Com o reconhecimento, o produto será mais valorizado e os cafeicultores da região podem se beneficiar coletivamente
O café tipo arábica do município de São Sebastião da Grama que pertence à região cafeeira situada no lado paulista da Serra da Mantiqueira, é a mais nova Indicação Geográfica (IG) do país, na categoria Indicação de Procedência.
Com esse reconhecimento, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o Brasil chega à sua 124ª IG brasileira e à 17ª relacionada ao café.
Conhecido e premiado mundo afora pela produção de cafés especiais, o Vale da Grama concentra cerca de 300 produtores em uma área de produção de 6.700 hectares, com produção média de 154 mil sacas mensais.
O município de São Sebastião da Grama está localizado a mais de 1.000 m de altitude, com dias quentes e noites frias, o que implica numa maturação mais lenta, favorecendo a produção de café arábica de qualidade.
Esta é a oitava IG paulista, sendo a quarta de café do Estado. Agora, o Vale da Grama se junta ao Café da Alta Mogiana, Café da Região de Pinhal e Café da Região de Garça.
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Características marcantes
Hulda Giesbrecht, coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro do Sebrae, destaca que o produto da região paulista possui características cítricas marcantes, mantendo o equilíbrio e o sabor por um processo de cultivo em altitudes elevadas e maturação lenta.
Segundo informação da profissional, o Vale da Grama concentra cerca de 300 produtores.
“Essa é uma grande conquista para o Vale da Grama e vai ampliar a participação das origens controladas na produção nacional de café. A Indicação Geográfica vai agregar valor ao produto e proteger a cultura de plantio da região produtora”, afirma coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro do Sebrae.
Origem vulcânica
O servidor da Superintendência de Agricultura e Pecuária de São Paulo (SFA-SP), Francisco José Mitidieri, que tem acompanhado e apoiado os processos de indicação geográfica em andamento no estado, salienta que da região produtora do café Vale da Grama tem a fertilidade do solo relacionada à origem vulcânica.
“Isso confere ao café, além de notas cítricas, um sensorial de caramelo, com alto teor de doçura, corpo médio e finalização prolongada, devendo a bebida atingir no mínimo 80 pontos na tabela da Specialty Coffee Association (SCA) para levar o selo da Indicação Geográfica”, afirma.
Relação com o café
Mitidieri ressalta que a relação do Vale da Grama com a produção cafeeira é anterior à criação da cidade, que se deu em 1925.
Ele sublinha que o destaque da produção cafeeira da região é evidenciado pelas participações e premiações em concursos nacionais e internacionais.
“No ano passado, por exemplo, os cafés naturais da região ficaram em 1º e 4º lugar do Cup of Excellence, concurso que é considerado o Oscar dos Cafés Especiais. Já neste ano, no 4º Concurso do Terroir da Região Vulcânica, os produtores conquistaram sete troféus entre os cinco primeiros colocados em três categorias (café natural, cereja descascado e fermentado)”, informa.
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Premiações e reconhecimento
O superintendente da SFA-SP reforça que as premiações são fruto da dedicação dos produtores em cada detalhe da produção, com destaque para pós-colheita e secagem.
“Por ser uma região montanhosa, a colheita é quase toda manual, o máximo de automação possível é a utilização de derriçadeiras de café, as famosas mãozinhas mecânicas”, frisa.
Na avaliação do profissional, o registro do INPI chancela que a região tem tradição e know-how na produção de cafés especiais, iniciada na segunda metade do século 19, quando o clima ameno e as fontes de águas de qualidade atraíram as primeiras famílias de produtores. Nesse período, muitas famílias europeias, sobretudo italianas, imigraram para o Brasil, diversas delas tendo como destino a região do Vale da Grama, com o objetivo de cultivar café.
Turismo rural
De acordo com a Associação de Cafeicultores do Vale da Grama, antes mesmo da formalização da Indicação Geográfica pelo INPI, produtores da região já estavam se reunindo com representantes da gastronomia, hotelaria e artesanato para desenvolver ações que estimulem o turismo local.
Valdir Duarte, presidente da Associação, explica que esse movimento busca divulgar o café e formar a cultura da “Indicação Geográfica mais que café”.
“A Indicação de Procedência tem potencial para estimular a economia local, já que muitos turistas do Brasil e de outros países apreciam conhecer produtos com esse reconhecimento”, informa.
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Plataforma de rastreabilidade
Hulda Giesbrecht reforça afirmando que, com as IGs, os produtos são mais valorizados e as regiões produtoras podem se beneficiar coletivamente.
Ela explica que, para fazer a rastreabilidade dos produtos com Indicação Geográfica (IG) deste segmento, existe a plataforma Origem Controlada Café (https://origemcontrolada.agtrace.ag/ ).
“Esse sistema reúne e monitora dados sobre 15 IGs brasileiras de café, suprindo uma necessidade de mais de 100 mil produtores espalhados por 424 municípios. A partir dessa ferramenta, eles estão mais aptos a vender seus produtos internamente e para o mercado internacional”, completa a profissional do Sebrae.
Ela informa que fazem parte da plataforma as seguintes IGs: Alta Mogiana, Campo das Vertentes, Canastra, Caparaó, Chapada Diamantina, Espírito Santo (conilon), Mantiqueira de Minas, Matas de Minas, Matas de Rondônia (robusta amazônico), Montanhas do Espírito Santo, Norte Pioneiro do Paraná, Região de Garça, Região do Cerrado Mineiro, Região de Pinhal e Sudoeste de Minas.
Fontes: Sebrae SP, Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e Superintendência de Agricultura e Pecuária de São Paulo (SFA-SP)
Foto abertura: Sebrae SP