nossas hidrovias por um custo mais baixo, em relação ao transporte pelas rodovias estaduais e federais. Hoje, o Brasil bate recordes mundiais no transporte hidroviário, mesmo que isso não seja factível em toda a malha hidroviária nacional. Outro gargalo envolve o setor de telecomunicações, que ainda caminha a passos lentos em torno do acesso à internet no campo. Recentes pesquisas apontam que cerca de 70% dos produtores rurais do Brasil não têm internet nas fazendas. Claro que os investimentos são altos para as operadoras, pois alguns lugares mais distantes demandam uma boa estruturação de rede com conexão de rádio, instalações e manutenções das torres e instalações de energia solar. No entanto, eu acredito que esse investimento valha a pena, considerando o poder econômico do agronegócio brasileiro.
A Lavoura – Como você avalia o cenário do agronegócio em 2023 e quais são as perspectivas para o ano que vem?
Bernardo Arnaud – O ano de 2023 não foi fácil para o agronegócio de uma maneira geral, pelo menos é isso o que ouvi de colegas empresários, empreendedores, concorrentes e de pequenos, médios e grandes produtores rurais. Agora que chegamos a 2024, há uma perspectiva de que este ano seja um pouco melhor, embora existam previsões de fenômenos climáticos, com secas em algumas regiões do mundo, inclusive, no Brasil. Mesmo diante de um possível cenário de melhores condições para o agro neste novo ano, os produtores terão de usar “tudo que tiverem na manga” para reduzirem, ao máximo, os efeitos do estresse hídrico no campo e, assim, conseguirem manter a produtividade, a qualidade e a rentabilidade da safra.
A Lavoura – Por fim, quais dicas você daria para quem pretende empreender no mercado do agronegócio?
Bernardo Arnaud – Empreender no agronegócio é um desafio e tanto, pois exige pesquisa de mercado, a partir da identificação de suas demandas, tendências e oportunidades, além da análise da viabilidade do seu produto ou serviço tanto no Brasil como no exterior, se for o caso. O ideal é escolher um nicho específico do agronegócio que seja do seu interesse ou expertise, como produção de alimentos orgânicos, pecuária, aquicultura, agroindústria, entre outros. Depois disso, trace um plano de negócios que inclua análises financeiras, plano operacional/administrativo, estratégias de marketing e suas metas de curto, médio e longo prazo. Educação, capacitação profissional, networking e parcerias também são extremamente importantes, especialmente com distribuidores, fornecedores e outros empreendedores do agro. Esteja atualizado sobre as últimas tecnologias voltadas para a agropecuária, que possam melhorar a eficiência, a qualidade e a produtividade do seu negócio. E como o mercado está cada vez mais exigente, especialmente em torno das ações práticas de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs), tão prejudiciais para o meio ambiente, o futuro empreendedor também pode considerar a adoção de práticas sustentáveis e inovadoras que tenham valor agregado. Por fim, é importante analisar as opções de financiamento (crédito e/ou seguro rural), que estão disponíveis no mercado atualmente, tanto por meio de investidores e empréstimos agropecuários como subsídios dos governos ou programas de incentivo ao empreendedorismo rural.
Por Redação A Lavoura com informações da Assessoria de Imprensa