Diretor do Imaflora traz um panorama de como a inovação promovida pela tecnologia tem impactado no segmento (Foto: Divulgação)
Com o avanço da tecnologia no campo, o produtor rural passou a ter acesso a mais dados sobre sua fazenda, porém, não basta ter apenas esses números, se estes não forem precisos e confiáveis para que possam embasar as melhores tomadas de decisões.
O conceito de tecnologia aplicada no agro engloba a aplicação de soluções e processos inovadores que otimizam cada etapa da cadeia produtiva, desde a escolha da área para plantio, os processos culturais e produtivos, até a colheita, no caso da agricultura e, no caso da pecuária, até a venda do animal.
O principal objetivo da implementação da tecnologia no agro é aumentar a eficiência dos processos produtivos e, consequentemente, aumentar a produtividade e melhorar a sustentabilidade nessa cadeia. Ou seja, não adianta ter processos tecnológicos super avançados se este não for sustentável do ponto de vista ambiental, social e econômico.
Essa é a avaliação do Diretor de Cadeias Florestais e Agropecuárias Responsáveis do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Eduardo Trevisan em entrevista concedida à Revista A Lavoura. Segundo ele, a importância dos avanços e aportes tecnológicos, não só para os produtores, mas também para os investidores do agro, é considerada fundamental, observando pelo ponto de vista de que essas inovações estão diretamente ligadas à mitigação de riscos e desperdícios nas atividades produtivas.
“Além de adotar novas tecnologias, também é preciso fazer uma análise de risco financeira, econômica e até do ponto de vista sócio ambiental, ou seja, avaliar se essas tecnologias vão trazer benefícios efetivos, tanto para os trabalhadores, para as pessoas envolvidas, para as comunidades e também para a questão ambiental e econômica do negócio”, complementa.
Impactos gerados pela adoção de novas tecnologias
Para o diretor do Imaflora, os aportes tecnológicos impactam de várias formas, como na agricultura de precisão, por exemplo, com seus sensores que vão permitir o diagnóstico da área para aplicação de insumos, fertilizantes, defensivos e afins, além de água, seu o uso e reuso, de forma correta, evitando os desperdícios, e reduzindo bastante os danos ao meio ambiente.
Além disso, na parte de impacto ambiental, ele cita a implementação da agricultura de baixo carbono, uma tecnologia bastante recente, que são práticas como ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), além do uso de bioinsumos, por exemplo, que vão ajudar na redução de emissão de gases, e consequentemente, permitir que a propriedade possa sequestrar mais carbono do solo.
“É preciso lembrar que esse carbono trará vários benefícios do ponto de vista da parte de fertilidade, biodiversidade do solo, o que vai ajudar na produtividade no futuro. Podemos destacar também o manejo integrado de pragas e doenças, onde essas tecnologias ajudam a controlar esses problemas de formas mais eficientes. Na parte da pecuária, a melhoria na questão da rastreabilidade, na porteira para dentro, facilitando que da porteira para fora ela possa chegar até o consumidor final, agregando valor ao produto”, lista.
Gargalos
Na avaliação do executivo, tanto as tecnologias quanto o conhecimento já existem para que essa evolução, de fato, aconteça, e muitos produtores já trabalham nesse sentido, então, qual é o grande desafio para aqueles que ainda não têm esse conhecimento e ainda não trabalham com esse aporte?
Segundo ele, é preciso ter acesso a prestadores de serviço, técnicos e agrônomos que possam levar esses conhecimentos e essas tecnologias para o campo. Além disso, também existem as necessidades financeiras, ou seja, de investimento. Para se desenvolver uma agricultura de precisão, por exemplo, é preciso investimento, como equipamentos específicos, sistemas de monitoramento, tratamento de efluentes, que também demanda investimentos.
“Então, hoje temos um desafio grande de acesso a crédito para o produtor, para que ele possa fazer esse tipo de investimentos e, com isso, transformar a cadeia produtiva de sua propriedade para um sistema mais sustentável”, pontua.
Ele considera que, nos últimos 25 anos, foi possível observar uma evolução gradual do agro, como um todo, nessa questão da produção sustentável. A preocupação com o meio ambiente e com a longevidade do negócio, trouxe essa preocupação maior com a responsabilidade ambiental e social, focados numa geração de renda com menos impactos.
“Ou seja, apesar de ainda termos muito produtores tradicionalistas e conservadores, uma boa parte já se deu conta que, para se manter competitivo no mercado, a adoção das novas tecnologias e a preocupação com uma produção mais sustentável é fundamental para a continuidade das atividades”, cita. “A tendência é que cada vez mais o setor agro precise trabalhar com a visão de que é essencial capacitar e profissionalizar seus colaboradores, para que ele possa ser rentável, produtivo e, principalmente, sustentável”, completa.
Apesar de um excelente nível de desenvolvimento tecnológico do agro brasileiro, na pecuária, por exemplo, há países bem mais avançados, como EUA e Nova Zelândia. Já na agricultura, esse ‘gap’ é um pouco menor. Porém, ele lembra que o Brasil talvez seja o país que mais tenha condições de evoluir em ambos os segmentos, não só no ponto de vista territorial, mas também por conta do apoio e empenho das instituições de pesquisa.
“O tema da tecnologia no agro está diretamente ligado às questões de análise de risco e de rentabilidade do negócio. Então, temos observado que muitas tecnologias que buscam trazer maior eficiência, com o menor uso de recursos (produtos químicos, insumos externos) têm proporcionado aos produtores técnicas de mitigação de riscos”, destaca Trevisan.