Iniciativa integra conhecimentos científicos de pesquisadores e tradicionais das quebradeiras de coco, no Maranhão, para desenvolver um produto vegano, nutritivo e acessível. (Foto: Flavia Bessa/ Embrapa)
Um novo prouduto está ganhando destaque no Maranhão: o hambúrguer de babaçu. Desenvolvido por pesquisadores em parceria com quebradeiras de coco, esse produto não apenas promove segurança alimentar e sustentabilidade, mas também valoriza a cultura regional e a identidade sociocultural das comunidades tradicionais.
O análogo de hambúrguer de babaçu é um exemplo de inovação tecnológica e social. Produzido sem conservantes, ele possui um teor de proteína de 13,17% por 100g e pode ser armazenado congelado por até seis meses.
Essa iniciativa integra conhecimentos científicos e tradicionais, garantindo um produto nutritivo e acessível, e vem na esteira do desenvolvimento de outros produtos de sucesso, como o biscoito e o gelado — uma bebida tipo leite e a um análogo do queijo –, todos oriundos do coco babaçu.
Para o desenvolvimento desses coprodutos, participaram as mulheres da Cooperativa Mista da Agricultura Familiar e do Extrativismo do Babaçu – Coomavi, em Itapecuru-Mirim, da Associação Clube de Mães Quilombolas Lar de Maria, da comunidade Pedrinhas Clube de Mães em Anajatuba, MA, e ainda da Associação de Quebradeiras de Coco de Chapadinha do Assentamento Canto do Ferreira, em Chapadinha, MA
A pesquisa também envolveu instituições como a Embrapa Maranhão, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), além da colaboração de organizações comunitárias. O projeto também recebeu apoio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) no Brasil.
“Sabemos que os alimentos oriundos do babaçu são elementos potenciais para criar sistemas alimentares que valorizam a identidade sociocultural de povos e comunidades tradicionais do Maranhão, gerando inclusão produtiva e riqueza com baixo impacto ambiental e inserindo o estado como referência na bioeconomia e no uso sustentável de produtos da sociobiodiversidade”, destaca a pesquisadora.
Do campo para o laboratório

As mulheres quebradeiras de coco participaram ativamente da elaboração do produto. Foto: Flavia Bessa/ Embrapa
Os cientistas adotaram uma abordagem inovadora. Em vez de desenvolver o produto em laboratório e depois apresentá-lo à comunidade, partiram da realidade local.
“Utilizamos metodologia inversa (…) Partimos de uma avaliação das condições locais e do potencial das matérias-primas que elas têm, inclusive dos próprios resíduos”, conta o professor Harvey Villa, da UFMA.
Ele explica que a matéria-prima essencial, a farinha de amêndoa de babaçu, foi obtida a partir do bagaço da extração do óleo, antes considerado resíduo. Essa farinha foi combinada com casca de banana, usada como agente estruturante, e farinha de arroz para dar liga.
“A farinha que está sendo utilizada para o hambúrguer é da amêndoa. O que antes era um resíduo, agora, é matéria-prima. Assim, adaptamos o processamento às condições reais das quebradeiras, sempre com o cuidado de atender às exigências delas, e facilitamos que a elaboração desses produtos seja de forma simples, mas microbiologicamente correta do ponto de vista higiênico-sanitário”, relata.
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Indicado para dietas com alguma restrição
A composição assegura um produto saboroso, saudável e adequado para dietas veganas e com restrições alimentares.
“Promovemos a interação de conhecimentos técnicos e tradicionais para aumentar o valor agregado da produção artesanal e ocupar nichos de mercado específicos, como os de produtos associados à identidade sociocultural e os voltados para dietas com restrição de consumo de glúten e lactose”, pontua a pesquisadora Guilhermina Cayres.
Os testes de análise sensorial confirmaram a qualidade do hambúrguer.
A engenheira de alimentos Glória Bandeira, da UFMA, explica que foram avaliados aspectos como textura, sabor e aroma, garantindo que o produto atendesse ao paladar dos consumidores.
O sucesso foi imediato: as feiras de São Luís já registram grande aceitação do hambúrguer tanto entre veganos quanto entre consumidores convencionais.
Impacto social significativo

Coco de babaçu. Foto: Flavia Bessa/Embrapa
Mulheres da Cooperativa Mista da Agricultura Familiar e do Extrativismo do Babaçu (Coomavi) e de outras associações de quebradeiras de coco participaram ativamente do desenvolvimento e treinamento para produção dos novos alimentos. Samara Bontempo, bolsista do projeto, enfatiza que o conhecimento adquirido está ajudando essas comunidades a se tornarem mais autônomas e inseridas no mercado.
Para Rosângela Licar, da Coomavi, o projeto trouxe ganhos concretos.
“Os consumidores veganos estão adorando e os não veganos também. Estamos muito felizes com os resultados do tipo hambúrguer e da farinha da amêndoa”. Antonia Vieira, da comunidade quilombola Pedrinhas Clube de Mães, celebra a parceria: “Somos parte desse processo, muito rico para nós e para os pesquisadores. É uma troca maravilhosa”.
O professor Harvey Villa conclui que o projeto cumpre seu papel de aliar inovação e desenvolvimento social. “O hambúrguer é espetacular. As quebradeiras vendem o produto a um preço competitivo e os consumidores estão apreciando bastante”.
Westphalen Nunes, da Agência GIZ, destaca o impacto da valorização do babaçu.
“Geramos mais renda e qualidade de vida para as quebradeiras, mais opções de produtos sustentáveis para o mercado consumidor e mais riqueza para o Maranhão”. O sucesso do hambúrguer de babaçu reforça que a inovação aliada à tradição é um caminho promissor para a bioeconomia e o desenvolvimento sustentável.