O aumento nas apreensões de vinhos ileahis no Brasil levou ao movimento “Invista na sua saúde, beba vinho legal”, que busca proteger os consumidores e valorizar a produção vinícola responsável no Brasil (Foto: CNA)
A crescente apreensão de vinhos ilegais no Brasil, associada à proliferação de produtos sem procedência nas redes sociais, motivou o lançamento de um movimento nacional nesta quarta-feira (2), durante a ProWine São Paulo.
A iniciativa, liderada pela Câmara Setorial de Viticultura, Vinhos e Derivados e apoiada por diversas entidades setoriais, tem como objetivo conscientizar os consumidores sobre os riscos do consumo de vinhos ilegais e a importância de adquirir produtos com procedência garantida.
O slogan da campanha é direto: “Invista na sua saúde, beba vinho legal”.
Segundo Luciano Rebellatto, presidente do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS), o mercado ilegal de vinhos “traz prejuízos significativos à economia, devido à concorrência desleal e à evasão fiscal, além de representar sérios riscos à saúde do consumidor”.
Os números falam por si: em 2018, foram apreendidas 45.805 garrafas de vinhos ilegais, no valor de R$ 4,1 milhões. Esse número saltou para 627.961 garrafas em 2023, com um valor estimado de R$ 59,65 milhões, de acordo com dados da Receita Federal.
A presidente da Câmara Setorial de Viticultura, Vinhos e Derivados e do Sindvinho MG, Heloisa Bertoli, destaca que o combate ao mercado ilegal vai além de questões econômicas, envolvendo responsabilidade social e a saúde pública.
“Precisamos conscientizar a população sobre os riscos associados ao consumo de vinhos de procedência não garantida e incentivar uma cultura de valorização da produção legal”, afirma Heloisa.
Consequências econômicas e riscos à saúde
As principais rotas de entrada desses produtos ilegais no Brasil estão nas fronteiras secas da Região Sul. A não arrecadação de impostos gerada pelo contrabando de vinhos já causou uma evasão fiscal superior a R$ 1 bilhão.
Para Luciano Stremel Barros, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), esse mercado “brinda a violência e enche os bolsos dos criminosos”.
Além das questões econômicas, o consumo de vinhos ilegais pode colocar em risco a saúde dos consumidores, já que esses produtos não passam pelos rigorosos controles de qualidade estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
A doutora em biotecnologia Fernanda Spinelli reforça o alerta. De acordo com ela, vinhos de origem duvidosa podem conter ingredientes tóxicos e substâncias nocivas.
Além disso, a falta de controle no transporte e conservação desses produtos pode causar oxidações e outras alterações que comprometem a qualidade do vinho.
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Como detectar fraudes
Os consumidores devem estar atentos aos rótulos dos produtos. Vinhos importados de forma legal devem trazer informações como contrarrótulo em português, número de registro no Mapa e os dados do importador e exportador.
Vinhos que apresentam contrarrótulos em línguas estrangeiras, sem essas informações, são fortes indicativos de importação ilegal.
Métodos científicos, como cromatografia líquida, gasosa e ressonância magnética nuclear, são empregados para detectar adulterações nos vinhos, como a adição de fermentados de outras frutas, açúcar ou até mesmo água, o que pode não gerar riscos diretos à saúde, mas engana o consumidor sobre a composição real do produto.
Como denunciar
Caso encontre vinhos ilegais sendo comercializados, o consumidor pode denunciar ao Mapa ou à Receita Federal, que tem a autoridade para aplicar sanções como o perdimento de mercadorias. Denúncias também podem ser feitas pelo portal Fala.br.
Os dados de apreensões de vinhos no Brasil mostram uma escalada preocupante:
2018: 45.805 garrafas, R$ 4,1 milhões
2019: 87.575 garrafas, R$ 7,8 milhões
2020: 280.044 garrafas, R$ 24,96 milhões
2021: 595.239 garrafas, R$ 62,1 milhões
2022: 602.169 garrafas, R$ 57,2 milhões
2023: 627.961 garrafas, R$ 59,65 milhões
Fonte: Consevitis-RS