Na região, o agroturismo não é só uma atividade, é um estado de espírito (Foto:Emater-MG /Divulgação)
É onde a tradição encontra a inovação, e o visitante não é apenas bem-vindo — ele é parte da história.No coração das montanhas de Minas Gerais, onde as águas nascem dos morros dando origem a três grandes bacias hidrográficas — São Francisco, Paraíba do Sul e Paraná —, encontra-se um pedaço de terra onde o tempo parece desacelerar: o Campo das Vertentes.
Chamada também de Campos da Mantiqueira, essa região vem ganhando força com o agroturismo, por ser um convite irresistível a quem deseja viver a autenticidade do interior mineiro. Ao todo, são 17 municípios que encantam com tradições seculares, sabores marcantes e um jeitinho mineiro de receber.
Se antes era estranho falar em vinhos mineiros, hoje já é impossível ignorá-los. A produção de vinhos finos está mudando o retrato agrícola da região. Graças à técnica da dupla poda da videira, desenvolvida e disseminada pela EPAMIG, uvas como a Syrah têm dado origem a rótulos de alto padrão. E mais: atraem turistas curiosos a explorar o que há por trás de cada safra.

Produção de uvas Syrah. Foto: Fernando Carvalho/ Divulgação
Um exemplo é o belo-horizontino Fernando Antônio Carvalho, que trocou a cidade grande pelas delícias de Entre Rios de Minas. Inspirado por um vinho servido num restaurante e orientado pela EPAMIG, ele transformou uma propriedade de dois hectares em um promissor vinhedo. Em 2023, já brindou a primeira colheita com 50 garrafas feitas artesanalmente, na vinícola Quinta Dois Carvalhos.
Outro caso é o do neurologista Dênis Gualberto de Paula, de Resende Costa. Movido por cartas herdadas do bisavô, descobriu que a paixão pelo vinho corria em suas veias.
Hoje, entre consultas médicas e estudos em enologia, planta Syrah e Sauvignon Blanc e se prepara para abrir sua própria vinícola, com apoio técnico da Emater-MG e da EPAMIG. Tudo isso faz parte de um movimento maior: o Governo de Minas já anunciou a criação da Rota dos Vinhos, com Campo das Vertentes como uma de suas estrelas.
Cafés que contam histórias

O clima ameno, com excelente altitude para o plantio e características próprias que vão desde o apuro técnico até valores históricos e culturais no plantio de café, garantiu o selo de Indicação Geográfica (IG) para a região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais. Foto: Divulgação
Mas nem só de uvas vive o paladar da região. O café arábica, doce e aromático, é o verdadeiro ouro líquido do Campo das Vertentes. Presente desde meados do século XIX, foi com os investimentos dos anos 1970 que a cultura cafeeira floresceu de vez. Hoje, os cafés finos da região ganham o mundo, levando nos grãos a identidade de terras férteis e de altitude privilegiada.
Municípios como Santo Antônio do Amparo, considerado o polo cafeeiro da região, abrigam fazendas históricas com arquitetura colonial preservada, onde o passado e o futuro se encontram entre sacas de café gourmet. A Indicação de Procedência Campo das Vertentes garante não apenas qualidade, mas também autenticidade. Afinal, por aqui, cada gole vem acompanhado de uma história.
O clima ameno, além da excelente altitude para o plantio e características próprias que vão desde o apuro técnico, até valores históricos e culturais no plantio de café, garantiu o selo de Indicação Geográfica (IG) para a região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais.
Além que vinhos e café, o queijo, é claro. A região Campo das Vertentes foi reconhecida como produtora de Queijo Minas Artesanal em 2009 e é composta pelos municípios de Barroso, Conceição da Barra de Minas, Coronel Xavier Chaves, Carrancas, Lagoa Dourada, Madre de Deus de Minas, Nazareno, Prados, Piedade do Rio Grande, Resende Costa, Ritápolis, Santa Cruz de Minas, São João del-Rei, São Tiago e Tiradentes.
Em Barbacena, por exemplo, foram encontrados documentos que demonstram a longa relação do queijo com o município, como livros de anotações de produtores que datam de 1852. Durante o estudo, foram realizadas entrevistas, reuniões e oficinas para que as pessoas pudessem entender e participar do processo.
O modo de preparo do queijo permanece, até hoje, o mesmo dos primeiros moradores da região, desde a ordenha até a maturação.
O produtor Álvaro Andrade, da Queijaria Brumano, de Entre Rios de Minas, afirma que “a região tem uma cultura muito rica na produção do Queijo Minas Artesanal e que, através de gerações, vem mantendo a tradição”.
Outro exemplo é a Fazenda do Coqueiro, com 300 anos de história. Seu casarão, um dos primeiros da cidade de Prados, foi palco de reuniões da Inconfidência Mineira. Hoje restaurado, é símbolo de uma tradição que se renova.
Em 2022, Vitor Moura Junior, médico veterinário, decidiu dar um novo rumo à fazenda, reativando sua queijaria, antiga tradição na família, que logo se tornou referência na região. O objetivo desde o início foi produzir uma linha diversificada de queijos autorais, utilizando o leite de vacas criadas a pasto e de cabras de linhagem selecionada.

Queijos produzidos na Fazenda do Coqueiro, que tem 300 anos de história. Seu casarão foi um dos primeiros da cidade de Prados .Foto: Divulgação
Turismo rural: experiências para levar no coração
A natureza exuberante, os biomas do Cerrado e da Mata Atlântica, as igrejas barrocas e as festas religiosas já faziam da região um polo turístico. Mas agora, é o agroturismo que encanta visitantes em busca de experiências verdadeiras. São produtores como Marciel Ramos, do Sítio Água do Pote, em Prados, que abrem suas porteiras para receber viajantes com queijo artesanal, música de viola e muita prosa boa.
Com apoio da Emater-MG, que já orienta 56 produtores na região, a atividade ganha corpo e organização. Roteiros personalizados, como os do catálogo Ruralidade Viva, revelam a essência do interior: cheiro de mato molhado, comida feita no fogão a lenha, histórias de família e um horizonte de oportunidades.
“O turista, quando vem para Minas, vem por causa do nosso acolhimento, da nossa mineiridade, das nossas histórias”, explica Thatiana Garcia, coordenadora de Turismo Rural da Emater-MG. E é exatamente isso que o Campo das Vertentes oferece: uma viagem no tempo, nos sentidos e no coração.
Uma rota de emoções e sabores

Serra da Lage, em Carmópolis de Minas. Foto: Divulgação
O Circuito Turístico Campo das Vertentes, formado por nove cidades com nomes poéticos — Candeias, Carmo da Mata, Carmo do Cajuru, Carmópolis de Minas, Itapecerica, Piracema, Santo Antônio do Amparo, São Francisco de Paula e São Sebastião do Oeste.
Visitar estes municípios significa conhecer parte da história do Brasil e de Minas Gerais, além de uma grande oportunidade de vivenciar um pouco das peculiaridades de cada um e de suas características interioranas, como belezas naturais, cultura e a tradição enraizadas por entre as montanhas mineiras.
A região é conhecida pelas igrejas do período colonial; as festas religiosas; feiras de agronegócio e agricultura familiar; e o imenso patrimônio natural, riquíssimo em biomas do Cerrado e Mata Atlântica, com paisagens surpreendentes.
Fontes: Rota Campo das Vertentes, Agencia Minas, Sebrae, Epamig, Emater-MG