De aroma intenso, produzido nas montanhas mais altas do norte/nordeste brasileiro, onde o clima diferenciado de altitude associado a posição geográfica, contribuem para o cultivo do autêntico café artesanal
O café produzido na região da Chapada Diamantina acaba de receber o primeiro reconhecimento de Indicação Geográfica (IG) por Denominação de Origem (DO) do estado da Bahia.
O registro “Cafés da Chapada Diamantina” foi para os cafés produzidos em 24 municípios inseridos no Centro Sul baiano.
Com essa, sobe para 17 o número de Indicações Geográficas de regiões brasileiras produtoras de café registradas pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), sendo 10 de Indicação de Procedência (IP) e sete de Denominação de Origem (DO), mantendo o café como o produto que lidera o ranking de IGs concedidas.
Cadeia produtiva de café
Antonio Fernando Guerra, chefe-geral da Embrapa Café, isso se deve ao fato da cadeia produtiva de café estar cada vez mais se organizando em associações e cooperativas que buscam o apoio de instituições públicas como a Embrapa, as Universidades, as secretarias de Agricultura, as organizações estaduais de Pesquisa e de Extensão Rural e de entidades privadas como o Sebrae e Senar, dentre outras. “A conjugação de esforços e principalmente a organização dos produtores tem permitido que os Cafés do Brasil se destaquem não só pela produtividade, como também pela qualidade da produção e pelas características que os distinguem”, avalia.
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Participação dos cafeicultores
Para Sylvana Matsumoto, professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), que é uma das instituições participantes do Conselho Diretor do Consórcio Pesquisa Café, um dos pontos mais importantes no processo de obtenção da DO “Cafés da Chapada Diamantina” foi a participação dos cafeicultores, organizados junto às secretarias de agricultura dos governos municipais.
Ela avalia que a concessão do registro de DO, pelo INPI, e a possibilidade de a cafeicultura da Chapada compor a plataforma digital das IGs dos cafés, desenvolvida pelo instituto CNA, que permitirá a emissão do selo de rastreabilidade para a exportação, é uma grande oportunidade.
“A valoração do produto e o estímulo à organização dos produtores são fatores que contribuem para a permanência dos descendentes da cafeicultura baiana na região. Outro aspecto importante é o de que estas ações também favorecem o avanço da fronteira tecnológica em uma direção que valoriza a relação do fator humano dentro da cadeia produtiva do café”, ressalta.
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Indicações geográficas baianas
Hulda Giesbrecht, coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro do Sebrae, destaca que, atualmente, a Bahia possui cinco Indicações Geográficas, todas elas de Procedência (IP): Sul da Bahia (Amêndoas de Cacau), Região Oeste da Bahia (café), Microrregião Abaíra (Cachaça), Vale Submédio São Francisco (Uvas e Mangas) e Vale do São Francisco (vinhos e espumantes).
“Com registro do café da Chapada Diamantina, já são 130 IGs reconhecidas no Brasil, sendo 91 de Indicação de Procedência e 39 por Denominação de Origem (29 nacionais e 10 estrangeiras)”, reforça a executiva do Sebrae.
Marco para a região
Ela salienta que, assim como as IGs já vêm fortalecendo a reputação e a abertura de novos mercados, essa Denominação de Origem será um marco para a região da Chapada Diamantina. “Os produtores serão protagonistas de uma nova etapa de desenvolvimento local, com base nos diferenciais da bebida”, defende.
A coordenadora do Sebrae completa: “Eles beberão da mesma fonte que já temos trilhado com outras 14 regiões que já estão consolidadas, inclusive algumas acessando o mercado internacional”.
“Fatores humanos e ambientais do local fazem a bebida ter um sabor e propriedades únicas – encorpada, adocicada, com acidez cítrica, notas de nozes e chocolate, além de final prolongado. A partir de agora, os produtores locais se juntam a outras 15 IGs do produto no país”, acentua.
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Iniciativa
As Indicações Geográficas citadas pela Hulda se reuniram por meio do Instituto das Regiões Produtoras de Café do Brasil com Indicação Geográfica (IGs).
Segundo a profissional, a iniciativa é resultado do encontro dessas associações no projeto Digitalização das IGs de Café, plataforma que está sendo desenvolvida com o apoio do Sebrae, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e do Instituto CNA.
Variáveis humanas
Sylvana Matsumoto explica que o estudo “Café da Chapada Diamantina, Bahia: qualidade da bebida e relações com o meio ambiente”, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) foi a base para o reconhecimento da Indicação Geográfica.
De acordo com a professora, o texto aponta que o manejo pós-colheita e o saber-fazer local são as variáveis humanas relacionadas com a qualidade do café. “Isso porque quase toda a colheita é realizada de forma manual. Além disso, a altitude, a temperatura e a orientação da encosta em que o cafezal se desenvolve são variáveis ambientais que imprimem um sabor diferenciado ao produto”, sublinha Sylvana.
Sabor e propriedades únicas
Por sua vez, de acordo com informação da especialista, em estudo conduzido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a análise química demonstrou maiores teores de ácidos orgânicos e clorogênicos e, principalmente, de lipídeos, nos cafés da Chapada Diamantina, demonstrando um perfil químico característico, que os distingue de amostras provenientes de outras regiões da Bahia e do Brasil.
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Melhores cafés do mundo
Tadeane Pires Matos é agrônoma e trabalha na Fazenda que leva o nome de sua família, em Mucugê (BA). Ela também desempenha a função de presidente da Aliança de Cafeicultores da Chapada Diamantina.
A produtora ressalta o potencial que a certificação pode proporcionar para a região. “Esse selo garante para o nosso café produzido aqui, nesse pedacinho do paraíso que é a Chapada Diamantina, um grande reconhecimento. Além de ser um lugar exuberante de natureza, a Chapada é exuberante também em produção agrícola e nós, pequenos agricultores, podemos dizer que produzimos um dos melhores cafés do mundo”, destaca.
Ela conta que o Sebrae vem atuando junto à associação há seis anos até que a Indicação Geográfica fosse concretizada. “Foi um trabalho de incentivo, de fomento junto com as prefeituras dos municípios produtores de café. Creio que se inicia agora um tempo de muitas coisas positivas, de muito progresso, de muita valorização do nosso produto”, comenta.
Plataforma Digitalização das IGs
Em breve, a ferramenta vai reunir as informações sobre os sabores e as características singulares dos cafés especiais com origem controlada: procedência, aroma, cultura, terroir, qualidade, região de produção, se o produtor tem preocupações sociais e ambientais, além de possibilitar a rastreabilidade dos produtos.
A empresa Agtrace foi a empresa selecionada para desenvolver o sistema da plataforma de rastreabilidade das IGs de café.
Indicações Geográficas
As Indicações Geográficas (IG) são ferramentas coletivas de valorização de produtos tradicionais vinculados a determinados territórios. Elas possuem duas funções principais: agregar valor ao produto e proteger a região produtora.
O sistema de Indicações Geográficas promove os produtos e sua herança histórico-cultural, que é intransferível. Essa herança abrange vários aspectos relevantes: área de produção definida, tipicidade, autenticidade com que os produtos são desenvolvidos e a disciplina quanto ao método de produção, garantindo um padrão de qualidade. Tudo isso confere uma notoriedade exclusiva aos produtores da área delimitada.
Fontes: Sebrae e Embrapa Café
Foto abertura: Café da Chapada Diamantina (BS) –Divulgação